As coisas estavam tranquilas e eu devia muito disso a Rodrigo. Ele, que nunca gostou de rotinas, se adaptou perfeitamente à uma porque sabia o quanto ela fazia bem para mim e para Helena. Todas as noites ele nos aconchegava em nossa cama e cantava. Leve e baixinho, como se fosse uma canção de ninar que acalmava tanto a mim quanto nossa filha. Meu coração se enchia dos mais puros sentimentos quando eu ouvia sua voz sussurrar os versos de Blackbird. Era um convite a um estado de plenitude há muito desejado.
As coisas também estavam passando muito depressa, mas a essa altura eu já havia me acostumado. Morarmos juntos foi um passo tomado naturalmente, não havia motivo para ser diferente. E quando descobrimos que no meu ventre era gerado uma menina, tudo se tornou ainda mais real.
Aquele sentimento de ser uma família já crescia tanto, que era quase palpável. Evidentemente, nem todos os dias eram fáceis, eu ainda estava trabalhando e haviam dias que a fadiga era insuportável, mas eu tinha todo o suporte necessário para passar por isso sem maiores transtornos.
Rodrigo nunca esteve tão afoito e agoniado, não parou quieto enquanto não conseguimos descobrir o sexo do bebê. Agora que já sabíamos, nosso passatempo preferido era sentar no chão do quarto vazio da nossa filha. As paredes já estavam pintadas e já haviam alguns quadros pendurados, tudo do jeitinho que estávamos planejando.
- Acho que deveríamos fazer outra aposta. - Ele disse, esparramado no chão, com a cabeça em meu colo.
- O que você quer apostar?
- Se ela falar papai primeiro...
- Ela não vai. - Interrompi. - Qual a graça de apostar se você sabe que vai perder?
- Adoro a sua confiança, amor, mas eu preciso de uma revanche. - Sorrimos e balancei a cabeça em negação.
- Você é bobo demais.
Rodrigo pegou minha mão, que antes estava em seu cabelo e a beijou. - Não vejo a hora de pôr meus olhos nela.
- Nem eu. É loucura demais ficar imaginando ela correndo esse apartamento inteiro? Brincando com todos os brinquedos que você tá comprando desgovernadamente?
- Não me faz falar quantos laços você já comprou, Moreira!
- A quantidade necessária, querido.
- Se fossem gêmeas, sim.
Depois de um série de risadas e provocações, deixamos o silêncio prevalecer no cômodo. Nos acostumamos a ficar assim por vários minutos e não era nada desconfortável. Na verdade, acho que era nesse momento que nossas mentes se conectavam para imaginarmos juntos todos esses momentos já mencionados anteriormente. Rodrigo sempre soube decifrar meus pensamentos, nossa cumplicidade sempre foi forte, mas a cada dia que passava eu sentia tudo isso aumentar mais e mais. Era o efeito Helena.
- Agatha. - Ele disse de repente, me fazendo ter um sobressalto, sentou-se e agarrou minhas mãos com certa urgência.
- Rodrigo. - Respondi fazendo graça.
- Eu te amo.
- Eu também te amo, meu bem.
- Eu sempre soube que você era a mulher da minha vida. A gente realmente sente quando é a pessoa, né? Eu posso ter me envolvido com o maior número de mulheres possível... - Revirei os olhos para essa afirmação e ele levantou o dedo como se para dizer algo importante. - Mas nenhuma delas fez eu me sentir como você faz eu me sentir, todos os dias. Como o homem mais sortudo do mundo. E o mais apaixonado. É por isso que eu quero me casar com você, porque não tem nenhuma outra pessoa no mundo que vai me fazer feliz.
Balancei a cabeça descontraída. - Eu que estou e grávida e você que fica... Espera, o que você disse? - Franzi a testa, com um pequeno sorriso estampando os lábios e com uma leve dificuldade em me situar na conversa.
- Eu literalmente acabei de pensar sobre isso e sequer tenho um anel, mas não é uma ideia absurda, é?
- Eu... Eu não sei, Rodrigo, você é doido. - Pus meus braços lentamente ao redor do seu pescoço e mantive o contato visual.
- Eu quero ter você pra sempre, vocês duas. Quero te chamar de esposa. Selar nossa união na frente de todas as pessoas que nos querem bem. Quero te ver... - Fez uma pausa e fechou os olhos. - Com o barrigão em um vestido de noiva. Você aceita?
- É claro que eu aceito, bobo. - Beijei-o da forma mais intensa que pude, não só porque estava me sentindo a pessoa mais feliz do Rio de Janeiro, mas porque tinha certeza que o homem que estava na minha frente me amava da mesma que forma que eu o amava.
E é muito bom se sentir amada. Por ele principalmente.
...
Rodrigo estava em nossa cama em um ligação com Ana quando sussurrei a ele que iria tomar um banho. Já estávamos ali há horas conversando e nos amando, a fim de comemorar o noivado-sem-anel, que era como ele estava chamando.
Deixei a água quente cair no meu corpo. Em minha cabeça eu me perguntava se ele sabia que, pra mim, aqueles objetos eram apenas formalidades. Tudo que nós precisávamos eu já carregava em meu ventre.
Deixei minha memória me levar para os momentos que vivemos antes de chegarmos até aqui. Todas os flertes, todos os beijos, as viagens, as primeiras vezes. Todas as noites de amor e os dias de aventura. Os amigos que apoiaram, os que zoaram e até os que duvidaram.
Olha só onde a gente foi parar.
Helena só estava a alguns meses em nossas vidas, mas trouxe consigo tudo aquilo que nos faltava e não sabíamos. Yanna me dizia que tudo que estávamos sentindo tomaria proporções ainda mais avassaladoras e isso me deixava cada vez mais ansiosa para pegar minha pequena no colo.
Deixei que uma lágrima solitária de felicidade caísse e fosse levada junto com a água que tomava meu rosto. Me distraí.
Por pouco tempo.
Senti um calor diferente em minhas pernas e me assustei ao ver que o líquido que escorria por elas não tinha a transparência límpida da água.
Era vermelha, desesperada e dolorosa.
- Rodrigo!
Foi tudo o que consegui gritar.
...
Oi! Não vou falar muito hoje.
Ansiosa pra saber o que vocês acharam.
Beijão, migas <3
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Ain't No Sunshine ✔
FanfictionO sol não brilha quando ela vai embora; não faz calor quando ela está longe. Qual seria sua reação se o curso da sua vida fosse desviado para um caminho completamente desconhecido? E se você simplesmente não conseguisse lidar com a situação? O amor...