"Sempre me explicando quão raro e belo é apenas o fato de existirmos."
O ônibus balançava a cada vez que passavamos por uma lombada, as crianças pareciam animadas e gritavam a cada um, eu somente segurava firme no braço de Kile com medo de que ele pudesse cair, mesmo que eu propositalmente tenha o deixado sentar ao lado da janela.
Era a minha vez de um leva-ló para algum lugar, e eu estava mais animada do que normalmente porque esse passeio fazia muita parte da minha rotina, era engraçado pra mim pensar que ele aos poucos estava fazendo parte da minha vida. Não consegui deixar de sorrir com esse pensamento, eu realmente o queria nela.
— Então nos vamos comprar fantasias? — Kile pergunta quebrando o silêncio entre nós.
— Sim, logo será o Halloween e as crianças precisam de fantasias legais. — eu sorri. Ele também o fez.
— Estou feliz de estar aqui com você e os seus alunos. Eu amo crianças!
— Tenho certeza que elas também vão amar você. — eu sorri de canto.
Levaram mais alguns minutos até chegarmos ao local e o ônibus parar. Foi uma dificuldade, como sempre eram em excursões, tirar todos do ônibus e mante-las em ordem antes de entrarmos na loja.
Eu já havia contado a elas sobre Kile, que ele viria com a gente e sobre a deficiência dele, deixei claro à elas não o tratarem com indiferença e muito menos fazerem perguntas incovenientes. Pelo contrário elas estavam até sendo muito gentis e pareciam animadas com a presença dele.
— Eu posso te ajudar a entrar na loja? — Callie, uma das alunas perguntou a Kile. — Você pode segurar minha mão pra não cair.
— Sou eu quem vou ajudar o tio Kile, sou bem mais forte que você. — Richard retrucou enchendo o peito.
— Nem vem eu pedi primeiro. — a outra falou mais alto.
— Professora! — os dois exclamaram em unssolo se virando pra mim, antes de começarem a falar um em cima do outro e eu não entender nada.
— Ei ei ei sem briga crianças, parem com essa discussão. — digo.
— Meus dois olhos não funcionam, mas eu tenho dois braços ótimos, o que significa que os dois podem me ajudar. — Kile diz esticando seus braços e cada um segura em uma mão do mesmo.
— Obrigada! — digo para o mesmo e sorriu.
— Caramba suas crianças são incriveis, eu poderia fazer isso o dia todo. — ele diz me fazendo rir.
— Boa sorte então, rockstar.
Seguimos entrando na loja de fantasias, o dono da mesma foi super atencioso e educado em nos receber, explicou tudo e o que poderiamos encontrar, quando ele liberou para que fossem procurar todas as crianças sairam correndo pela loja. Segui com Kile até um dos lugares que me dava uma visão ampla de todos na loja.
— Ei Harry, Gwen, não corram.
— Precisa começar a procurar uma fantasia, britânica chata. — Kile disse mexendo aleatoriamente nos chapeus a sua frente. Não sei se ele sabia no que estava mexendo.
— Nós precisamos. — corrigo o mesm. — Você ta mais que convidado para a festa na escola.
— Ah, isso é bom. — ele sorriu. — Sendo assim precisamos de uma fantasia combinando então, isso sempre acontece nos filmes.
— Clichê! — exclamo soltando um riso nasal.
— Todo mundo gosta de clichês, é por isso que se chamam clichês. — ele deu de ombros.
— Tudo bem espertão então o que seria?
— Jogador de futebol e líder de torcida? — ele falou rindo e eu dou um tapa no braço dele.
— Agora você já passou dos limites. — respondo rindo.
— Fala um filme que você gosta, podemos ir de algum casal dele. — Kile sorriu de canto.
— Titanic é o meu filme favorito.
— Clichê! — ele imitou a minha voz e eu faço uma careta.
— Momento erradissimo para desrespeitar o romance do milênio. — digo.
— Por mim tudo bem se formos de Jack e Rose, pode ser legal. — ele diz e eu sorriu tentando esconder a animação. — Mas eu não vou ficar loiro.
— O Jack é loiro essa é a essencial, assim não tem graça. — dou de ombros. — Você pode usar uma peruca.
— Peruca, Ashlee? Isso é sério? — ele arqueoou a sobrancelha. — Quando eu me fantasio quero uma coisa bem feita.
— Tudo bem gênio supremo das fantasias, você pode ser o Jack moreno. — dou de ombros.
— Ei tio Kile, tio Kile. — uma das meninas puxa a camisa dele. — Será que você não pode ajudar eu e a Mary a decidirmos nossas fantasias?
— Você não quer que eu vá, querida? Posso te ajudar. — digo.
— Er. — ele resmunga e faz uma careta engraçada. — É que a gente queria a ajuda do tio Kile.
— Ah tá, tudo bem então. — digo sem graça enquanto Kile gargalha do meu lado.
— Em menos de três horas com seus alunos fiz eles gostarem mais de mim do que de você. — ele provocou e eu reviro os olhos.
— Sai daqui antes que eu quebre seu nariz perfeito. — digo e ele sai rindo. Observo a cena sorrindo de longe.
O resto do dia foi divertido, todo mundo comprou suas fantasias e as crianças amaram o Kile, ele realmente levava jeito pra coisa, era fofo ver duas partes da minha vida se encontrando e se dando tão bem. Eu poderia tomar meio galão de água por tamanha felicidade.
— Ei pessoal antes de entrarmos no ônibus quero que façam uma coisa pra mim. — Kile diz assim que saimos da loja. — Como vocês sabem eu sou cego, e não consigo enxergar o quão bonito são as coisas ou até mesmo vocês, porque devem ser lindos...
— Eu sou loira. — Callie diz levantando as mãos e todos riem.
— Eu adoro loiras. — ele diz soltando um riso nasal. — Mas então como vocês todos tem um par de olhos maravilhosos, será que não poderiam descrever como o céu está pra mim? Por favor.
Eu não vou chorar, eu não vou chorar, repeti mentalmente pra mim mesma.
— Ta azul claro, ta muito claro até dói meu olho se olhar muito tempo. — Richard começa.
— Tem muitas nuvens, até tem uma em forma de morango. — Katherine continua.
— E o sol ta olhando pra gente agora, bem quentinho. — é a vez de Callie.
— Olha lá tem um passarinho. — Gwen diz animada como se fosse a primeira vez que visse.
E assim eles continuam falando sem parar, um em cima do outro e descrevendo do jeitinho deles. Olho pra Kile e vejo o semblante radiante do mesmo,junto a empolgação evidente das crianças. Eu não consegui segurar.
— Preciso ir ao banheiro, segura pra mim por favor. — digo em um fio de voz pra ajudante entregando as sacolas pra ela.
— Ta tudo bem,Ash? — ela pergunta e eu nem consigo responder.
Em passos rápidos corro até o banheiro onde começo a chorar como um bebê. Eu estava tão feliz e tão emocionada que não pude evitar as lágrimas. Caramba esse tinha sido um dos melhores dias de toda a minha vida.

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saturn
Romance"- Então todos os dias nós olhávamos pro céu e ele me descrevia como estava, assim eu conseguia enxerga-lo de alguma forma. Já fazem dois anos que eu não faço ideia de como o céu está. - Eu posso fazer isso." A vida de Ashlee muda completamente quan...