6 || A Família Feliz

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A minha mãe parece ter ficado sem reação após o que eu disse, porque ainda não falou desde de que eu lhe disse o que sentia.

Levanto-me e ando em direção à saída das bancadas. Sinto uma mão a agarrar-me o pulso, e, como tenho a certeza de que é da minha mãe, solto-me do aperto e continuo a andar.

A minha saída dramática não ficou tão dramática como eu queria, porque infelizmente há muitas pessoas nestes lugares, mesmo muitas, muitas mais do que imaginei que seria possível nestas bancadas...

Após alguns "desculpe" e "com licença" e umas pisadelas em pés de pessoas e cotoveladas em cabeças de crianças, chego às escadas que me levarão ao chão. Desço-as e, antes que possa dizer "não" ao meu subconsciente, estou a olhar para trás e observo o Liam a falar com a minha mãe, com um ar preocupado e vejo que a minha mãe não está a dar a mínima atenção ao meu treinador. A minha mãe tem uma característica que é normalmente classificada de "má característica": pode desligar-se do mundo e só se ouve a si mesma a pensar, como eu.

- Desculpe? - oiço uma voz desconhecida.

Viro-me para trás e deparo-me com uma mulher ruiva de olhos azuis brilhantes e com uma menina pequena que aperta a sua mão.

Vendo falta de ação do meu lado, a mulher avança:

- Eu sou a Catherine e esta é a minha filha, a Amy. Já agora, este é o meu marido, o Bob.

Este Bob passa despercebido porque eu não notara na sua presença até ao seu mencionamento.

A Catherine fica calada, provavelmente à espera da minha reação ou até mesmo resposta e eu surpreendo-me a mim mesma quando me oiço a dizer:

- Olá... Hm... Eu sou a Diana.

A senhora sorri e declara:

- Sim, eu sei...

Começo a ficar desconfiada... Quem é esta mulher? E mais importante: como é que ela sabe quem eu sou?

- A minha filha, a Amy - sorri provavelmente por saber que eu já sei o nome dela, permitam-me dizer que este gesto é ridículo- está a iniciar a sua carreira na ginástica rítmica e achámos muito interessante ela conhecê-la, Diana... Sabe, nós vivemos aqui apenas há alguns meses. Nós vivêmos na América a vida toda, mas sabe que a vida não está fácil... Por isso, mudámo-nos para Espanha, à procura de uma vida melhor! - faz um pequena pausa e conclui - Então pensámos em vir aqui dizer-lhe um "olá"....

Esta família disse mais do que um "olá", mas pela primeira vez não me importei com isso, porque estas pessoas desconhecidas terem-se aberto para mim, apenas porque ouviram o meu nome ser mencionado na televisão, fascinaram-me.

Sorrio-lhes e ando em direção à saída.

Espero ter tido algum impacto na vida da Amy, porque ela tinha um olhar sonhador, um olhar de alguém que acredita, de alguém que acredita que a vida pode ser melhor, melhor do que já é.

Vejo o segurança a quem o Liam disse o meu nome e alcanço as portas da saída dos ginastas.

Pressiono as barras anti-pânico e abro-as.

Quando a luz me bate na cara, não consigo ver nada, porque a minha visão fica demasiado clara.

Fecho os olhos e, quando os abro, os meus olhos encontram os cor de caramelo.

Diana MarsWhere stories live. Discover now