Capítulo 5

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CAPÍTULO 5

QUANDO ACORDO NA MANHÃ SEGUINTE, a eletricidade ainda não voltou. Aos

poucos, sou tomada por uma ansiedade crescente — é assim que

começa, é assim que tudo começa a desmoronar. Se meus avós também

se sentem dessa forma, não demonstram logo de cara. Vovó Clarissa

senta bem ereta à mesa da cozinha, comendo uma toranja e folheando a

seção de artes de um jornal de duas semanas atrás. Irritado, vovô Grant

resmunga sobre o governo, a companhia elétrica, Beaton Frick — todas

as forças que se uniram para criar essa inconveniência. Ele sai de casa

mais para o fim da manhã, dizendo que precisa dar uma aula à tarde, na

universidade. Então volta uma hora depois, surpreso com o fato de as

aulas estarem suspensas até segunda ordem. Minha avó começa a ficar

irritada. Ela me vê sentada perto de uma janela e me faz sair de lá.

— Se começar um motim, você pode ser atingida por uma bala

perdida — explica.

No jantar, vovó serve sopa enlatada morna. Quando meu avô reclama,

ela finalmente perde a paciência.

— Pelo amor de Deus, Grant, talvez a gente precise racionar! — grita

para ele, que termina o resto da sopa em silêncio, de olhos arregalados.

No meio da noite, acordo com o zumbido da energia elétrica. O rádio-

relógio ao meu lado se acende, "12:00" piscando na tela. Isso não me

conforta — assim como os motoristas sorridentes de Pittsburgh, esse

toque de normalidade parece surreal, desmerecido. Me faz pensar que

as coisas estão ainda piores do que eu imaginava.

Quando acordo, algumas horas depois, entro na sala de estar e

encontro meus avós na frente da tevê. Estão assistindo a uma coletiva de

imprensa com um homem careca e atarracado usando terno cinza-

escuro. A legenda na parte de baixo da tela diz: Ted Blackmore: porta-

voz da Igreja Americana.

— É claro que é preocupante — diz ele, a voz calma e imponente. —

Estamos todos preocupados. Mas meu antecessor, o abençoado Adam

Taggart, deixou instruções bem claras: a única coisa que podemos fazer é

continuar seguindo o Livro de Frick. Vocês realmente acham que Deus

gostaria que acabássemos com a economia do país? Quando nosso

alicerce capitalista é um dos motivos pelos quais Deus ama tanto a

América? Se acham isso, meus amigos, lamento, mas sou obrigado a

questionar a devoção de vocês, para início de conversa. Nem tudo está

perdido. Vão para o trabalho, vão para a Igreja, sejam melhores. Isso

Vivian Contra o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora