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Henrique

11 semanas depois

- Quando a contração vir você faz a respiração que aprendeu - a médica fala e faz a respiração cachorrinho, quando vimos essa respiração no curso de maternidade demos tanta risada, falamos que quando chegasse a hora de usá-la daríamos mais risada ainda, porém não está sendo bem assim, Lici tá suada com os cabelos grudados da testa, nua sentada em uma bola azul, pra mim ela está gostosa pra caramba, com os seios fartos e sensíveis, com a barriga gigante que abriga nossas duas princesas, sim tive que me acostumar que agora vou ser pai de duas garotas e até que não é tão ruim assim.

- Aaaaah que merdaaaaa - Lici grita e aperta minha mão com força - aí como eu te odeio Henrique, você não tem noção do quanto - ela fala alto e aperta minha mão com mais força, com toda certeza devo estar com um dedo deslocado.

- Tudo bem amor, pode me odiar - falo e faço um carinho em sua barriga, depois de um tempinho a contração passa e ela alivia o aperto, já deve fazer 6 horas em que Alicia entrou em trabalho de parto, sua bolsa estourou no meio da sala, enquanto ela conversava com nossa família, todos estão preocupados por ser um parto normal, eu quando a doutora falou quase infartei, Lici sempre quis ter parto normal, falava que ela se sentiria mais tranquila e tudo mais, porém quando as contrações começaram ela mudou de ideia.

Isso tudo pra mim é muito novo, porque o  parto do Ben infelizmente não pude participar, Bárbara se negou a me deixar entrar, não me deixou nem mesmo ir as consultas no obstetra e poder passar por todas essas etapas agora é uma sensação sem igual, a única coisa que não é como eu imaginava é o parto, nunca pensei que a Lici soubesse tantos palavrões, e todos eles foram direcionados a minha pessoa.

- Alicia se deite por favor, vamos ver se a dilatação já está ok - a médica fala e eu ajudo minha mulher a se deitar, o exame é feito e pela cara da minha mulher é bem desconfortável - está ótimo, já podemos ir para a sala de parto, vou chamar uma enfermeira para vir te buscar - a doutora joga as luvas no lixo e vai para a porta - vejo vocês na sala de parto - dito isso ela sai da sala nos deixa sozinhos.

- Não sei se quero que elas saiam, eu estou com medo - Lici fala e seus olhos se enchem de lágrima.

- Eu vou estar lá com vocês amor, não se preocupe - deixo um beijo em seus lábios e me afasto, uma enfermeira entra na sala.

- Olá - ela fala e se aproxima da maca - Senhora Alicia, vou colocar um lençol sobre a senhora para não se sentir desconfortável tudo bem? - Lici confirma com a cabeça, a enfermeira joga um lençol e se vira para mim - essa roupa é para o senhor, você pode se vestir no banheiro e quando acabar vai ter uma enfermeira na porta para te direcionar até sala de parto - ela me entrega uma roupa verde e eu agradeço.

- Eu já te encontro amor - falo quando a enfermeira começa a levá-la e ela me olha com os olhos cheios de medo - te amo - falo sem emitir barulho algum.

Eu não sei explicar ao certo o que estou sentindo, só sei que é um misto de medo, pavor, felicidade e muito amor. Meu maior medo é perder minha mulher, eu renasci quando ela entrou pela porta do quarto do Ben, com sua luz natural, me encantando e encantando meu filho, ela me ensinou a viver com o amor de uma mulher, com o amor da mãe dos meus filhos e eu não posso perde-la, nunca.

Vou para o banheiro e me troco, coloco a touca e vou até a porta onde tem uma mocinha encostada mexendo no celular.

- Oi - ela fala e da um sorriso - venha vou acompanhar o senhor até a sala de parto.

- Obrigada - agradeço e a acompanho.

Alicia

Eu só quero dormir pra esquecer essa dor e quando eu abrir os olhos estar com minhas princesas nos meus braços, esse é meu único desejo, gênio da lâmpada, cadê você?

Olho em volta a procura do meu marido e não o encontro, quando vou perguntar para a enfermeira ao meu lado aonde ele está uma contração vem com força total, seguro no ferro da cama e solto um grito, gritar alivia 0.1% da dor e qualquer coisa que me ajude, mesmo que pouco já é muito, quando a dor passa abro meus olhos e o Henrique me olha preocupado.

- Você demorou - falo baixo e minha garganta doe, parece que gritei demais.

- Me desculpa - ele beija minha testa e olha nos olhos - Você não sabe o quão linda está nesse momento.

- Alicia - minha obstetra fala, olho para ela no meio das minhas pernas, se não estivesse com dor estaria morta de vergonha - as contrações estão mais rápidas e quando a próxima vir você vai empurrar com toda a sua força, a cabeça de uma das meninas já está coroando então você precisa ajudá-la, entendeu?

- Entendi - respondo meio insegura, seguro na mão do Henrique e faço força quando a dor vem, sinto como se algo estivesse rasgando minha vagina, senhor minha filha vai ser cabeçuda.

Após algumas empurradas ouço um choro baixinho, minha pequenina nasceu, ela é colocada sobre meu peito e eu sinto que toda minha dor valeu a pena, porém mal tenho tempo de adimira-la e a dor volta com força total, dessa vez preciso empurrar apenas duas vezes e logo um choro alto e escandaloso preenche a sala.

- Bom trabalho mamãe - a médica sorri para mim - quer cortar o cordão papai? - Henrique pega a tesoura com a mão trêmula e corta o cordão umbilical, ver a emoção dele, a felicidade vivida a cada momento e o rostinho das minhas meninas me faz perceber que tudo valeu a pena. Olho para minhas duas pequenas e me emociono, as lágrimas que escorrem não é de dor, medo ou insegurança, minhas lágrimas são de amor, de gratidão, eu preciso ser melhor, não só por elas, mas pelo Ben também, se antes eu já me sentia uma mãe agora eu me sinto uma super mãe.

- Eu amo vocês - falo baixinho para elas e beijo a cabecinha de cada uma.

- Precisamos levar elas para serem limpas - duas enfermeiras as pegam dos meus braços e as levam.

- Obrigado meu amor - Henrique fala com a voz embargada, ele chora mais que as bebês quando foram tiradas do nosso casulo.

- Eu que te agradeço - seco suas lágrimas e faço um carinho em sua bochecha - Eu te amo.

- Eu te amo - ele beija meus lábios e outro enfermeiro nos interrompe.

- Vou levar a senhora para seu quarto, e logo às meninas vão para lá também - ele fala tudo tão animadamente. Ele começa a levar a maca e dessa vez o Henrique não sai do meu lado.

Destino de um pai Onde histórias criam vida. Descubra agora