3 || A Carta

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Acordo com os olhos inchados, por isso, mal consigo abri-los. Ao fim de algum tempo, já vejo bastante decentemente e reparo que a minha mãe está ao meu lado na cama e a almofada que está a usar, uma decorativa da minha cama branca tem escrita a palavra "LOVE", está molhada.

Seguindo todas estás pistas, creio que a minha mãe e eu adormecemos a chorar, que eu adormeci primeiro, dado o facto de que a minha almofada está seca e a minha mãe adormeceu bastante recentemente, ainda a chorar.

Não me consigo lembrar do que se passou, porque provavelmente, chorei por causa dos meus motivos e não por causa dos da minha mãe.

Tentei reconstruir a noite antes da minha mãe acordar.

• 11 horas antes •

Alcanço a maçaneta da porta do meu quarto, quando me apercebo de que a minha mãe se calou.

Sinto-me um pouco culpada pelo facto de a ter deixado a falar sozinha, por isso, regresso à cozinha e encontro a minha mãe, Rachel Mars, a chorar.

Nunca assisti a um momento deste antes, por isso não sei bem o que fazer, mas esforço-me ao máximo para não a deixar a chorar sozinha, por isso, abraço-a e ela começa a chorar mais e mais alto.

O que é que fiz eu para ter que consolar uma mãe inconsolável?!

- O que é que se passa? - pergunto-lhe.

- Nada, querida. - mal consigo perceber o que ela diz.

- Oh mãe... Estás a chorar como nunca te vi antes e dizes-me que não se passa nada... Isso não faz sentido - afirmo, com medo de ferir os seus sentimentos.

- Diana, ando comigo para o sofá.

Sigo-a para o pequeno, mas confortável sofá e sentamo-nos uma ao lado da outra. Ainda não a soltei do meu abraço, o que se está a tornar muito desconfortável, mas tenho medo do que possa acontecer se a largar: ela pode chorar ainda mais ou ainda mais alto, por isso, mantenho-me como estou.

Ela vira-se para mim e abre a boca para falar.

É agora que vou saber o que se passa, o que está a dar à minha mãe, que nunca chora, nem nunca chorou, razões para chorar.

- Diana, recebi uma carta hoje à tarde, antes de chegares. Eles... Eles nomearam-te para os Jogos Olímpicos.

O meu coração para, assim como o meu cérebro e os meus sentimentos.

Isto é demais. Não sei o que sentir. Fico felicíssima sabendo que fui nomeada, porque este seria o sonho de qualquer ginasta de jeito, mas por outro lado eu não sou uma ginasta dessas.

Gostava de dizer à minha mãe que não me sinto muito feliz com isto, mas talvez sinta. Gostava ao menos de contar ao Liam que quero deixar de ser ginasta.

- Diana? Estou orgulhosa de ti. E também do Liam: isto vai ser uma enorme oportunidade para ele, imagina pôr isto no currículo...

Desligo. Não posso contar ao Liam.

Não me resta ninguém... Já contei tudo à Jennifer, mas com a distância, sinto que estamos a ficar mais afastadas... É pena porque sempre fomos grandes amigas, especialmente, no secundário. Gostava de ainda estar com ela porque queríamos seguir as mesmas áreas, mas depois do secundário, passei a deixar de frequentar uma escola e dediquei-me a 100% à ginástica. Por isso, enquanto ela vive o meu sonho, eu vivo o da minha mãe.

Diana MarsWhere stories live. Discover now