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Não conseguia focar na estrada durante todo o trajeto, as flores ao meu lado exalavam um cheiro doce, mas que apenas me enojava. A rua pouco iluminada pelos postes de luz passava depressa. Eu comecei a perceber que eu realmente não conheço o lado sombrio de Vinicius. As flores, o cartão, as palavras que ele sempre me lançava. Eu ficaria muito mais relaxada se fosse um rato ensanguentado. Esse tipo de tratamento me faz ficar apreensiva não só pela minha segurança, mas como a das pessoas ao meu redor. Porque eu sei que ele não é calmo.

Apertei o volante, observando os nós dos meus dedos se tornarem brancos, tamanha a força que usava. A angústia disfarçada fora completamente exposta depois dos acontecimentos de cinco minutos atrás. Parei no sinal vermelho.

Ele estava me observando, estava lá todos os dias, todas as horas e eu fui ingênua o suficiente para pensar que ele havia desistido por conta do "sumiço". Escorei a cabeça no volante, fechando os olhos e soltando uma lufada de ar.

Deveria ir a policia? Ele pode ser considerado um stalker, não pode? Será que essa é a melhor maneira? Mas e se der errado? O que aconteceria comigo, não, com as pessoas que eu me importo? Eu não posso mais subestimar meu ex namorado, não posso fingir que o perigo não é real, porque é. Não acredito que ele seria capaz de matar, mas... Eu prefiro não arriscar.

Saltei do banco quando ouvi uma buzina furiosa atrás de mim, percebi que a luz já estava verde e engatei a marcha, continuando o caminho.

Assim que cheguei em casa, fui recebida por Brenda que estava na cozinha, preparando nossa comida.

- Oi. – murmurei, olhando para a figura de costas de minha amiga.

- Ah, oi! Meus pais já foram dormir, estavam tão cansados e... – interrompeu sua fala quando olhou para mim. – Cassie, está tudo bem?

Bastou o olhar da ruiva cair sobre mim que meu corpo todo estremeceu, um soluço alto e sôfrego escapando pela minha garganta. O buque de flores em minha mão caiu no chão, chamando a atenção dela por meros segundos, antes de desligar o fogão e parar em minha frente.

Não perguntou o que estava acontecendo e o porque de eu estar chorando copiosamente, apenas passou os braços ao meu redor, apoiando a cabeça no topo da minha e me deixou chorar. Me sentia segura ao lado dela, nossa amizade formada há pouco menos de um ano era algo tão... Único. Nós conseguíamos ver a alma da outra em uma troca de olhares.

Mesmo não sabendo o motivo, ela estava ali e isso era tudo que eu poderia pedir.

Depois de longos minutos abraçadas, me afastei lentamente, limpando o rosto.

- Desculpa. – falei fungando e apontando para sua camiseta. – Eu sujei com ranho.

Brenda olhou para a sujeira, depois para mim e soltamos uma risada.

- Obrigada. – sussurrei, pegando o buque do chão. – Prometo que te explico tudo, mas primeiro preciso jogar isso fora e tomar um banho.

Ela assentiu, dizendo que voltaria a cozinhar e que a comida já estava quase pronta. Ou seja, preciso me apressar.

Saí pela lateral da casa para jogar o buque em uma das lixeiras quando ouvi o farfalhar dos arbustos. Meus olhos voltaram-se para o outro lado da rua. As batidas do meu coração aceleraram consideravelmente, fazendo com que eu me apressasse.

Assim que virei de costas, meus pelos se arrepiaram, a sensação de estar sendo observada se fazendo presente.

Engoli em seco, caminhando a passos largos até a porta e respirando aliviada quando tranquei a mesma.

Apressei-me para chegar ao andar de cima, e logo me joguei para baixo do chuveiro. Mesmo com a água morna contra minha pele, parecia que não tinha maneira de me fazer relaxar. Toda essa história estava me dando dor de cabeça.

Who would believe it? [H.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora