Capítulo 11

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CAPÍTULO 11

QUANDO ACORDO NA MANHÃ SEGUINTE, Edie está dormindo abraçada a mim, e o

sono lhe deixa com uma aparência angelical. Peter e Harp sumiram. Eu

me sento e reparo que Harp está parada em frente à janela, roendo as

unhas e espiando por trás da cortina. Acena para que eu vá até ela.

Tenho que passar por cima de Peter, que deve ter caído da cama durante

a noite e não acordou, ou simplesmente decidiu continuar no chão.

Resisto ao impulso de me sentar na beira da cama e observar seu rosto

enquanto ele dorme — o contorno escuro dos cílios longos formando

semicírculos, os lábios entreabertos, a sombra escura de uma barba rala.

Ando até a janela, e Harp abre um pouco mais a cortina, para que eu

veja o lado de fora.

— É um milagre de Natal — sussurra ela.

Lá fora, a neve cai suavemente no estacionamento. Dá para ver o

Sedan dos meus avós onde o deixamos, coberto por uma fina camada

branca. Estamos no meio de maio. Não sei muito sobre o clima de Des

Moines, mas suspeito que isso não seja normal.

— Tive que levantar. Ela reza até dormindo. — Harp balança a cabeça

em direção à cama, indicando Edie. — Tem um limite para o número de

Pais-Nossos que uma garota pode aguentar.

— Harp — começo —, quer falar sobre ontem?

Ela dá de ombros, observando a neve cair.

— Na verdade, não. Sei que estou sendo um saco, mas Edie não me

incomoda. E fico feliz de verdade por ela não estar mais morando no

estoque do BurgerTime.

— Não isso. — Não consigo evitar o sorriso nervoso que se forma em

meu rosto, porque estou tentando fazer com que não pareça uma

intervenção. — Estou falando da garrafa de vodca.

Harp demora um tempo para responder. Ela cutuca uma unha,

pensativa.

— Eu estava surtada, falou? Aquele tijolo me deixou meio pirada. E

essa viagem também.

— Você podia ter dito alguma coisa. Podia ter bebido toda a vodca que

quisesse, mas devia ter me avisado.

— Sei lá, Viv. — Ela solta um suspiro. — Segundo a nossa tradição, é

você quem fica num canto encolhida em posição fetal enquanto eu vou

na frente, e fico resolvendo as merdas. Não estou dizendo que tem sido

ruim deixar você tomar as rédeas, mas é que ao mesmo tempo é um

pouco constrangedor. É um pouco constrangedor me sentir tão

apavorada, pequena e incapaz.

— Eu sei.

— Eu sei que você sabe. E não me entenda mal. Adoro a Vivian 2.0. Ela

é cabeça-dura e decidida. Ela é foda. Mas estou começando a pensar se

Vivian Contra o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora