Capítulo 14

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Procuro não analisar como serei tratado em Pwenlly House, depois de tudo. Na verdade, fico surpreso por Arthur Pwenlly sequer aceitar me receber. Espero que essa intenção não seja escutar um pedido de desculpas de minha parte. Seria incapaz de fazê-lo, sei disso. Ainda agora, não me arrependo de ter feito com que o maldito conde pagasse pelos seus maus. Apenas pretendo amenizar os efeitos do que causei, para não punir os inocentes.
Ele não se levanta, tampouco me olha quando eu entro e me aproximo. Consigo notar a tensão em seus músculos rijos, mesmo sob o grosso paletó. Sua postura defensiva o denuncia.
- Devo presumir que o poderoso Henrique Hutler encontrou uma forma de me tirar também esta casa, apesar de estar atrelada ao título?
Há ressentimento em sua voz, e uma ligeira arrogância, ou talvez orgulho. Sinto inexplicável alívio por ele não ter herdado a covardia do pai.
- Vim tratar de negócios.
- Não temos o que tratar sobre qualquer assunto. - contrapõe.
- Tenho uma proposta para você.
O novo conde ergue a cabeça e me olha.
- Não estou interessado.
- Não seja tolo, Pwenlly. Você ainda nem sabe do que se trata.
- Exatamente. Pretendo que continue assim.
Arqueio a sobrancelha.
- Mesmo que o assunto possa beneficiar suas irmãs?
Ele exala audivelmente.

— Você enganou meu pai, que era um homem ganancioso, Sr. Hutler. Contudo, não terá a mesma sorte em me passar para trás. Eu não ambiciono muitas coisas na vida, além de garantir a proteção da minha família.

Eu assinto, em sinal de respeito.

— Se é como diz, engula seu orgulho e me ouça, milorde.

Ando pela sala, esperando que ele se decida. Estou disposto a persuadi-lo até convencê-lo. Faz muito tempo que eu não posso nomear minhas atitudes como corretas, no entanto, neste exato momento, estar aqui, frente a frente ao homem que começou toda a minha desgraça, e tentar ajudá-lo parece... certo.

— Eu concederei dotes às suas irmãs. — anuncio, sem esperar pela sua permissão — Generosos dotes que, com um pouco de tempo e esforço, se tornarão preponderantes ao escândalo que se abateu sobre elas.

Ele arqueia a sobrancelha de modo insolente.

— Ah, que excelente! Eu sempre disse que Isadora deveria casar-se novamente. Agora com um atrativo dote é quase certo que consiga.

Sei que ele está me provocando, mas isso não impede que meu maxilar enrijeça, como uma parede rochosa. Engulo em seco, com dificuldade, parece que há uma pedra instalada na minha garganta. Ele solta uma risada amarga.

— Eu não vim aqui falar sobre a duquesa. — retruco, e sou sincero. Depois da forma que ela me olhou no dia anterior, sei que o melhor a ser feito é manter-me afastado. — Refiro-me especificamente às suas irmãs mais novas. Sei que Lady Katerine já está em idade própria para casar. Eu posso ajudá-lo a arranjar um marido aceitável, talvez até mesmo um com título. Tenho muitos homens que me devem favores e estou disposto a cobrá-los.

Seu olhar de repente desvia do meu, focando em seus próprios pés. Eu já devia prever que um aristocrata arrogante nunca aceitaria ajuda de alguém. Seria suficientemente humilhante. Por mais que os anos passem, as diferenças continuam insuperáveis.

— Asseguro-lhe que ninguém saberá que estou pagando pelo dote, se é o que o preocupa.

— Por que você faria isso? - ele pergunta, voltando a me encarar. — Se eu bem me lembro, você odeia os Pwenlly, ao ponto de destruir nossa fortuna, manchar o título de minha família e deixar Isadora em uma situação vulnerável.

— Bem, você separou-me, por um capricho, da mulher que eu amava. Seu pai tentou pôr fogo em minha família e sua irmã traiu a minha confiança. Não vamos agir como se eu fosse o vilão da história, apenas porque eu alcancei meios de revidar.

O retorno de Henrique HutlerOnde histórias criam vida. Descubra agora