Capítulo 32 - Sorvete amargo

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Orange is the New Black não é tão legal assim quando você está a um passo de vivenciá-lo. Imaginar que existam presas gostosas e apetitosas na prisão deveria ser considerado uma heresia. Com certeza não iria sobrar picadinho de mim e tudo que eu menos queria era estar com indivíduos que podem usufruir da minha miséria.

Passado o efeito da droga meu coração batia de uma forma intensa e dolorosa, e os pensamentos que antes foram atingidos para que parassem, agora me bombardeiam com perguntas inquestionáveis e tudo que eu consigo fazer é ficar no chão fétido gelado encostada esperando pelo pior.

- Na próxima vez Srta. Cabello... Tenha um pouco mais de juízo. – disse o policial ao abrir a cela.

- Vou tentar. – respondi secamente.

Ao encontrar Dinah na sala me esperando senti um misto de alegria e inquietação, pois sabia que a nossa última conversa não tinha sido das melhores.

- Vamos embora Chancho.

Dei de ombros e acenei com a cabeça. Não foi tão ruim quanto pensei.

***

Dinah assobiava uma música estranha, mas que ao mesmo tempo dava tranquilidade, pois quebrava o silêncio. O que eu precisava naquele momento era colocar minhas ideias em ordem, por mais desequilibradas que elas fossem.

- Vamos tomar um sorvete? – Dinah questionou.

- Claro. – assenti com a cabeça.

Me senti uma criança no jardim um, doce é o alimento mais importante da vida, ele pode não tirar sua fome, mas te traz momentos alegres imensuráveis, chocolate deveria sim ser considerado a sétima maravilha do mundo.

- Chanco... – disse Dinah enquanto sentávamos com nossos sorvetes. – Nós precisamos conversar.

- Você sabe que eu não gosto da sua seriedade, ela não combina com você.

- Quero começar pedindo desculpas pelo nosso último encontro, eu não me expressei bem o que acabou gerando toda a confusão.

- Está desculpada, agora podemos falar de como sorvete é bom para um caralho? – sorri desconfortavelmente.

- Eu quero que você saiba que apesar de tudo que aconteceu você é minha melhor amiga e pode contar comigo para tudo.

- Realmente eu não sabia disso. – meus olhos encheram de lágrimas.

- Você se faz de forte, porque te conheço muito bem, mas sei que não é bem assim. No fundo existe uma garota que precisa ser salva e que teve tragédias fortes que aconteceram.

- São todas bobagens, eu já superei.

- Você precisa encarar a verdade e parar de se culpar por isso. Poderia ter acontecido com qualquer um de nós.

- Você sabe que não. – respondi ríspida.

- Isso tudo é por causa da Lauren?

- Ela não significa mais nada para mim.

Comemos o sorvete enquanto o clima continuava tenso, podia sentir a sua mastigação dilacerando meu ouvido e engolia secamente cada pedaço do meu doce, que insistia em estar amargo.

- Não é difícil se encantar por uma mulher como a Lauren.

- Por que temos que conversar sobre ela?

- Eu entendo o porquê ela conseguiu ter você nas mãos.

- Não seja boba, ninguém me tem nas mãos, quem dirá uma cantora de bar barato.

- É exatamente por isso, ela é livre nas convicções dela, não se desdobra para você, o pouco para ela é muito, e Lauren é uma pessoa leal Camila. O que faz com que a ame mais e que ao mesmo tempo seja sua destruição.

- Não consigo entender, ela poderia ter tudo comigo, conseguiríamos uma gravadora fácil, nunca faltaria nada, mas por que Lauren insiste em ficar com aquela mulherzinha?

- Lauren não é interesseira Chanco, ela tem seus princípios e seus valores, não acredito que deva desistir dela, mas você vai precisar muito mais do que dinheiro e de bens materiais.

- Uma mulher com valores é uma mulher sem nada. Ela vai morrer na miséria e tudo que vai me restar é aplaudir.

- A escolha ainda é dela.

- Pois não deveria, se ela me desse a chance eu a faria muito mais feliz em um piscar de olhos, assim perceberia o quanto está sendo burra.

Dinah gargalhou enquanto balançava a cabeça, apenas terminou de comer o seu sorvete enquanto eu me lambuzava no meu, tinha que admitir aquilo me trazia diversão e quase me fazia esquecer a heroína.

- Quando você coloca algo na sua cabeça não tem quem tire. – Dinah disse.

- Ainda bem que sabe, assim podemos parar de tentar por um momento e apenas relaxar enquanto podemos.

- Você não existe Camila Cabello.

- E você e a Normani... – parei um pouco para suspirar. – Como estão?

- Estamos bem. – Dinah olhou firme para mim. – Passamos por momentos muito ruins, você sabe, mas relacionamentos são assim, se você quer que dê certo é importante ser paciente e relevar alguns erros.

- Vocês se amam e isso é maravilhoso, não consigo imaginar uma vida onde Norminah não exista.

- Juntou nossos nomes que isso? – Dinah começou a rir. – Irei torcer para Camren também.

- O shipp do milênio.

- Imagino se tantas outras pessoas torcessem, o quão sofrido seria.

Meu celular começou a tocar no mesmo instante e vi que era Rose, o que me trouxe preocupação.

- Oi Rose, minha mãe está bem?

- Não... – ela estava chorando. – Acabaram de levá-la para o hospital e o estado dela é grave.

Nada poderia ser pior.

Control (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora