A casa de Louis era velha e nada acolhedora. Aquele lugar não parecia um lar - Era frio e sem vida. Ele não exagerou quando disse ter adotado a simplicidade como estilo de vida. Amira não gostou de se hospedar naquele lugar, mas tentou disfarçar o seu desagrado. Tomou uma ducha e foi dormir um pouco. A viagem não havia sido agradável, o cansaço era maior que a sua frustração pelo lugar.
Quando acordou, percebeu que seu Colibri estava na varanda da casa, fumando um cigarro. Isso sim, a incomodava muito mais do que a sua nada acolhedora hospedaria. Ela sentou ao seu lado e conversaram um pouco.
Estava anoitecendo e Louis a convidou para irem jantar e um restaurante na cidade para celebrarem o encontro dos dois. Amira preferiu ficar em casa e propôs fazerem o jantar juntos, beber um vinho e comemorar ali mesmo. Foram sete meses de relacionamento virtual, eles precisavam de um tempo a sós, aquilo tudo era novo para os dois. Ela não queria ter que esperar por uma mesa livre, ou estar em um lugar cheio de gente estranha, o barulho... Louis entendeu e concordou com os seus argumentos. Ele teve outros relacionamentos virtuais, um deles durou cerca de dois anos, mas nunca houve o encontro físico. Para Amira, tudo era novidade e isso a fascinava. O jantar foi maravilhoso, eles comeram e beberam bastante vinho.
A casa não tinha televisão e Louis sugeriu que assistissem a um filme em seu computador. Ele tinha uma galeria de filmes em seu computador, mas apenas um era dublado em inglês, os demais, em francês. Louis era um franco-português e tanto seu telefone móvel quanto o computador estavam programados com o idioma de seu país de origem, a França. Foi uma estratégia para ele não esquecer o idioma. Por isso, apesar de morar em Portugal a quase vinte anos, falava e escrevia a sua língua natal perfeitamente.
O filme estava na metade do tempo quando decidiram dormir e antes que o sono os dominassem, o inevitável aconteceu. Estava uma noite quente. Após alguns beijos cheios de paixão, cederam ao desejo de seus corpos e fizeram amor. Foi uma noite linda e inesquecível para os dois.
Ao acordar, Amira percebeu que não era um sonho, apesar de ter a sensação de estar flutuando. A Andorinha estava batendo suas asas feliz, muito feliz. Após o café da manhã, quase ao meio-dia, foram passear de carro pela cidade, a região onde Louis vivia tinha muitas praias e belas cachoeiras. Tudo era lindo, as cidades eram muito próximas uma das outras e a arquitetura do lugar encantava os olhos. Louis não gostava da agitação que o verão trazia e Amira entendeu perfeitamente o por quê - Filas para tudo, engarrafamentos, bares e restaurantes cheios, muita gente nas ruas, buzina de carros e muito barulho. Após sentir tudo isso na pele, realmente, o melhor lugar é a nossa casa, no caso dele a sua casinha.
O segundo dia juntos, foi marcado pelo primeiro sinal de que havia algo muito estranho com Louis. Amira subiu numa pequena colina com uma vista linda para o mar, ela aproximou-se de seu amado e foi fazer uma selfie dos dois. Um tipo de foto muito comum entre casais apaixonados, mas para a sua surpresa, Louis disse que não faria fotos ao seu lado. Aquelas palavras somadas ao tom de voz e a sua reação, deixaram uma "pulga atrás da orelha" da bela e intrigada Amira, que apesar de decepcionada tentou entender os seus argumentos do seu passarinho preferido. Mas o episódio da selfie desceu amargo como fel e atingiu duro como uma pedra o seu coração. Decepcionada, ela fez as fotos sozinha e sem graça, havia perdido até a vontade de sorrir. Ela não conseguia entender a reação daquele homem com quem passou sete meses trocando juras de amor eterno e ainda mais depois da maravilhosa noite que passaram juntos.
Perto dali havia um restaurante e por sorte algumas mesas livres. Sorte para a pobre Andorinha? Não! Os garçons eram jovens, a maioria deles migravam no verão para aquela região a fim de ganhar um dinheirinho extra pois o número de turistas aumentava muito. O jovem que os atendeu era forte e bonito, Louis foi bastante simpático com o rapaz.
- Desejam beber algo enquanto esperam o pedido ficar pronto? Perguntou o rapaz a Amira.
- Sim, duas cervejas. Respondeu Louis e completou com uma pergunta um tanto intrigante.
- Eu te conheço. Você é Fulano.
O rapaz respondeu educadamente dizendo que não era a pessoa a qual Louis se referia e que não conhecia ninguém com aquele nome.
Até aí tudo parecia normal, se é que pode-se dizer isso depois do episódio da selfie. O rapaz trouxe as bebidas e Louis o olhou fixamente nos olhos. Aquela cena nunca saiu da mente de Amira. Ela que ainda tentava entender porque Louis não quis ser fotografado ao seu lado, agora o que pensar daquele homem? Ele estava literalmente paquerando o garçom do restaurante. A fome sumiu e deu lugar a vontade de sair daquele lugar.
Ao mesmo tempo em que Amira pediu para Louis para de "paquerar" o rapaz, o serviço de nossa mesa passou a ser executado por uma jovem. Foi constrangedor! Louis parou de olhar o rapaz e pegou na mão de Amira que em seus pensamentos desejava enfiá-la em sua cara cínica para ver se ele aprendia a ter respeito não só por ela, mas pelo coitado do rapaz que foi assediado.
Amira, pediu um prato e Louis outro, ela quase não tocou na comida. Mas ao sair dali já tinha em mente que príncipe encantado não existe e que definitivamente se houver encontro entre almas gêmeas com certeza Louis não era a sua.
No carro a caminho de casa, ela não estava com o mínimo de vontade de fingir que aquilo não tinha acontecido. Louis parou o carro, e percebendo a sua indiferença tentou explicar.
- Algum tempo atrás, antes de nos conhecermos, eu costumava frequentar uma boate de público gay e tinha certeza que o rapaz era frequentador da mesma boate.
Amira sabia dos envolvimentos de Louis com outros homens e mesmo assim viajou ao seu encontro. Ela disse que se sentiu ofendida e que achou aquilo uma falta de educação e respeito.
- Quando estiver comigo, não faça mais isso.
- Sim, não farei.
Quando olho para a minha vida e lembro-me dos meus cacos espalhados pelo chão, consigo entender porque eles (cacos) ainda estão presentes em minhas lembranças mais dolorosas. Eu gostava de me doar por inteiro ao outro, para poder me encaixar debaixo de dois braços que pudessem ser meu abrigo, o meu lar.
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Dezoito
Romance"Somos, na vida presente, o resultado das impressões mais marcantes de nossas vidas passadas." Você acredita que as energias que emana ao mundo podem voltar para você? Crendo ou não nisso, é bom pensarmos constantemente nas consequências dos noss...