Mas o que é que ele faz aqui?
Perguntas sem resposta formam-se na minha cabeça, até me lembrar que eles continuam na mesma divisão que eu. De repente, lembro-me que devo estar horrível por ter estado a chorar, mas hoje não quero saber.
A Rose abandona a sala dos empregados e o Josh abraça-me.
Não sei no que pensei quando o abracei de volta, mas sei que nele vejo segurança.
- O que fazes aqui? - pergunto num tom rude, talvez mais duro do que queria.
- Calma... Só estava cá....
- Na sala dos empregados e a Rose sabia e deixou-te ficar... Claro, super óbvio - digo num tom irónico.
- A Rose é minha tia.
Fiquei sem reação. Não estava à espera de que eles fossem da mesma família...
- Ok.
Momentos de silêncio instalam-se entre nós até ele recomeçar a falar, de uma forma mais doce, agora.
- Porque estavas a chorar?
Rio-me interiormente. Ele deve estar a brincar...
- Não é essa a pergunta. O que é que fazes na América?! Porque é que me mentiste sobre a construção das bancadas?! - o meu tom de voz eleva-se a cada pergunta que faço - Porque é que ages como se gostasses de mim?! Quem és tu?!
O choque na sua cara é mais que evidente. Reparo agora que as lágrimas não pararam de escorrer pela minha cara, mas têm alguma razão para sair desalmadamente... Nunca as deixei sair...
Desligo-me do Josh e começo a relembrar-me do desastre que aconteceu neste café à dez anos.
O acidente que marcou a minha vida.
• Dez anos antes •
Estava um dia maravilhoso. O sol de Primavera batia-me nas bochechas deixando-as brilhantes e quentes.
Eu vestia uma camisola roxa e uma saia com flores roxas e azuis claras, umas sabrinas protegiam os meus pés do áspero chão e uma bandolete azul clara estava colocada no meio dos meus cabelos despenteados e sem qualquer tipo de ordem. A mochila da escola estava na minha mão, pois as minhas costas já não podiam aguentar com o seu peso.
Alcancei a maçaneta da porta do café e empurrei-a. Quando esta abriu, não consegui ver nada durante uns momentos, até os meus olhos se habituarem à escuridão.
- Olá querida! - a Rose saudou-me.
Corri a abraçá-la e ela deu-me um beijo no topo da minha cabeça.
Dirigi-me à sala dos empregados e encontrei o marido dela. Sorri-lhe, mas ele nem olhou para mim.
Entrei e fechei a porta. Sentei-me à secretária e comecei a fazer os trabalhos de casa, que eram poucos.
Minutos depois, a Rose entrou e deu-me um bolo de arroz para eu lanchar. Agradeci-lhe e continuei a trabalhar.
Minutos depois, a maçaneta da porta foi pressionada para baixo pelo lado de fora e entrou um rapaz. Este rapaz vestia umas calças de ganga rasgadas na parte dos joelhos, a camisola que outrora fora branca, cinzenta de sujidade, assim como a sua cara que estava suja e com vários arranhões.
Olhei para a sua cara: bonita. Os seus olhos fixaram-se nos meus e ficámos a fazer contacto visual durante alguns segundos até eu desviar o olhar, envergonhadíssima.
Voltei a virar-me para o meu trabalho, mas aqueles olhos não me saíam da cabeça.
*
Um estrondo enorme é ouvido na sala dos empregados. Com o susto, saltei da cadeira e fui parar ao chão, batendo com o rabo na superfície dura.
Olhei para o menino: nem se mexeu. Voltei a levantar-me e estava a sentar-me quando um outro estrondo ecoa pelas paredes deste estabelecimento, mas desta vez mais alto e um berro é ouvido de seguida. O segundo.
Voltei a cair no chão e uma mão apresentou-se à minha frente para me ajudar a levantar. Aceitei a ajuda do menino e a sua mão puxou-me para debaixo da mesa da sala dos empregados, que são só dois: a Rose e o marido, que desconfio que não faça nada.
Ele ajeitou-se ao meu lado, colocando as suas costas direitas e agarrou-me no braço. Depois, falou:
- Eu sou o Jo.
Ouvimos outro estrondo altíssimo, muito mais alto do que das duas últimas vezes: o número três. Assustei-me tanto que bati com a cabeça na mesa, que agora se encontrava por cima de mim.
O Jo sorriu e fez-me festinhas no meu cabelo.
Sorri.
- Eu sou a Diana.
Jo é um nome fixe, Diana é um nome chato.
- Adoro esse nome.
Esta frase surpreendeu-me.
- Obrigada... - respondi timidamente, mas também disse - Eu acho o teu nome muito fixe.
- Obrigado - ele corou ligeiramente.
Ouvimos outro estrondo ainda mais alto que os anteriores, desta vez o Jo também se assustou. O estrondo número quatro assustou-nos mais do que eu sabia que era possível assustar alguém.
A partir deste momento comecei q contar os estrondos e os berros humanos.
Cinco, berro.
- Não contes a ninguém, mas o meu nome é Josh...
- Porque que é que queres que eu não conte a alguém?
- Porque Josh não é fixe. Jo é que é.
- Eu cá acho Josh bastante fixe... - declarei.
Ele sorriu e abraçou-me.
Seis, três berros de seguida.
- Vamos sair daqui.
![](https://img.wattpad.com/cover/22623594-288-k235418.jpg)
YOU ARE READING
Diana Mars
Teen Fiction➰ Com tempo, tudo se cura ➰ ➰ Mais vale perder um minuto na vida, do que perder a vida num minuto ➰ { Portuguese Fanfic }