Parte 11

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- Olá Madison, acha que podemos ir à um lugar mais reservado? Temos muito o que conversar.

A seriedade e a certa irritação que vovó esboçava enquanto dizia essas palavras chegavam a ser intimidadoras. Foi naquele momento que eu percebi que, acima de tudo, ela estava com raiva.

Eu não poderia culpá-la. Se eu fosse uma senhora de sessenta e poucos anos de idade que além de todas as preocupações habituais da vida tivesse que lidar com o fato de a neta ter fugido sem mais nem menos, eu estaria com um ódio quase mortal.

Durante toda a conversa, vovô, como de costume, apenas balançava a cabeça em sinal de afirmação, concordando com tudo o que vovó dizia. Na minha cabeça, eu tentava formar as palavras adequadas para dizer à ela, que justificassem o meu ato irresponsável.

- Como você descobriu onde eu estava? - eu disse, ainda tentando processar o fato de que meus avós haviam viajado quase doze horas de Manhattan até Mainytown para me darem uma bronca.

- Isso não importa. Você simplesmente decidiu, um belo dia, que iria largar seus avós, seu emprego, e fugir para uma cidade que fica há horas de onde vive, para morar com uma pessoa que você nem conhece direito, e que poderia facilmente ter te negado abrigo? Eu nem sei o que pensar. Inconsequente não chegaria nem perto do adjetivo que te descreve melhor. - respondeu vovó, enquanto se arrumava na cadeira. Vovô permanecia imóvel.

- Olha, vovó. Mil desculpas. Eu reconheço que fui uma irresponsável, e o que eu fiz não tem justificativa. Mas eu estava desesperada, entende? Eu estava ficando realmente depressiva, parecia que não tinha mais vontade de viver. Nada mais fazia sentido ao meu redor, e isso estava me destruindo aos poucos, não só a mim, mas as pessoas ao meu redor. Eu vivia dando preocupações à você e ao vovô, não fazia nada direito... eu estava perdida. E Claire foi uma amiga no meu pior momento. Antes de conhecê-la, eu nunca tive um ombro no qual pudesse encostar a cabeça e contar sobre todas os meus problemas e frustações. Ela se importava comigo. E quando soube que ela estava mudando de cidade, uma lâmpada pareceu acender na minha cabeça. Eu vi ali uma oportunidade de dar um novo sentido pra minha vida. Mas eu errei na forma como fiz aquilo - e enquanto dizia isso, as lágrimas começavam a aparecer em meus olhos e um nó se formava em minha garganta.

- Você não poderia simplesmente ter dito tudo isso para nós? Nós iríamos te ajudar. Iríamos achar um jeito de consertar tudo isso. Por que não confiou em nós? - respondeu, e essas últimas palavras saíram quase que num sussurro.

- Vocês não iriam me entender. Como todos outros, achariam que era coisa de adolescente, uma fase que iria logo passar.

Dali em diante, nossa conversa foi regada à pedido de desculpas e lágrimas. Em parte, eu me senti arrependida de não ter me aberto com eles antes. Talvez eles tivessem me entendido. Talvez eles tivessem arrumado uma forma de me ajudar. Talvez eles tivessem me consolado com uma palavra amiga ou um abraço, sendo esse último o que eu mais precisava na época.

Mas eu tratei de afastar esse sentimento. Eu não iria viver no passado, pensando no e se. Eu havia superado aquela fase e minha vida estava ótima agora. Eu tinha um emprego. Uma namorado maravilhoso. Uma amiga que me acolhera como se fosse de sua própria família. Eu estava feliz, e era isso o que importava agora.

♡♡♡

Mais uma terça feira. Mais uma manhã de outono. Os pássaros cantarolavam desesperadamente, formando quase uma serenata em frente à minha janela. Klaus não havia dormido em minha casa aquela noite, fazendo com que eu sentisse faltas das pernas dele enroscadas nas minhas, que quase me jogavam pra fora da cama.

Lembro que no começo do namoro aquilo fora estranho pra mim, já que quando eu era casado com Jake, a espaçosa era eu. Muitas vezes eu acordava e lá estava ele, dormindo num colchão perto da cama.

Mr. Lovely JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora