01.

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- Você tem certeza? – Rodrigo perguntou. Estávamos sentados no sofá quando puxei o assunto.

- Nunca tinha atrasado tanto e a gente se descuidou muito ultimamente. – Respondi. O nervosismo fazia com que meu olhar permanecesse em minhas mãos, que não paravam quietas sobre meu colo.

- Você quer esperar ou prefere fazer logo um teste?

- Não sei.

Sempre foi bastante claro que a nossa percepção sobre o assunto gravidez se dava de formas muito distintas. Rodrigo parecia nervoso, óbvio, mas já era perceptível os resquícios de ansiedade na sua voz. Por outro lado, eu não conseguia lidar de forma alguma com a situação e mesmo sendo prática e gostando de resolver tudo o mais rápido possível, daquela vez minha vontade absoluta era de adiar esse teste o quanto pudesse.

- Amor. – Rodrigo começou depois de um tempo em silêncio. – A gente faz quando você estiver pronta, pode ser? Eu te amo, sempre te amei e a gente tá junto independente do resultado. Fica tranquila.

Foi o que tentei fazer nos próximos dias. Continuamos nossa rotina de gravação e a noite sempre tentávamos fazer algo que nos distraísse da situação, mas claro que falhávamos em todas as tentativas. Por culpa de Rodrigo, é importante ressaltar.

Ele não conseguia parar de se preocupar com isso. Ou melhor, não conseguia parar de se preocupar comigo. Todo dia inventava algo para me mimar, tentando fazer parecer casual, achando que eu não conseguiria perceber que em sua cabeça e coração eu já carregava um filho nosso.

Nesse ponto já havia feito duas semanas que tínhamos tido a primeira conversa e exatas três que minha menstruação estava atrasada. Eu tinha perfeita noção de que não dava mais pra adiar e que, fosse o que fosse, era hora de ter respostas.

Não avisei nada para o Rodrigo, por motivos já transparentes. Com os contatos certos, pude ter ajuda suficiente para garantir discrição e rapidez no exame de sangue. Mais cedo do que esperava, lá estava o envelope, com o selo da clínica e o meu futuro impresso. Não tinha coragem de abrir.

Achei que a essa altura a veia da maternidade já teria começado a pulsar, me deixando ansiosa por uma resposta positiva, mas estava cada vez mais certa de que, ou isso era o maior mito da história ou eu realmente não havia nascido para isso. Minha mente era um borrão.

Eu nunca conseguiria fazer isso sozinha.

Rodrigo estava com a mãe resolvendo alguma coisa que minha mente perturbada pela agitação não se lembrava, mas sabia que ele viria de onde quer que estivesse, o mais rápido que pudesse.

"Estou com o resultado aqui. Preciso de você."

"A caminho."

"Eu te amo"

O esperei no sofá, atenta a cada barulho que pudesse vir do corredor indicando sua chegada. Quando ele atravessou a porta eu já tinha certeza de que minha pressão não poderia estar normal, esse tipo de ansiedade não faria bem pro bebê, se realmente houvesse algum.

- Você abriu? – Perguntou rapidamente, enquanto sentava ao meu lado. Balancei a cabeça em negação e lhe estendi o envelope.

- Abre você.

Ele estava tremendo. Tudo estava acontecendo muito rápido. Olhei, roendo as unhas, enquanto ele lia o que estava escrito no papel. Concentrado, com a testa franzida, ficava difícil saber o que estava passando pela sua cabeça.

- E então...? Rápido, Rodrigo!

- Você está grávida. Nós vamos ser pais, Agatha.

Eu nunca conseguiria descrever tudo que aconteceu naquele milésimo de segundo que se sucedeu. Era como se minha mente tivesse explodido e não sobrasse nada.

Rod me puxou para um abraço, agarrei-o como se dependesse daquilo para sobreviver. Tentava pôr as coisas novamente no lugar, sustentada pelas suas juras de que tudo ficaria bem.

Mas era um momento muito delicado.

Naquela noite dormimos mais colados do que nunca antes. Adormeci sentindo o cafuné que ele fazia, na tentativa de me confortar.

Acordei cedo demais e aproveitei a oportunidade para pensar, sozinha, enquanto tomava uma xícara de café bem forte e quente. A ficha não havia caído e acho que não aconteceria tão cedo. Eu sei que não deveria estar sendo tão negativa ao encarar toda a situação, mas ela me apavorava. Era um mundo que eu não conhecia nada sobre. E foi pensando nisso que decidi que era melhor ter uma conversa com alguém que soubesse.

Por sorte Yanna estava acordada e respondeu meu telefonema no segundo toque. Fui direta, sem querer dar muitos detalhes sobre o assunto. Ela pareceu entender isso e aceitou o convite para um almoço sem fazer muitos questionamentos.

Quando voltei ao quarto Rodrigo já estava acordado olhando algo no celular. Bloqueou a tela quando me viu entrar e estendeu os braços me chamando para um abraço.

- Bom dia, amor. – Ele disse, dando-me um selinho. – Como você tá se sentindo?

- Essa é uma boa pergunta a qual eu não tenho resposta.

Ele sorriu e me puxou para deitarmos na cama juntos, olhando um para o outro.

- Eu sei que sua mente deve estar um loucura, mas eu só queria te dizer que, acima de todas essas inseguranças pela incerteza do futuro, eu estou muito feliz. Você é a mulher da minha vida e agora está gerando uma criança que é fruto do nosso amor e nada que nasce do amor pode ser ruim.

- Obrigada. Por tudo. Eu te amo e só preciso de um tempo pra me acostumar com a ideia de ser mãe.

- Eu amo você, Agatha e eu já amo mais que tudo o nosso bebê.

Rodrigo levantou a blusa que eu vestia e beijou carinhosamente minha barriga. Foi ali que me senti mãe pela minha vez e pelo menos por um momento o medo me deu uma trégua. 


...

Oi, meninas <3 Esperam que tenham gostado do primeiro capítulo e da proposta de trazer a gravidez de uma forma diferente pra esse casal. 

Não esquece de votar se tiver gostado, tá bem? Beijão. Até mais <3

Ain't No Sunshine ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora