Capítulo 9

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CAPÍTULO 9

— MANDOU BEM, APPLE — comenta Harp alguns minutos depois. Estamos do

lado de fora do prédio de Peter, esperando ele arrumar suas coisas. — A

velha tática de "convidar o cara bonitinho para atravessar o país de

carro mesmo tendo acabado de conhecê-lo". Eu devia ter imaginado.

— Harp...

— A clássica: "nem pergunte primeiro o que sua melhor amiga acha

disso, mesmo que ela a acompanhe na viagem e não esteja muito a fim

de segurar vela" — interrompe ela. — Executada com primor. Nota

máxima, um plano espetacular.

— Harp, pode ser o pai dele. Não entende?

— E aqui está a "velha e ardilosa Apple", com a desculpa do "pode ser

o pai dele" e a abordagem "você vem"?

— Harp, é sério. — Sei que ela está realmente irritada por baixo de

todo o sarcasmo, e não a culpo. Eu não segui o código, coloquei os bros

antes das hos, e agora ela será forçada a testemunhar sabe-se lá quantos

dias de meu jeito desajeitado e constrangedor na frente do Peter. Mas,

no ano passado, nós duas fomos a inúmeras festas em que Harp sumiu

pelos quartos com algum garoto, enquanto eu ficava sentada e bebia

cerveja constrangida na cozinha, morrendo de medo de que ela acabasse

sendo ferida ou crucificada. Então não vou ficar me martirizando por ter

convidado Peter para ir com a gente. E, de qualquer forma, estou

nervosa. — Já entendi, mas por enquanto dá para prestar atenção lá

fora?

Gostaria de dizer a ela que não tenho a menor chance. Não é como se

eu não estivesse decepcionada. Sempre fui invisível para os caras de

quem gostava, é o superpoder que nunca quis, mas com o qual tive que

aprender a conviver. Antes do Arrebatamento, isso me incomodava

mais, especialmente quando eu olhava para os meus pais, tão felizes, tão

dependentes um do outro, tão apaixonados, mesmo depois de mais de

vinte anos juntos. Eles eram pouco mais velhos do que eu quando se

conheceram, o que significa que os dois deviam ter a habilidade de ser

notados. Eu sempre me perguntava como tinham conseguido e por que

não passavam o conhecimento adiante. Mas agora as coisas mudaram.

Não sei quanto tempo ainda me resta. E, embora isso tenha me ajudado

a ser menos dócil do que antes, também me deixou com preguiça desse

tipo de coisa. Não vou passar os próximos quatro meses sofrendo porque

Peter não lembrava que me conhecia, não se lembrava nem mesmo de

não ter gostado de mim. Não vou pensar em como ele é mais maduro do

que eu: é literalmente um adulto, tem 18 anos, e se tornou órfão há

Vivian Contra o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora