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- Vamos. – Ele disse quando nos separamos do abraço. – Vamos pra casa.

Pegou a minha mala e disse que a levaria até o carro. Estava arrumando algumas coisas em minha bolsa quando minha mãe entrou no quarto.

- Você não sabe o quanto estou feliz, filha. – Se aproximou a afagou meus cabelos. – Nos últimos dias eu e Ana estivemos muito em contato, estávamos preocupadas com esse afastamento de vocês. Nosso papel como mãe é apoiá-los, mas eu sempre soube que você não conseguiria achar o que procurava longe dele.

- Eu te amo, mãe. Obrigada por me receber. – A abracei forte. Quando nos separamos, limpou minhas lágrimas e beijou minha testa.

- Vocês merecem toda a felicidade do mundo.

Retribui seu carinho beijando-a na testa também. Quando levei meu olhar até a porta encontrei Rodrigo nos encarando, sorrindo tranquilo com os braços cruzados.

- O que acha de uma pausa rápida na praia? – Perguntou.

- Eu acho ótimo.

...

- Eu vou te ouvir quando você se sentir pronta. – Rodrigo disse enquanto dirigia, depois de um tempo em silêncio. Afagou minha perna e me ofereceu um sorriso carinhoso. Mas eu não queria mais esperar.

- Eu quero falar agora. – Comecei. – Eu errei, Rod. Eu achei que estava fazendo o que era melhor pra todos, mas só baguncei tudo mais ainda.

- Não fala assim, Agatha. Tá tudo bem, de verdade. A única coisa que importa agora é que você tá voltando para a nossa casa.

- Tem mais uma coisa... – Mantive meus olhos em seu rosto para acompanhar sua reação. – Eu vi Helena.

- O quê? – Perguntou, tirando os olhos do trânsito rapidamente. Já estávamos chegando.

- Em sonho, eu acho. Não sei, parecia muito real. – Balancei a cabeça em confusão. – Mas eu vi nossa filha, amor, e ela era a coisa mais linda que meus olhos já viram.

- Meu Deus. – Foi o que ele conseguiu responder em meio ao sorriso que nasceu em seu rosto, acompanhado de algumas poucas lágrimas.

Esperei que ele estacionasse para continuar. Rodrigo segurou forte minha mão quando saímos do carro e permaneceu com elas assim mesmo depois que sentamos na areia, frente a frente. Contei a ele cada mínimo detalhe do sonho que tive mais cedo e sua única reação era sorrir e chorar, com os olhos fechados, imaginando tudo que eu estava lhe contando.

Nossas mãos unidas em um momento de troca. Pura e verdadeira. De felicidade por imaginar Helena em um lugar que só existe bondade e amor. Protegida e blindada de qualquer maldade mundana.

- Me desculpa. – Pedi baixinho. Ele me olhou no fundo do olhos por alguns segundos antes de me responder.

- Eu te amo tanto. – Sorri aliviada em resposta. – Eu te esperaria o tempo que fosse necessário, Agatha. Você deu vida ao meu maior sonho, me fez pai. Mesmo que o destino tenha mudado a forma como estávamos planejando que esse momento seria, eu ainda sou pai.

- Nós nunca vamos deixar de sentir a falta dela, vamos? – Perguntei.

- Nunca. E talvez nunca conseguiremos parar de nos perguntar como teria sido. – Suspirou. – Mas sabemos que ela está bem e que a vida tem que continuar.

Aproveitamos por intermináveis minutos aquele silêncio que nos era tão familiar e gostoso, apenas ouvindo nossas respirações e as ondas quebrando a nossa frente.

Rodrigo interrompeu abruptamente o carinho que fazia em minha mão, levando-a para próximo do seu rosto.

- Eu gosto do que vejo. – Afirmou me fazendo sorrir. – É aqui mesmo o lugar dela.

Estava se referindo a aliança, aquela que ele me deu quando eu estava cometendo o erro de deixa-lo para trás, mas que agora ornava minha mão, sendo um símbolo do sacramento que iríamos cumprir.

- Obrigada por me esperar e por me compreender. – Eu disse. – Anos atrás eu nunca imaginaria que estaríamos passando por tudo isso. Que eu iria me apaixonar por você e você por mim, que manteríamos um relacionamento firme e que teríamos toda essa história na bagagem. É surreal o quanto eu te amo e todos os dias amo mais. Cada gesto teu, cada toque, cada palavra que me faz ter certeza, agora mais do que nunca, que jamais vai existir alguém além de você. Nada além de nós.

- Quem diria, não é? – Perguntou, ainda olhando minhas mãos, brincando com os dedos, e os beijando ocasionalmente. – Quem poderia dizer que passaríamos de irmãos para namorados, noivos e tudo o mais que ainda seremos nessa vida? Talvez eu poderia, na verdade. Sempre foi você. Quando você sorria escandalosa ou quando você fechava a cara, toda concentrada antes de entrar em cena. Quando saíamos com nossos amigos. Quando ensaiávamos juntos, quando compartilhávamos medos e planos para o futuro. Sempre estivemos lá um pelo outro, não teria como ser diferente.

- Não, não teria.

Aproximei nossos rostos e encaixamos nossos lábios em um beijo, um gesto íntimo para selar nosso recomeço. Sempre me admirou o quanto seu beijo era capaz de trazer tantas sensações diferentes. O desejo do encontro de dois corpos e o amor do encontro de duas almas. Eu podia sentir o calor trazido pelo entrelaço das nossas línguas, e o aconchego trazido pelo carinho que ele fazia em minha nuca.

Tudo se encaixava. Como se tivéssemos sido feitos para pertencer um ao outro.

Mais tarde percebi que atravessar a porta do nosso apartamento foi estranho. Era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever porque eram muitos em um só, então preferi deixar a felicidade pelo retorno ser o maior deles. Vi o quadro que Rodrigo mencionou na carta e finalmente consegui sorrir e não chorar. Por ela, como prometido.

- Eu senti tanta falta desse lugar. – Falei, sentindo-o se aproximar atrás de mim e me abraçar.

- Pareceu uma eternidade. Não faz mais isso. – Implorou manhoso, virando-me de frente. – Eu não aguento, estou falando sério.

Sorri de seu drama e lhe roubei um selinho.

- Não vou a lugar algum sem você.

...

Vocês também estão sentindo esse cheirinho de fim de história?

Ain't No Sunshine ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora