1828 dias após o casamento (ou cinco anos depois)
A luz criada pelo crepitar do fogo da lareira reluz em seu corpo nu, dando à sua pele uma tonalidade dourada atraente. Eu aproveito a oportunidade para admirá-la. Deslizo o dedo pelo contorno de seus seios generosos, com cuidado para que não acorde. A sensação da minha pele em contato com a dela me deixa excitado. Mas logo então acontece o mesmo que das vezes anteriores, fico entediado.
Hora de ir embora.
Levanto-me em silêncio e começo a pegar minhas roupas espalhadas pelo chão. Por pouco ela não rasga minha camisa, constato com divertimento. Miseravelmente vestido, vou em direção à porta, dou uma olhada rápida no relógio sobre a penteadeira. Já passa da meia-noite. No mesmo instante que minha mão alcança a fechadura, os lençóis da cama começam a se mover.
— Você parece um ladrão, saindo assim à surdina.
Emma desce da cama sonolenta, sem preocupar-se em cobrir o corpo nu. Ousada, ela caminha lentamente para que eu possa desfrutar por mais tempo da visão.
— Eu não queria acordá-la. — esclareço, descendo o olhar por cada ponto exposto de sua pele morena. — Não parecia justo depois de todo trabalho que te dei. Você merece um descanso.
Ela faz beicinho.
— Você não pode ficar dessa vez?
Dou de ombros.
— Não gosto de companhia para dormir.
— Há algo que eu possa fazer para você mudar de ideia? — pergunta ela.
Enquanto espera minha resposta, a mão de Emma escorrega do meu peito diretamente para o volume entre minhas pernas, acariciando-me. Um gemido involuntário escapa da minha boca. Ela sorri esperançosa ao ouvir o som. Coloco uma mecha de cabelo caída sobre seu rosto atrás de sua orelha e depois toco as linhas de seus lábios com o dedo.
— Eu preciso mesmo ir. — afirmo sem hesitar, afastando sua mão do meu corpo, ainda que com um ligeiro pesar — Nos veremos em breve.
Antes que minha mente se compadeça de sua expressão magoada, eu abro a porta e vou para casa.
Sozinho em meu quarto, ainda com a roupa impregnada com uma mistura de fragrância de sexo e do perfume suave de Emma, encho por completo um copo com brandy e me sento na poltrona.
A noite será longa...
02:17h.
Quarto copo de brandy.
Total ausência de sono.
02:49h.
O silêncio noturno é enervante.
03:05h.
Alexander deve chegar dentro de alguns dias.
Quinto copo de brandy.
Será que ele descobriu algo relevante dessa vez?
Será que...
Sexto copo de brandy.
03:06h.
Quantos copos são necessários para perder a capacidade de raciocínio?
Desconheço a resposta.
Sétimo copo.
Oitavo...****
Ai.
O pior não foi ter que tratar de negócios o dia inteiro com a cabeça prestes a explodir. O pior, inquestionavelmente, é lidar com três irmãs tagarelas durante o jantar.
— As pessoas estão comentando que John irá pedir sua mão em casamento. — Mary informa, sorrindo para Elise, o que a deixa ruborizada.
— Esse assunto vai me causar indigestão. — interrompo. Este não é um bom dia para discutir sobre pretendentes.
Elas riem e prosseguem falando.
— John é um jovem adorável, responsável, gentil, e vem de uma ótima família. Acredito que Elise ficará bem ao lado dele. — Mary continua — Ela já está com dezenove anos, uma idade mais que adequada.
Desde que se casou com um advogado, anos atrás, minha irmã mais velha tornou-se uma nova mulher. Ao que parece, Mary e Duncan vivem felizes. E agora ela passa maior parte do tempo tentando convencer nossas irmãs a renderem-se a benção do matrimônio também. É irritante.
— Você gosta desse senhor? — indago, olhando na direção de Elise, que está sentada a minha esquerda.
— Ele é um bom homem. E é um excelente ouvinte. Isso é algo que eu aprecio muitíssimo.
— Além de tudo, ele é bem apessoado. — repentinamente Imogen declara, deixando todos consternados.
— Imogen! — Elise está vermelha como um tomate.
Preciso de uma bebida.
— Agradeço esse esclarecimento indispensável, Imogen. — digo laconicamente — Deus me livre permitir que minha irmã se case com um homem feio.
— Não seja sarcástico. — ela retruca. — E não blasfeme, por favor.
— Então não me provoque. — levo as mãos às têmporas, esfregando-as. Minha dor de cabeça começa a piorar. — Bem, se John Sulliver me procurar, tentarei ser amistoso, já que minhas preces para que vocês se tornassem solteironas não foram atendidas.
— E por que, em sã consciência, você desejaria que não nos casássemos? — minha irmã mais nova quer saber.
Porque vocês são tudo o que eu tenho.
— Porque, obviamente, eu tenho pena dos homens que cruzarem o caminho de vocês.
Elise revira os olhos.
— Duncan é um homem de sorte. — Mary defende-se.
Escolho ficar calado, somente ouvindo-as. Minhas irmãs conversam sobre novos vestidos, cores apropriadas para um enxoval, tapeçaria, cores na moda para decorar, os outros assuntos eu acabo não prestando atenção.
Primeiro foi Mary, apesar de jantarmos juntos duas vezes na semana, agora ela tem sua própria casa e família, e em breve o bebê que está em seu ventre virá ao mundo. Minhas outras irmãs olham para ela e sonham com um futuro semelhante. Sinto um desconforto ao pensar que uma hora, ou outra, todas partirão.
— Vou ao clube encontrar os rapazes. — anuncio, esforçando-me para que a minha voz sobrepuje à delas. — Caso contrário, vocês irão me levar à loucura.
Levanto-me, embora a comida em meu prato ainda esteja praticamente intocada, eu perdi a fome.
— Aonde você vai? — Mary questiona, confusa. Elas claramente não estavam me escutando.
— Ao clube. — informo novamente. — Acredito que a minha presença é dispensável.
Mary faz que não com a cabeça.
— O assunto aqui não é do seu agrado, Henry? — sua boca se curva em um sorriso zombeteiro.
— Surpreendentemente, não.
Eu me afasto e vou para o vestíbulo. Enquanto visto meu terno e luvas, Imogen me alcança.
— Henry, não se preocupe, meu irmão. — ela me abraça inesperadamente. — Você ainda será o primeiro cavalheiro em nossos corações.
Por dentro, eu sorrio.
— Estou pensando seriamente em não lhe conceder um dote de casamento, assim tenho mais chances de mantê-la comigo. — a envolvo em meus braços.
Ela bufa contra meu peito.
— Você não faria tal coisa.
Beijo-lhe o topo da cabeça.
— Não, não faria.
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O retorno de Henrique Hutler
Ficción históricaEle está de volta... Após deixar a Inglaterra humilhado e com a alma destruída, o antigo cavalariço de Pwenlly House retorna a Londres para um acerto contas. Agora, escandalosamente rico e com mais influência que muitos nobres jamais chegarão a ter...