7 || Josh

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- Hey - o rapaz diz.

- Hey - respondo.

- Acho que não cheguei a saber o teu nome...

- Ah... Hm... Ah...

Sinto-me horrível por estar a ser tão atrapalhada e surpreendo-me, ao ver que ele continua à espera de uma resposta e de não estar a gozar comigo por estar a ser tão... Fora do normal!? Mas pensando bem, ele não conhece o meu "normal", por isso...

- Diana, chamo-me Diana.

- Eu sou o Josh Hutcherson, é um prazer conhecer-te.

Encosto-me à parede e deixo-me escorregar até chegar com o rabo ao chão. O Josh segue o meu gesto e pergunta:

- Há algum problema? Tu sabes... Para teres abandonado a competição...

- Não, não... Está tudo bem - não vou contar a história da minha vida a este rapaz que só conheço como Josh Hutcherson. Devia conhecê-lo melhor. Se ao menos tivesse ouvido a conversa entre ele e a minha mãe no avião... Saberia muito mais sobre ele!

- Então nesse caso... - ele começa a levantar-se para sair, mas eu questiono:

- De onde é que conheces a minha mãe?

Ele volta a sentar-se e responde:

- O meu pai morreu com o teu na guerra. Eles lutavam juntos.

Lágrimas vieram-me aos olhos. Mas não posso chorar sempre que alguém refere a morte do meu pai.

Lembro-me de estar em casa com a minha mãe, de o meu pai aparecer com uns sacos enormes nas mãos e de me sussurrar ao ouvido, quando me abraçou, "Eu vou voltar, prometo. Toma conta da tua mãe.".

Lembro-me igualmente do dia em que o meu pai não voltou, aliás, dos dias em que o meu pai não voltou. A minha mãe chorava todas as noites e passava os dias de pijama. Eu ia aos treinos com o Liam e voltava com algum dinheiro nos bolsos, que recebia das competições onde tinha participado. Dinheiro esse que era gasto pela minha mãe para comprar bebidas alcoólicas. A reabilitação da minha mãe foi complicada e demorou vários anos.

- Então... Porque é que saíste?

- Eu... Eu saí porque disse à minha mãe que não quero ser mais ginasta.

Lágrimas vieram-me outra vez aos olhos. Perdi a minha mãe completamente, o Liam também porque só passávamos tempo juntos para treinar para competições e mais competições. A Jennifer está fora e não tenciona voltar e não tenho mais amigas, por isso, só me resta este rapaz de olhos cor de caramelo.

Escondo a minha cabeça entre os meus joelhos e começo a chorar.

Sinto uma mão pousar nas minhas costas, fazendo movimentos circulares e lembro-me de que o Josh pode ainda estar aqui. Se estiver, grande amigo.

Com demasiado medo para olhar para ele, mas ainda com mais medo de desistir, levanto a cabeça e olho em frente. Vejo campos abandonados, selvagens. A forte brisa que se faz sentir abana os ramos das árvores e os arbustos, fazendo com que pareça uma dança, aliás, um baile.

Viro a cabeça para a esquerda e os meus olhos ficam perdidos nos castanhos do Josh.

Ele sorri e eu pouso a cabeça no ombro dele. A sua mão pousa na minha coxa e os meus lábios formam um adorável sorriso. Daqueles sorrisos que só fazia com o meu pai, quando brincávamos com a bola.

Acho que já estou mais calma, por isso sorrio para ele, em sinal de agradecimento.

- O que é que estavas a fazer aqui? - pergunto-lhe.

- Eu... Hm...

Vai-me mentir, quase de certeza.

- Eu arranjei trabalho aqui durante esta competição, mas já acabei o meu turno e estava de saída. Eles pagaram-me a viagem até cá e eu montei as bancadas com a ajuda de mais alguns homens.

Bem... Vida difícil. Agora sinto-me mal por ter julgado este rapaz, ao dizer que ele me estava a mentir de certeza...

- Queres ir almoçar? - o Josh pergunta, vendo que a minha reação não foi das melhores.

- Claro!

Só depois de responder é que me apercebo de que fui convidada para um encontro com um rapaz que pode dizer-se que conheci na rua...

Perfeito.

Ele levanta-se e eu sigo o seu gesto e começamos a andar, um ao lado do outro.

Diana, vamos aproveitar este passeio para recapitular as coisas: então, vieste para uma competição em Madrid, que nem sabias que existia há alguns dias atrás, depois, disseste à tua mãe que não querias ser mais aquilo que ela queria que tu fosses, chatearam-se e foste embora. Pelo caminho, conheceste a vida de uma família adorável. E agora, estás a caminho de algum sítio que não sabes onde é, nem sabes sequer um nome, com um desconhecido, que é filho de um militar que morreu na guerra com o teu pai. Vamos admitir que a partir daqui é uma questão de sorte...

Continuamos a andar até que o silêncio entre nós estabelecido seja interrompido pela voz do Josh:

- Então... Como é que pensas que vai ser a tua vida agora que já não queres ser ginasta?

Ele só pode estar a gozar comigo... Estávamos a ir tão bem...

- Não sei, espero que não se complique muito. Acho que a minha mãe não vai conseguir estar aborrecida comigo muito mais do que uns dias.

- Ah... Está bem.

O silêncio volta a instalar-se e o pânico dentro de mim começa a crescer. Estou a ir para um lugar que não conheço, no meio da mata, num país que não é o meu, que não sequer é no mesmo continente do meu, com um rapaz que não sei quem é e que me pode ter facilmente mentido...

Acho que agora quase que preferia estar com a minha mãe.

- Estamos quase a chegar - o Josh, ou lá como ele se chama verdadeiramente, afirma.

Eu já nem assumo que o nome dele é Josh, deve-se chamar Demétrio, deve ter sido expulso do seu país, que eu assumo ser a Ucrânia, deve ser um assassino em série, que rapta adolescentes a chorar. Depois pede o resgate à sua mãe, com a qual a filha está chateada e, como a mãe não pode viver com a culpa de ter deixado a filha ir, paga um resgate enorme.

Lembrem-me deste esquema perfeito de rapto de adolescentes quando eu quiser enriquecer, por favor.

Chegamos a uma tasca no meio do nada com um aspeto bastante assustador.

Quando entramos, só vejo camionistas cheios de tatuagens, o que deve ser muito normal em Espanha, e alcoólicos na zona do bar a beber bebidas de uma cor indefinida, ou que eu ao menos não consigo definir.

A empregada parece antipática e rude e leva-nos para uma mesa de madeira escura e dá-nos os menus.

Posso já não estar muito bem da cabeça, ou até mesmo meio inconsciente, mas juro que consigo ler, no fim da ementa, a letras pequeninas, "serviço especial da empregada Maia".

Diana MarsWhere stories live. Discover now