Capítulo 23

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Bom, assim em que cheguei na sala do diretor naquele dia, o encontrei com os pés em cima da mesa e reclinado na cadeira de rodinhas dele. Ele não podia ligar menos para o motivo que me levara lá, ele só queria que eu saísse logo para ele poder assistir ao último treino do time de futebol da escola do ano.

E falando em treino, ele decidiu me dar apenas um dia de detenção em que eu devo limpar o vestiário masculino. Felizmente para mim, por conta do feriado de natal, só vou precisar cumprir a detenção em Janeiro.

"Querida, que horas a Jenny vai chegar?" Minha mãe entrou no quarto, sem bater na porta (não importa quantas vezes eu já tenha pedido que bata), e me perguntou.

"Não sei." Jenny e eu adiamos essa conversa por pelo menos duas semanas. A culpa foi totalmente minha.

"Eu trouxe um pacote de gummy bears já que você e ela parecem viver disso." Ela chacoalhou um saco relativamente grande do doce, mas sinceramente aquilo pouco me importava, porém eu apreciava o seu gesto.

"Obrigada, mãe."

"Hannah, o que houve?" Ela encostou a porta para que esta fechasse e se aproximou de mim, preocupada.

Eu estava no momento deitada de barriga para cima e com a cabeça caída da cama, fazendo com que todo o sangue se localizasse ali. Não tinha música, não tinha filme, não tinha livro, nem video-game. Somente eu e o silêncio da minha mente.

E provavelmente foi assim que minha mãe descobriu que tinha alguma coisa errada.

"Nada." Respondi não querendo preocupá-la, mas conhecendo a minha mãe, ela não vai desistir de tentar falar comigo tão fácil.

"Você só fica de cabeça para baixo quando precisa pensar." Bem observado. "O que aconteceu?"

"A vida. A vida aconteceu." Ela soltou um suspiro, sabendo exatamente no que eu estava pensando, e arrumou-se ao meu lado na cama, ficando também de cabeça para baixo. Esperei um instante, pensando que ela fosse falar algo, mas não foi o que fez. "A vida está pregando uma peça muito engraçada comigo. O problema é: eu não estou rindo."

Minha mãe virou a sua cabeça de modo que olhasse para mim, me incentivando a continuar sem planejar me interromper por enquanto.

"Primeiro de tudo foi o Ash. Logo o Ash, mãe! Ele me traiu logo com aquela vaca sebosa da Kayla. Mas eu o perdoei. Depois foi o Luke. Ele fica escondendo coisas de mim o tempo todo. Eu confio nele para absolutamente tudo, mas ele continua mantendo coisas de mim que eu sei que são importantes, porque senão ele nem se preocuparia. Eu tive que me afastar dele. E agora," Respirei bem fundo. "Jenny. Faz um tempo que eu desconfiava que ela e o Luke tinham uma queda um pelo outro e de repente ela diz que precisa conversar comigo logo depois que o Ash me avisou sobre o possível término entre ela e o Drew."

Eu queria chorar. Sentia que se chorasse tudo o que sentia sairia junto as lágrimas, pelo menos é isso que eu concluí de tanto assistir filmes e ler romances. Mas eu simplesmente não consigo.

Quando a minha banda favorita lança música nova eu preciso até manter um balde perto de mim de tanto que choro, mas quando se trata de emoções desse tipo...... nada consegue me fazer derramar lágrimas.

Quando minha mãe percebeu que não falaria mais nada, resolveu se manifestar.

"Você não tinha que exatamente se afastar de Luke. Você sabe disso não sabe?"

"Tinha sim. Era doloroso estar com ele e ter aquele incerteza se ele realmente gostava de mim. Vai que ele também escondia isso?"

"Você se afastou dele porque era mais fácil, querida. Mas o mais fácil nem sempre é indolor." Olhei para minha mãe por alguns segundos. As rugas perto dos olhos cor de mel indicam experiência e dão todo o charme no rosto oval dela. Sempre mantém um sorriso no rosto, mesmo quando nós discutimos ou ela fica chateada por algum motivo. Tenho que praticar a fazer isso também. Felicidade me parece algo maravilhoso e de grande ajuda no momento.

Ultimatum | l.h.Onde histórias criam vida. Descubra agora