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Henrique

Olho o movimento da boca das pessoas presentes na reunião mas não ouço uma só palavra, a todo momento os olhos cheios de raiva e mágoa da minha princesa vem a minha mente. Meu celular não para de vibrar mas eu não dou atenção, sei que não é minha mulher.

- Senhor - Andrei toca meu braço com um sorriso radiante e isso me estressa ainda mais - é do hospital, estão na linha 2. Parece ser urgente - ela acaba de fala e sai da sala. Pego o telefone já com a mão trêmula, como assim hospital?

- Pronto - falo com a voz vacilante.

- Senhor Santtori? - uma voz feminina pergunta e eu confirmo - Sou Larissa, do hospital Santa Izabel, eu preciso que o senhor venha até o hospital.

- Me...me desculpa mas sobre o que se trata - meu coração se aperta antes mesmo que ela responda, minha mente grita o nome da Alicia mas meu coração não quer aceitar.

- A sua esposa, senhora Alicia deu entrada no hospital a menos de uma hora - ela fala com a voz calma e eu me levanto.

- Eu já estou indo - deixo o telefone em cima da mesa e saio correndo da sala de reuniões, desço rápido pelas escadas mesmo, não conseguiria esperar até o elevador, chego na recepção e esbarro com alguém que segura meu braço.

- Ei cara pra onde se tá indo? - olho pra cara do Renan.

- Eu preciso ir pro hospital - mal consigo falar.

- Vem eu te levo, Santa Izabel? - confirmo com a cabeça e vamos até seu carro que estava parado bem na porta, Renan vai em alta velocidade, agradeço por não me fazer perguntas e nem falar nada para mim. Quando chegamos não espero ele estacionar, pulo do carro e vou até a recepção.

- Alicia Santtori - falo rápido e a moça da um sorriso de compaixão.

- Me acompanhe por favor, o médico quer conversar com o senhor - ela começa a andar e eu a sigo, ela bate em uma porta e logo a abre - com licença doutor, o marido da senhora Santtori chegou - ela abre espaço e eu entro, um senhor de meia idade se levanta e aperta minha mão.

- Boa tarde senhor, sente-se por favor - ele aponta para a cadeira e eu me sento - Sou o doutor Fernando, sua mulher deu entrada no hospital em estado grave, ela sofreu um acidente envolvendo a moto e um caminhão. A dona Alicia ultrapassou o sinal e infelizmente o caminhoneiro não conseguiu para, como ela estava em alta velocidade o impacto foi forte, ela foi arremessada e quebrou a perna direita e fraturou o pulso. Ela teve o pulmão perfurado por uma costela - respiro com dificuldade, uma enfermeira entra e me entrega um copo de água, agradeço e bebo com calma, olho pro médico e ele continua - ela precisa ir imediatamente para sala de cirurgia, mas nós precisamos da sua autorização pois é uma cirurgia que coloca em risco a vida dos bebês.

- Bebês? - pergunto mais confuso do que já estava, minha cabeça gira, meu coração chega doer de tão rápido que está batendo.

- Ela está grávida de 6 semanas - ele fala com uma cara de pena, abaixo minha cabeça e puxo com força meus cabelos, eu só precisava ter ido atrás da minha mulher, eu só precisava ter deixada aquela maldita reunião de lado e ter ido até a da minha mulher - Eu vou te dar alguns minutos para poder pensar - o médico fala se levantando e eu levanto a cabeça.

- Não precisa - falo com a voz vacilante - pode fazer a cirurgia - falo tão baixo que acho que ele não ouviu, ele confirma com a cabeça e pega alguns papéis que estavam em cima da mesa.

- É só o senhor assinar aqui - ele aponta, pego a caneta e assino as três folhas.

- Eu posso ver minha mulher? - pergunto mal conseguindo falar.

- Me desculpe, mas não. Eu mesmo irei fazer a cirurgia dela, assim que eu tiver notícias venho pessoalmente falar com o senhor - ele fala e eu me levanto.

- Obrigada - falo e me retiro da sala.

Saio de cabeça baixa deixando as lágrimas cair, me encosto na parede e o Renan me abraça.

- Vem - ele coloca meu braço por cima do seu ombro e vai me guiando até uma sala de espera onde me pai já está sentado.

- Meu filho - ele se levanta e me abraça forte, nos braços do meu pai deixo minha dor sair, as lágrimas saem com mais força, deixo um grito que estava segurando sair - isso meu filho, coloca tudo pra fora.

- Foi minha culpa pai, eu tinha que ter ido atrás dela, agora minha mulher está indo pra uma sala de cirurgia - falo com raiva de mim mesmo - ela tá grávida pai, ela tá grávida e por minha culpa ela pode perder nossos filhos - meu pai não fala nada só me abraça mais forte.

*********

Já se pasaram três horas e ninguém veio dar notícia alguma, os pais da Lici e o Nico vieram assim que souberam, todos já vieram até mim, mas eu não quero olha nos olhos deles e dizer que fui eu o culpado disso tudo, se eu não tivesse chegado perto daquela vagabunda ela não teria me beijado e minha mulher não teria duvidado do meu amor por ela, agora a gente estaria bem, curtindo nosso começo de fim de semana. Minha mãe já ligou várias vezes para ter notícias, o Ben não para de chorar e chamar pela mãe. O que eu vou falar pro meu filho?

- Cara - Enzo senta do meu lado e me abraça - vai dar tudo certo, ela é uma mulher forte e vai ficar bem.

Fico ali encostado no ombro do meu irmão e acabo pegando no sono, sonho com minha Lici, com seu sorriso, com seu corpo e seu cheiro.

- Senhor - acordo com o médico me chamando, olho pra frente e o médico me olha com pena, na sala não tem ninguém além de nós dois, ele senta ao meu lado e começa a falar - durante a cirurgia a Alicia sofreu uma forte hemorragia, nós tentamos conter, fizemos transfusão de sangue, mas não adiantou, ela não resistiu, os ferimentos foram grande de mais.

- O que? Do que o senhor está falando? - falo alto - você está mentindo pra mim, minha mulher está bem, ela está bem eu sei - grito e ele me segura.

- Senhor se acalme por favor - ele pede calmo - nos fizemos de tudo, mas nada foi o suficiente, sua mulher não conseguiria suportar, durante a cirurgia ela sofreu um aborto e isso só piorou tudo.

- NÃO! CADE MINHA MULHER? CADE ELA? - eu grito com toda a força que tenho.

- Se o senhor se acalmar eu te levo até ela - ele fala e eu confirmo, tento acalmar minha respiração e me levanto.

- Me leve até ela por favor - peço calmo.

- Vamos - ele me guia até uma sala com pouca iluminação e tira a lençol de uma das camas, o rosto da minha mulher está pálido, sua boca branca e suas olheiras parecem fundas e mais escuras, passo a mão em sua bochecha e ela está gelada como um cubo de gelo, aquela não pode ser minha Alicia, não é minha Alicia. " Você é o culpado disso, foi você quem matou ela, voce matou ela e seus filhos" minha mente grita para mim e isso aperta ainda mais meu coração.

- NÃOOOOOOOO - grito e me ajoelhou segurando sua mão.

Destino de um pai Onde histórias criam vida. Descubra agora