A arma estava apontada para minha cabeça, mas eu sentia o gosto de sangue na minha boca, quanto mais eu ficava nervosa, mais eu apertava meus lábios com força, deixando pequenos cortes suaves, que tendiam a uma espécie de ansiedade tóxica.
Nunca me senti tão poderosa e aliviada ao mesmo tempo. Suicídio é uma merda para milhares de pessoas, eu sei, mas cada vez que meu dedo suplicava para apertar o gatilho, mais eu sentia que eu teria paz ao invés de todas as doses fodidas que me esperavam em vida.
- Camila, você enlouqueceu de vez? – Hayley não se conteve e disse em tom desesperado.
- Me deixa entrar, tudo que estou te pedindo é uma mísera conversa.
- Você é uma puta insana! – disse virando as costas, deixando a porta aberta. Entendi aquilo como uma permissão.
Entrar no território da Hayley é o mesmo que se sentir como um gladiador em meio aos leões no Coliseu, a sensação é indescritível, mas você sabe que está muito fodido. A casa dela sempre foi muito aconchegante e o cheiro de café só me deixou com mais saudade do nosso laço afetivo.
- Pode começar a falar Camila Cabello. – ela disse entredentes, era visível seu esforço de me olhar nos olhos e manter a conversa.
- Não sei o que posso dizer.
Sua gargalhada rompeu todas as minhas glândulas nervosas e me fez sentir ridícula em meio a toda aquela situação, mas eu estava congelada. O que era inconsequente e ao mesmo tempo vergonhoso da minha parte.
- Você vem até a minha casa com a brilhante ideia de se ameaçar de morte para ter um minuto da minha atenção e não sabe o que dizer? – ela se aproximou me olhando firme. – Você por acaso acha que eu sou uma das suas putinhas Camila?
- Você sabe que não.
- Eu sei que não uma porra! Quem você pensa que é para brincar com o meu psicológico depois de todas as merdas que eu tive que engolir?!
Isso Hayley, boa garota, bota tudo para fora, quem sabe poderemos ter uma chance.
- Hayley...
- Cala essa sua maldita boca! Você não sabe o que dizer, mas eu sei sua vagabunda! – seus olhos estavam cada vez mais odiosos e lágrimas de raiva escorriam pela sua face.
- Eu nunca quis...
- Você nunca quis o quê? Acabar com as milhares de vidas que você acabou?
- Acabar com a sua vida.
- Tem que se achar muito filha da puta para pensar que acabou com a minha vida. Olha para mim sua piranha, eu pareço realmente acabada para você?
- Eu preciso ser sincera?
Foi nesse momento que senti uma dor terrível em minha alma, muito maior do que a dor física o qual o tapa da Hayley desferiu.
- Eu só queria uma merda de um emprego decente Camila Cabello e tudo que você fez após anos da minha fidelidade e ajuda? Cuspiu em mim e em tudo que eu acreditava...
- Eu não sou a melhor pessoa do mundo...
- Você é a pior pessoa que eu já conheci na minha vida, é um puta monstro de merda. Quer saber, termina seu serviço que não consigo olhar para sua cara. Se mata Camila, mas na minha frente, porque eu não suporto mais isso!
Ela seria capaz de me ver morrer em seus olhos? Chegou ao ponto de me odiar dessa maneira?
- Eu amo você Hayley...
- Não Camila, você não me ama. Uma pessoa como você desconhece o significado de um sentimento tão sublime quanto o amor. Para se amar alguém é necessário primeiramente não ser um egoísta de merda e ambas sabemos o quão egocêntrica você é.
- Eu só quero que você entenda...
- Vai embora Camila.
- Hayley...
Ela virou de costas e começou a soluçar freneticamente, em um impulso a abracei e começamos a chorar juntas, em um primeiro momento ela me empurrou, mas depois ela cedeu e ficamos assim por uns bons e duráveis minutos.
(...)
É quase impossível de se obter perdão, ainda mais ao saber que você não o merece. Hayley não me perdoaria nunca, isso era evidente, não importa se eu salvasse o Japão inteiro de um tsunami, eu tinha marcado ela de uma forma tão negativa, que o Hitler parecia Dalai Lama perto de mim.
Eu me via em uma situação cada vez mais obscura, não conseguia pensar em mais ninguém que pudesse me ajudar de alguma forma com palavras clichês que todos nós já sabemos, mas sempre queremos que algum amigo nos fale quando estamos precisando.
Meu bom e velho whisky estava fraco demais para todos os meus pensamentos e eu não queria chegar onde cheguei, mas cada minuto que passava, cada segundo daquela Glock gelada em minha cintura, me fazia desejar a morte cada vez mais. Eu agonizava por algo mais forte e sabia que uma única e exclusiva pessoa seria capaz de me dar.
Lá estava Snoop Dogg, com sua velha marra de sempre, cheio de mulheres e drogas em seu espaço.
- Quem é viva sempre aparece! – disse sorrindo a me ver.
- Os mortos de vez em quando também. – respondi cumprimentando-o com um abraço.
- Quando uso das mais pesadas eles vem me ver.
- É exatamente disso que eu preciso.
- Calma gatinha, vamos dar uma olhada no ambiente, tenho algumas safadas para você se desejar.
- Sem mulheres, apenas a droga hoje Snoop.
- Isso ainda vai te matar Camilinha.
- É exatamente esse o objetivo.
Ele me entreolhou desconfiado, mas foi pegar o que eu disse, sabia que se não me entregasse eu buscaria em outro local e me ter como inimiga seria muito pior aos seus negócios.
- A boa e velha heroína.
- Pensei que você fosse mais criativo.
- Na maioria das vezes o clichê sabe ser mais prudente e forte, do que algo inovador.
Por mais que eu fosse a vilã da minha própria história, usar uma droga com esse nome era no mínimo sádico. Uma dose bastaria para outro mundo e foi exatamente nesse que eu consegui me esconder.
(...)
Senti o cheiro de produto de limpeza e ao mesmo tempo de azedo, o que tornou tudo familiar, estava em minha casa, não me pergunte como e nem o porquê. Mas a sensação de alivio foi tamanha que eu nunca desejei tanto a cama na minha vida. Por incrível que pareça a arma ainda estava em minha cintura, como se fossemos uma só. Deixei na mesa a minha frente e me deitei como a Bela Adormecida.
O que foi um erro, pois não vi que tinha uma presença logo atrás de mim, assim que notei me sentei em um pulo e olhei firme em seus olhos, ela segurava a minha arma balançando a cabeça com um não vigorosamente.
- Você é uma garota muito má e merece ser punida. – ela disse.
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Control (COMPLETA)
FanficCamila Cabello é apaixonada por poemas e tragédias, até que sua história resolve virar uma grande peça de Shakespeare. Se o amor costuma intoxicar e ao mesmo tempo causar ardor, pode Camila ser considerada culpada de sua síndrome e obsessão? O álcoo...