"Tentava escrever mas eu nunca consegui achar uma caneta"— Tem certeza que isso é seguro? Eu não sei se a gente deveria arriscar. — digo preocupada colocando o óculos escuro que o mesmo me entrega no rosto.
— Fica tranquila Ashlee, eles nem vão perceber. — ele diz sorrindo me entregando um bastão.
Bom era a vez do Kile decidir o nosso passeio, ele me trouxe a um passeio de sensações; é um evento feito especialmente para deficientes visuais, eles fazem um passeio por um grande museu e tocam nas coisas (que as pessoas sem deficiência não podem tocar na visita), foram essas as informações que o Kile me deu até agora, na verdade a entrada de pessoas sem deficiência visual é proibida por isso o Kile teve a brilhante ideia de fingirmos que eu sou cega, doideira não? Eu também acho, na verdade acho que vamos parar na cadeia.
Kile puxa meu braço com sua mão livre, enquanto eu bato o bastão descontroladamente no chão seguindo as direções do mesmo.
— Bom dia, sejam muito bem vindos ao passeio de sensações! Durante o percurso será ouvido uma gravação que explica exatamente de onde vem tudo que tem lá. Vocês gostariam de pedir um monitor pra ajudar vocês lá dentro? — o moço que está na entrada nos diz simpatico.
— Não muito obrigado, vamos entrando. — Kile diz e o moço abre espaço para nós passarmos.
— Aproveitem o passeio! — o outro diz.
Caminho junto de Kile sem saber ao certo se eu devo guia-lo ou deixar ele me guiar. Olho tudo atraves do escuro do óculos e deixo escapar um "uau" por conta da beleza do lugar.
— Ei vem cá! — Kile me leva perto de um dos objetos em exposição. — Feche os olhos e curta o momento, você é uma cega hoje.
— Tudo bem. — fecho meus olhos e vou aproximando minha mão do objeto até toca-lá. — Ai meu Deus isso é muitos legal.
— Superficies asperas como essas são as que mais estimulam nossas sentidos, simplesmente por conta da espessura. — Kile me explica.
— Eu não discordo nem um pouco. — sorri ainda passando a mão pelo objeto.
Caminhamos pelo corredor com objetos asperos, seguindo pelos lisos e depois os rugosos, eu nem sabia que a sensação de colocar as mãos em superficies diferentes era tão maravilhosa, sei lá quando a vemos a emoção não é mesma, de olhos fechados tudo se intensifica. Seguimos para o próximo corredor as suaves.
— Essa era minha parte favorita do percurso quando eu era criança. — Kile diz animado passando as mãos pelo objeto. — Eu amava notar a diferença entre liso e suave.
— Ah e você pode me explicar? — sorriu passando as mãos também enquanto permaneço de olhos fechados.
— Suave refiere a aquella textura que impresiona poco al tacto y liso es algo que directamente no presenta alteraciones, protuberancias o depresiones, en su superficie. — Kile fala em espanhol me fazendo rir, mas foi um riso de confusão.
— Uau agora você deu de falar espanhol? Desculpa te decepcionar mas eu não sou bilingue também. — o mesmo ri.
— É porque essa era a explicação que davam no livro em espanhol sobre texturas que minha mãe lia pra mim na infância. — ele diz. — O livro chama "suave y liso, àspero y rugoso".
— Talvez eu devesse procurar para ler esse livro. — sorriu.
— A textura suave é aquela que não impressiona o nosso tato, é como se não nos despertasse nada, senti... — ele procura minha mão e quando a encontra passa pelo local.
— Uau você tem razão!
— O liso já ele, ele simplesmente é uma supercifie sem nenhuma alteração completamente reta, é isso. — ele solta um riso pelo nariz.
— Obrigada pela explicação professor. — digo sorrindo. — Você vinha bastante pra cá quando menor.
— Sim esse evento acontece anualmente minha família não perdia um. — ele diz. — Era divertido eu não tinha muita paciência pra ficar fazendo isso então eu saia correndo com o Billy.
— Billy? Não sabia que você tinha um irmão. — digo.
— E eu não tenho, Billy era uma raposa de pélucia que eu tinha, levava ele para todo lugar nos divertiamos muito juntos eramos parceiros de crime. — ele diz e eu riu.
— Gostaria de ter conhecido o Billy poxa.
— Vocês iam se dar bem, me deixariam de lado. — ele diz e nos rimos.
— Bom eu também tinha uma pélucia quando eu era criança. — digo. — Mas era um ursinho.
— Credo Ashlee como você é sem graça.
— Como assim? Porque?
— Qual é isso é a coisa mais cliche e comum do mundo, todo mundo tem um ursinho de pélucia não me impressionou. — ele diz e eu bato no ombro do mesmo.
— Nem todos pensam em ter uma raposa é um animal muito sem graça. — faço uma careta e o mesmo ri na minha frente.
— Ta legal britânica chata, não ta mais aqui quem falou. — ele diz.
Abro o olhos por um instante só para poder observar o mesmo, seu rosto, detalhes e feições tão mais suaves do que aquele objeto que eu tocava, sorriu simplesmente por vê-lo sorrir.
— Ei Ashlee! — ele me chama e eu tomo um susto fechando meus olhos rapidamente.
— O que foi? Eu estou de olhos fechados o tempo todo, só sentindo. — digo rápido e me embaralhando nas palavras.
— Eu não disse nada. — ele ri vendo meu nervosismo. "Droga!" eu penso. — Só queria que descrevesse o céu pra mim, ainda não fez isso hoje.
— Mas estamos em um lugar fechado eu não consigo ver o céu. — digo. — Posso fazer isso quando sairmos.
— Não, faça agora. — ele me diz. — Já que não pode vê-lo imagine e me descreva o seu céu. Quero saber o quão bonito ele é.
— Ta tudo bem. — respiro fundo. — Bom ele é claro, tão claro que quando olhamos pra cima temos que fechar um pouco os olhos pra enxerga-lo. O sol é brilhante, mas não forte e não nos incomoda, ele só aquece o calor humano. As nuvens estão abertas e são branquinhas como pedaços de algodão. Ele é... — me interrompo abrindo os olhos novamente observando Kile que parece atento no que eu digo. Sorriu vendo a cena. — Lindo completamente lindo, não há nada melhor do que passar horas olhando pra ele, transmite paz.
— Uau! — ele diz por fim. — Espero que todos nós tenhamos a chance de morrer e voltar a viver sobe esse céu.
— É, eu também espero. — sorriu de canto e continuamos seguindo nosso passeio.
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saturn
Romance"- Então todos os dias nós olhávamos pro céu e ele me descrevia como estava, assim eu conseguia enxerga-lo de alguma forma. Já fazem dois anos que eu não faço ideia de como o céu está. - Eu posso fazer isso." A vida de Ashlee muda completamente quan...