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Conforme cada página era engolida pelo cérebro de Juliana, Valentina assistia cada reação da menor, que estava deitada em sua cama enquanto Valentina estava apoiada na grade do lado de fora, vendo o movimento dos corredores e, disfarçadamente, admirando Juliana.

Um riso gracioso chamou a atenção de Valentina, que até tentou ignorar, mas não conseguiu.

-- O que está lendo? -- Valentina perguntou e Juliana abaixou o livro e ergueu a vista para Valentina, vendo-a de braços cruzados do lado de fora.

-- Uma comédia romântica. -- Juliana disse e Valentina assentiu. A menor percebeu que Valentina iria dizer algo, porém fechou a boca sem proferir palavra alguma. -- Já leu esse? -- Ela perguntou, erguendo o livro para Valentina ver a capa alaranjada e amarelada, onde continha duas mulheres.

-- Já li todos eles. Esta semana chega mais livros que pedi. -- Valentina falou e Juliana assentiu.

-- Posso pedir alguns também. Só preciso esperar minha irmã vir me visitar. -- Juliana disse e Valentina deu um passo para dentro da cela.

-- Ela ainda não veio te ver ou estou enganada?

-- Veio no dia que cheguei, mas ela anda ocupada com algumas coisas importantes. -- Juliana disse, colocando o marcador de páginas no livro antes de fechá-lo.

-- Quanto tempo você, uh, pegou? Você disse à médica que não pode ter a pena reduzida. -- Valentina falou, entrando de vez na cela antes de encostar na parede, parando de frente para Juliana.

-- Vinte e dois anos. -- Juliana disse, vendo Valentina arregalar os olhos. -- E você?

-- Não te in...

-- Para com isso. -- Juliana pediu, vendo os olhos azuis a encararem após terem fitado o chão. -- Está claro que você quer conversar comigo e se aproximar. Eu não sei por qual razão você precisa tentar manter sua pose de durona, mas comigo isso realmente não está funcionando. -- Valentina bufou.

-- Não é uma pose. -- Valentina falou e Juliana riu baixinho.

-- Tudo bem, mas mesmo que você seja assim, comigo não está funcionando. Está ficando vergonhoso você tentar me evitar, mas sempre puxar assunto.

-- Eu não sei por que eu ainda ouço o que você diz. -- Valentina reclamou e Juliana riu, levantando rapidamente da cama para prender os dois braços ao redor de Valentina, impedindo que ela voltasse a sair.

-- Não precisamos ser amigas, se é isso que teme, porém tampouco precisamos ser duas desconhecidas, Valentina. -- Juliana falou e Valentina olhou para os braços magros ao seu redor.

-- Você realmente não tem medo de mim, não é? -- Valentina perguntou com o músculo do maxilar enrijecido e Juliana sorriu.

-- Às vezes, mas cuidando de mim e se preocupando comigo do jeito que você faz fica difícil manter em mente que preciso ter medo de você. -- Valentina suspirou e a fitou.

-- Só senti pena de uma pobre coitada que seria vítima de Beatrice. -- Valentina disse e Juliana sorriu. Qual era o problema dela que, não importava o que Valentina falava, sempre sorria?

-- Você se preocupou mais cedo com a minha alimentação, Carvajal. Você realmente precisa melhorar seus argumentos. -- Juliana disse e Valentina a empurrou.

-- Eu não preciso melhorar porra nenhuma. -- Valentina disse exasperada e Juliana encolheu os ombros.

-- Como quiser. -- Juliana falou, voltando a se deitar em sua cama e retornando para sua leitura. Os olhos azuis fitaram a decepção estampada no rosto da menor e logo ela bufou.

-- Não precisamos ser amigas se conversarmos? -- Valentina perguntou e Juliana a fitou.

-- Não quero mais conversar com você. -- Juliana disse, voltando a olhar para o livro.

-- Por quê? Você queria até trinta segundos atrás. -- Valentina disse confusa.

-- Você precisa aprender que nem tudo é como você quer. -- Camila rebateu e Lauren bufou.

-- Eu não sei porque perco o meu tempo com você. -- Valentina disse bufando, saindo da cela novamente e voltando a cruzar os braços.

Juliana se escondeu atrás do livro apenas para sorrir. Decifrar Valentina era fácil demais e, em apenas alguns dias, ela não entendia como todas as detentas temiam aquela garota.

Ela viu como a maior bufava a cada cinco segundos e sabia que estava com seu ego ferido, então fez algo para a outra restabelecer a paz interior.

-- Valentina? -- Juliana chamou e a garota colocou a cabeça para dentro da cela. -- Está entediada?

-- Por qual outra razão eu teria puxado assunto com você? -- Valentina disse e Juliana sorriu. A resposta grossa já era imaginada.

-- Quer ler comigo? -- Juliana perguntou e Lauren piscou lentamente, cética. -- Já disse, não seremos amigas. -- Falou, deitando mais para o canto e Valentina assentiu, se deitando ao seu lado.

-- Em qual parte está? -- Valentina perguntou.

-- Na parte onde o meninão é descoberto pelas amigas da protagonista. -- Juliana disse e Valentina riu.

-- Eu adoro esse livro. -- Ela disse e Juliana se permitiu contemplar sua beleza de perto. Não foi uma olhada de soslaio, foi uma olhada daquelas que deixam bem claro para você que está sendo observada. 

-- Não vai mesmo me dizer quanto tempo pegou? -- A menor perguntou e Valentina a fitou.

-- Sempre insistente assim? -- Juliana sorriu e aquiesceu.

-- Sempre. -- Respondeu sorrindo e Valentina bufou.

-- Sete anos, mas já cumpri três e por bom comportamento já reduzi mais dois. -- Juliana sorriu ainds mais e se virou de lado, ficando de frente para a maior.

-- Bom comportamento, hm? -- Juliana perguntou provocando enquanto o sorriso enfeitava seus lábios. -- Não estou surpresa.

-- Não está? -- Valentina perguntou surpresa e Juliana meneou a cabeça.

-- Não. Eu não sei por que as garotas temem você, mas já percebi que você é boa.

-- Ninguém nunca ousou cruzar o meu caminho aqui dentro para eu provar o contrário. -- Valentina disse friamente e Juliana sorriu com a língua entre os dentes.

-- Eu ousei. -- Juliana disse rindo baixinho. -- Te desafio o tempo inteiro, não percebeu? E ainda assim você não fez nada.

-- Talvez eu não queira fazer nada. -- Valentina falou e Juliana fitou seus lábios. Deveria ser delicioso beijar aquela boca.

-- É nisso que eu queria chegar. -- Juliana disse, fitando-a. -- Por que comigo é diferente? -- Valentina se obrigou a fitar apenas seus olhos, porém a forma como os olhos de Juliana estavam fixos em seus lábios não estava ajudando muito em sua concentração. A maior suspirou rendida e começou:

-- Você me ajudou... -- O barulho de um cassetete atingindo as grades atraiu a atenção de ambas.

-- Valdés, você disse que iria à enfermaria e já está quase na hora das celas se fecharem. Então vá. -- Uma policial loira requisitou e Juliana assentiu.

-- Me conta depois? -- Juliana sussurrou e Valentina negou, se levantando.

-- Não tenho nada para contar.

-- Valentina! -- Juliana disse e Valentina cruzou os braços.

-- Estão te esperando. -- Ela disse e Juliana bufou, mas deixou o livro sobre a cama e saiu.

Valentina iria lhe contar, droga! Mas apesar de Valentina ter mudado de ideia em relação a dizer, Juliana não desistiria fácil.

Presa por acaso - JuliantinaOnde histórias criam vida. Descubra agora