Where's Santa and his sleigh???

3. at Lauren's house

[Lauren Jauregui's Point of View]

Por que é tão difícil evitar contato físico com ela?, pensei pela milésima vez ao dia, completamente consciente do corpo dela ao lado do meu. Lancei-lhe um olhar de relance apenas para constatar que ela estava distraída com alguma coisa em uma mecha de seu longo cabelo castanho.

Eu tentava ao máximo não me aproximar muito de outras pessoas além da minha família - cuja convivência era inevitável, de qualquer modo. Seres humanos são complicados e, quanto mais eu os conhecia, mais amava minha cadelinha Gracie. Nunca dá para saber exatamente o que estão pensando ou sentindo ou querendo, a menos que eles queiram que você saiba disso.

Há mais ou menos seis meses atrás todos os meus esforços para evitar interações desnecessárias foram postos em cheque quando minha professora de Francês, srta. Watson, decidiu que seria uma ótima ideia organizar a turma em grupos de estudo. Foi uma péssima ideia, srta. Watson. Uma péssima ideia. Acho que vocês conseguem deduzir quem fazia parte do meu grupo de estudos. Sim, aquelas quatro. Não fazia ideia de como aquele grupo conseguiu sobreviver seis meses sem autodestruir-se. Éramos completamente diferentes. Allyson era uma pessoa sensata e gentil, muito fácil de lidar no dia a dia, o que foi uma grande surpresa, já que eu não imaginava que existissem seres humanos assim. Normani e Camila já eram melhores amigas antes de eu conhecê-las e aparentemente ficaram muito felizes em fazer parte do mesmo grupo. A primeira era objetiva, comedida e inteligente pra caralho - não de um jeito ruim, mesquinho e superior, mas de um jeito legal, embora às vezes eu me sentisse um tanto burra perto dela. Camila era de lua. Tipo, literalmente falando. Em 80% do tempo, ela se distraía fácil com absolutamente qualquer coisa e acabava perdendo o foco do assunto principal e quase sempre nos fazendo perder o foco também. Ela escrevia poesia, me contou certa vez enquanto conjugávamos verbos. Ela conseguia achar graça em quase tudo e as discussões costumavam terminar em guerra de cosquinha. Discussões? Isso mesmo. Motivo? Dinah Jane, principalmente. Ela era realmente uma pessoa difícil de lidar. Temperamental e grossa, para dizer o mínimo. Adorava colocar apelidos nas outras pessoas e não gostava de ser contrariada. Expansiva demais, barulhenta demais. Na minha opinião, isso fazia dela uma pessoa antipática.

Enfim, se você parar para analisar a composição do grupo, acaba meio que chegando à conclusão de que a Normani era a responsável por manter as notas de nós três - Dinah, Ally e eu - mais ou menos na média e impedir que a Camila repita de ano em Francês. Super équilibré.

Mas até que trabalhamos bem em equipe, tipo, na maior parte do tempo, o que já é uma vitória e tanto. Se ignorarmos alguns episódios singulares desde que nos juntamos - como a vez em que o labrador de três anos de Dinah, um cachorro que não tem a mínima noção de limites, me jogou no chão e me cobriu de baba, enquanto sua dona se acabava de rir; ou como as vezes que Camila deixou de fazer sua parte em algum trabalho por que estava ocupada demais fazendo streams de videoclipes de uma boyband que ela gosta - podemos até parecer um grupo normal. Parecer.

Não percebi o quanto a viagem tinha sido rápida (dadas as circunstâncias) até que Normani parou o Jeep em frente à minha casa. Levei a mão até a maçaneta da porta para abri-la, mas outra mão me parou.

- Quer que a gente entre com você? - Camila perguntou baixinho. Quase me deixei levar pelo seu tom preocupado, mas neguei com a cabeça:

- Não precisam ficar - e só para não ser taxada como mal educada: - Obrigada.

Não esperei por resposta e desci, rumando direto para a casa, sem olhar para trás. Peguei as chaves do carro do meu pai e voltei pelo jardim congelado em direção à garagem, mas estaquei ao ver uma figura metida em um moletom com estampa de bananas - sim, pequenas bananas em um fundo branco; isso era algo um tanto quanto memorável sobre ela, sua preferência incontestável por bananas.