13 || Lauren Half

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O Liam chega no seu carro, apenas dez minutos depois de eu lhe ter telefonado.

Faz-me sinal para eu entrar.

- Olá... - diz com algum medo de ferir os meus sentimentos já feridos.

- Olá - assim que falo, as lágrimas começam a escorrer.

Sempre que sinto vontade de chorar, falar é o que faz as lágrimas cair. É sempre assim, comigo e com toda a gente.

Ele pousa a mão na minha coxa e acelera a fundo, em direção à auto-estrada.

Agarro-me à porta: odeio andar tão rápido de carro.

Estou com medo que morra eu em vez da minha mãe, quer dizer, eu preferia, porque quem merece mais viver entre nós as duas é ela, e não eu.

Aquela porcaria toda que é possível ser feita, eu fiz. Aquelas lágrimas todas que é possível expelir do corpo, eu expeli. Todo o sofrimento que é possível sentir, eu sinto. Todo o ódio que eu poderia sentir pela minha mãe, eu senti. Todo o arrependimento que se pode sentir, eu sinto.

Porcaria. Foi o que eu fiz.

Dei cabo da minha mãe, de mim mesma, deu cabo de duas vidas, assassinei duas vidas. Devia ser presa.

Aqueles que são presos por matarem alguém, são como eu. Eu talvez seja pior, porque essas pessoas que são mortas pelos assassinos não têm de sofrer depois da morte; as vidas que eu matei têm de viver depois da morte, ou seja, eu causo-lhes mais sofrimento do que os assassinos às pessoas que matam.

Devia ser mesmo presa. Pelo sofrimento que causo às pessoas à minha volta.

- Diana?

Olho para o Liam, que me chamou.

- Ainda não paraste de chorar desde que começámos a andar... Sabes que os cancros têm tratamentos?

Ele não percebe. Ninguém me percebe.

- Não é isso. Eu não devia existir.

O Liam arregala os olhos incrédulo pela minha reação e pergunta:

- Porquê?

- Porque eu sou uma assassina.

Desisto... O que digo já não faz sentido. Quer dizer, faz, mas dentro da minha cabeça... Não quando falo.

Já deixei de lutar com as lágrimas há algum tempo. Se choro, se não, se estou a chorar ou se chorei, não me interessa. É isto que sinto. E pronto.

O meu antigo treinador cala-se, percebendo a minha não vontade de falar e volta a concentrar-se na estrada.

Para grande desilusão minha, também tira a mão, que estava pousada na minha perna, e coloca-a no volante.

*

Entro no hospital a correr e dirijo-me a recepção.

- A minha mãe?

A recepcionista responde-me, num tom monocórdico:

- Desculpe senhora, tem de tirar uma senha e esperar pela sua vez.

- Mas diga-me só onde está a minha mãe.

- Retire-se por favor, senhora.

Este tom dela indiferente está a irritar-me. Ela não está a perceber... A minha mãe é tudo o que tenho, tenho que a ver.

- Desculpe, mas não está a perceber... - estava a declarar quando fui interrompida pela mulher.

- Não, a senhora é que não está a perceber! Saia daqui, por favor.

Esta recepcionista é muito mal-educada! Põe-se aqui a gritar comigo... Eu é que sou a cliente!

- A senhora não fala assim comigo... - começo, a sentir a raiva - Diga-me onde está a minha mãe, agora.

- Saia já daqui.

Fico imóvel.

- Vou chamar os seguranças.

Os seguranças são chamados pela recepcionista e levam-me, dois minutos mais tarde, assim que chegam, para uma cabine de segurança, onde estão todos os seguranças a beber café e levam-me para uma sala onde estão outras pessoas também, que se devem ter "portado mal", como eu.

O Liam? Lembrei-me agora que deixei o Liam na sala de espera! Ele deve estar bem... Eu é que não estou.

Levanto-me da cadeira onde estava sentada e pergunto, num tom mais alto e oponente do que pretendia:

- Quando é que posso sair daqui?

- Minha senhora, tem de ficar aqui até se acalmar. E vai ter de pagar os estragos - disse-me um segurança.

- Estragos? - pergunto, com a minha a formar um perfeito "o".

- Sim... Vai ter de pagar a operação da recepcionista.

- Operação?!

Uma operação deve custar uma fortuna... Mas calma, como é que eu lhe provoquei um estado tão grave que seja necessário resolvê-lo com uma operação? O que é que eu fiz à pobre mulher?

- Sim, a recepcionista teve um ataque cardíaco, quando a senhora se retirou do local, ou melhor, quando nós a retirámos do local.

A minha expressão fica indefinida. Claro que a minha intenção não era causar-lhe tal ataque...

Vendo a minha reação, o segurança desata a rir e acrescenta:

- Calma, rapariga... Estava só a brincar!

Estou boquiaberta. Um segurança pode enganar assim um cliente, num hospital?!

Nem lhe respondo. O que ele está a tentar fazer é irritar-me, para eu não me acalmar e para não puder sair daqui para fora.

Um segurança gordo e baixo entra na "sala do castigo" e leva um homem que estava sentado numa cadeira, como eu.

Um já foi libertado. Dentro desta sala encontram-se mais duas pessoas: uma mulher idosa e um adolescente.

Dois minutos depois, entra o mesmo segurança e leva a mulher idosa.

De seguida, volta a entrar e leva o adolescente.

Depois, entra novamente na sala e leva-me para fora da cabine dos seguranças.

Agradeço-lhe e dirijo-me à receção de novo.

Avisto o Liam e sento-me na cadeira ao seu lado.

- Diana, para onde te levaram?

- Para a cabine dos seguranças...

Ele parece ignorar a minha resposta e continua:

- Já falei com a recepcionista e ela disse-me que a tua mãe não pode ser visitada.

Recomeço a chorar desalmadamente.

A culpa é minha! Se não lhe tivesse dito que não queria fazer mais ginástica, não estaria zangada com ela neste momento e seria muito mais fácil para mim aceitar a doença da minha mãe.

Os meus pensamentos são interrompidos pelos lábios do Liam que se colam aos meus.

Diana MarsWhere stories live. Discover now