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MELISSA

Dias e semanas passaram assim como um soluço que chega, incomoda e parte.Fazem três meses desde o enterro, três meses que parei de frequentar a escola e passei a estudar em casa. Tudo que tenho feito é ficar em casa.Meus dias são tão entendiantes quanto as paredes brancas da cozinha, onde gasto boa parte do tempo ajudando Olga, o que é bom,porque assim não me sinto tão solitária. Ao contrário do esperado estudar em casa não é de todo ruim, na verdade, não precisar acordar cedo, dividir o banheiro e enfrentar os dramas diários da vida escolar. Tão vantajoso. Tio Lorenzo diz que adquiri maturidade muito cedo perante todas as perdas que tive que lidar, mas eu nunca tive nenhum apreço por essas fases da adolescência que a maioria dos jovens aprecia. 

A tranquilidade e a segurança me representam.
Nada de riscos.

Nunca.

Por outro lado, fico feliz que a dor não tenha sucumbido minha família e que o tempo passou rápido o suficiente para que tenhamos seguido em frente. Não que a dor tenha desaparecido por completo, acredito que nunca irá acontecer, mas estamos convivendo bem com o que a vida nos deu. A única coisa que nunca muda é o desespero que percorre meu corpo toda vez que enxergo os olhos tristes dele, apesar de todo o meu empenho para fazê-lo alegre todos os dias, em momentos que ele acha que não estou vendo o vazio preenche todo o seu ser e ele se tranca em seu escritório, contudo no último mês, tio Enzo parece realmente feliz com nossa vida e sempre sorrir em minha direção quando o encaro, deixando evidente a adorável marquinha em seu queixo. O azar foi que ele completou trinta e um anos exatamente um mês e duas semanas antes de seu aniversário de dez anos de casado com titia e por mais que ele tenha tentado negar, sei o quanto isso o atormentou. Significa também que foram dias terríveis pra todos nessa casa, principalmente pra mim, seu humor estava tão ruim que escolhi ficar longe.
Acontece que também não faz tanto tempo que fiz aniversário, sinto que meus dezessete anos não trouxeram mudanças só para meu corpo, posso sentir pensamentos e sensações surgindo agora mesmo. Sensações que acontecem quando estou pensando nele ou próxima o suficiente para sentir seu cheiro.

Passo minhas unhas recém pintadas de azul turquesa por minha saia preta plissada, encaro a porta trancada novamente e me espio no espelho que toma metade de uma das paredes do meu quarto, encaro a imagem em minha frente por alguns segundos sem entender o real motivo da minha curiosidade. Não posso deixar de ficar nervosa com todos os hormônios se aglomerando dentro de mim, eles me trazem sensações e pensamentos novos a todo instante. Por exemplo, eu nunca tive vontade de encarar meu corpo nu e avaliar como ele era, no entanto, aqui estou eu. Mordo meu lábio e dou mais uma olhada na porta trancada.
Respira, Melissa.

Os olhos grandes azulados que herdei de mamãe, descem por todo o meu reflexo e paralisam nas minhas mãos apoiadas em cima do zíper lateral da saia, eu o desço lentamente e ela cai no chão,se amontoando nos meus pés. A jogo para o lado e volto a me olhar. Minhas mãos seguem para a dobra costurada na extremidade da minha blusa branca, a bainha e a puxo pra cima. Estou apenas de lingerie preta e um "oh" deixa meus lábios quando constato que pareço atraente vestida assim. O sinal de nascença em meu quadril,um que parece um coração, deixa ainda mais saliente o contorno da renda da calcinha em minha pele pálida.

O Viúvo Da Minha Tia. [ DISPONÍVEL NA HINOVEL]Onde histórias criam vida. Descubra agora