008

2.2K 190 8
                                    

                             

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

                             

MELISSALevo a pequena colher com mousse a boca, o gosto do morango em contato com a minha língua me faz sorrir prazerosa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

MELISSA

Levo a pequena colher com mousse a boca, o gosto do morango em contato com a minha língua me faz sorrir prazerosa. Olga é uma grande cozinheira e adora me mimar com várias receitas de doce, também tem sido uma excelente amiga e confidente. Embora eu não conte tudo o que acontece entre mim e Lorenzo, ela sabe que não estamos bem e tem tentado me animar da sua forma, até sugeriu que eu saísse com seu sobrinho neto, o erro foi que ela fez isso durante o almoço, enquanto meu adorado tio comia uma bisteca. Ele quase engasgou. Ele também disse que eu estava proibida de sair com garotos. Bruto. Brigamos feio esse dia e passei a semana seguinte comendo no quarto, longe do seu autoritarismo.
Olga ergue uma sobrancelha e aponta a colher que está usando para mexer o purê de abóbora para mim.
–– Delícia. –– digo, sua expressão carrancuda suaviza e aproveito para levar outra colher a boca.
–– Fico feliz que você tenha gostado, menina, mas pare de comer a sobremesa antes do almoço!
–– Seria impossível não apreciar cada gostosura que você apronta, mulher. –– Pisco para ela que gargalha baixo com minha resposta. Me sirvo um pouco mais.
–– Vou guardar um pouco para o patrão. –– Diz e contenho minha vontade de revirar os olhos perante sua frase, aquele homem anda tão azedo que nem as melhores das sobremesas seria capaz de fazê-lo sorrir.
— Você tem filhos, Olga? — Indago, aproveitando sua companhia para conversar um pouco. Me dou conta de que não sei muito sobre a mulher, apesar de já ter se completado dois anos de sua contratação, mas não é como se eu estivesse aqui todo esse tempo, eu morava na escola e só vinha pra cá nas férias.
— Apenas um sobrinho. — Fala com tristeza e penso que talvez seja um assunto delicado e que ela não queira falar.
— Nada de namorado? — Pergunto para distrair e ela estala a língua.
— Não fale besteiras, menina. Quem precisa de um homem nessa idade? — resmunga, adotando uma expressão ranzinza.
— Dizem que panela boa é que faz comida boa. — pisco, repetindo a frase que uma antiga professora recitava em sala de aula.
— Pare de falar besteiras e saia da minha cozinha, anda. Eu não quero macho nenhum, quem manda no meu galinheiro sou eu e não estou afim de passar minha coroa. — Fala, sua voz altiva e ergo os braços em rendição.
— Você tem razão, Olguinha. Homem só atrapalha nossa vida, ficamos melhores sozinhas. — Digo, pegando mais duas colheradas de mousse da travessa. — Ela bate na minha mão e leva a sobremesa para a geladeira.
— Não seja tão gulosa, menina, deixe um pouco para o seu tio. E me diga, o que uma franguinha saída das fraldas sabe sobre relacionamentos? — questiona e dou de ombros, lembrando dos últimos acontecimentos. Ela tem razão, eu não sei nada sobre relacionamentos amorosos, a única coisa que eu realmente posso garantir é o repentino desejo de aprender mais sobre homens, específicamente, sobre meu tio. Ele tem se mantido distante,mal nos falamos, até parece que desenvolveu alergia a minha presença. Mudo de assunto, termino de comer e conversamos por um longo tempo.
Dou um beijo na bochecha dela, cheiro seu cabelo macio que me lembra algodão doce, falo para a mulher não deixar nada pronto para o jantar, pois pretendo pedir algo e tirar Lorenzo do sério. Ele está apresentando uma postura inflexível e vem me punindo com a falta de sua presença tem um par de semanas, não existem mais conversas ou qualquer outra coisa acontecendo entre nós. Os poucos momentos que compartilhamos juntos se resumem ao café da manhã e jantar, isso significa apenas ficar sentada em silêncio. A grande verdade é que venho me sentindo cada vez mais sozinha, Olga é minha única companhia, embora ela também não esteja aqui todos os dias. Não é como se eu quisesse outra pessoa pra conversar ou confiar, minha pessoa preferida era ele.
Ele sabe disso e mesmo assim, se afastou.
Eu mesma fiz questão de relembrar todos as promessas que me fez após a morte dos meus pais e as mais recentes também, posterior ao enterro de tia Solange. O que ele anda fazendo não é bom pra nenhum de nós, seu comportamento está me deixando confusa e triste. Vagar por essa casa sozinha me parecia a pior das punições, ficar perante sua presença e ouvir sua respiração sem ao menos ouvir qualquer coisa além de bom dia ou boa noite era torturante, por isso em meio às lágrimas que escorriam pelo meu rosto eu comecei uma briga na noite anterior. A discussão se propagava pelas minhas acusações, a cada palavra derramada por mim em sua direção era rebatida por um olhar frio e furioso. Cansada e frustrada o deixei sozinho na sala, triste e chorosa me tranquei em meu quarto.
Ele não veio se desculpar.
Fiquei acordada chorando a noite inteira.
Balanço a cabeça, afasto minhas lembranças e contenho as lágrimas que começam a cair por minha face.
Odeio o estado frágil e carente que me encontro.
Encaro o celular sobre a cama descoberta e penso se devo ligar para Cinthya, faz um tempo que não escuto sua voz e não ouço sobre todas as novas novidades que a garota acumula dentro de si. Respiro, eu não posso falar com ela. A garota é tão esperta que sacaria a melancolia em minha voz e desataria a falar sobre voltar ao internato.
"Você precisa voltar". Ela diria.
"Você estaria melhor aqui, com suas amigas". E, eu cederia, tão fácil como oferecer comida para alguém faminto.
Burra. Eu nunca deveria ter abdicado da minha vida por ele, mesmo sendo o que eu queria na época.
Idiota. Ele sempre foi cabeça dura, ao menos era o que titia falava.
Meu cérebro procura de forma incessante o motivo para tal afastamento, aquele beijo foi um mês atrás e é um bom tempo para perdoar alguém, mesmo que a pessoa em questão não tenha se arrependido do beijo e nem dos sonhos ou dos orgasmos que teve depois.
Merda.
E se ele sabe do que fiz? Seria esse o motivo de tanta raiva e exclusão?
Eu sou alguém horrível, nunca deveria ter feito aquilo pensando nele. Mas aquela sensação substituiu tão bem toda a dor que apertava meu peito que fiz novamente dois dias depois. Eu não quero ter o ar sendo retirado dos meus pulmões toda vez que penso em perder alguém.
Eu já perdi demais, não vou perdê-lo também.

O Viúvo Da Minha Tia. [ DISPONÍVEL NA HINOVEL]Onde histórias criam vida. Descubra agora