Norfolk, Inglaterra, Outubro de 1851
À sua volta tudo era negro, a chuva batia furiosa contra as janelas e os relâmpagos reverberavam pela cidade, furiosos e poderosos. Era uma força motriz e assassina, que varria a cidade e obrigava as pessoas a procurar refúgio nas suas casas para não se molharem e não serem fulminadas por um dos relâmpagos que, não se sabe, podia ser Zeus a lançá-los sobre a população descontando a sua cólera e frustrações na raça humana.
Estava encolhida num canto da arrecadação onde se escondia desta vez. Ao contrário dos outros, Georgiana procuraria refúgio fora e longe de casa, bem longe, longe do marido e do inferno que este lhe causa, das feridas que lhe provoca, das humilhações a que a submete, da dor que ele lhe dá, tudo isto em troca da clausura dentro da mansão de Norfolk.
Georgiana ficava presa nas mansões de luxo de Norfolk, Wolverhampton, Devonshire, Bath e Luton, enquanto Henry passeava por Londres despreocupado e sem remorsos, dormindo com prostitutas como se fosse um homem solteiro, sabendo ele bem que mantinha a esposa presa numa mansão algures naquele país.
Já tentou fugir por diversas ocasiões, mas sem sucesso. Planeara fugir para a Escócia numa dessas vezes, mas para o seu azar o marido apanhou-a, e depois disso um serão de pancada aconteceu. Ficou com hematomas em todo o lado, e aproximando a mão da virilha ainda sentia a dor que ele lhe infligiu ao possuí-la à força, com investidas vigorosas e dolorosas enquanto tinha uma mão no seu pescoço, observando as marcas do cinto e as nódoas negras que ele causara na pele leitosa, outrora perfeita e lisa. Ainda doía, mesmo tendo passado três meses desde que a forçou pela última vez.
Não tinha ódio dos pais por a terem entregado em casamento a um monstro pois Henry soube como atuar, soube iludir e enganá-los e até a ela própria, isto para impedir que se casasse com outro. Um sentimento de posse havia-o consumido, e ainda consumia, e era por isso que ele simplesmente não a largava.
Ouvia os seus passos pesados e o arrastar da fivela do cinto pelo soalho, mordeu o punho para não emitir qualquer barulho que denunciasse o seu esconderijo, mas ele iria encontrá-la, ele encontrava sempre. Chorava de medo pois era isso mesmo que sentia dele, não o denunciava porque não podia, ele era o seu marido e não havia nada que pudesse ser feito por isso. Estava destinada a uma vida de dor e sofrimento, e ainda só passaram dois anos.
— Não adianta esconderes-te, Georgiana! — bradou Henry ainda distante. — Eu irei encontrar-te, e o cinto está ansioso para tocar essa pele maravilhosa e branquinha.
Evitou um soluço choroso, apertou os olhos e mais lágrimas saíram. Estava aterrorizada.
— Eu vou mostrar-te o que se faz para domar uma mulher, e garanto-te que será de um modo que te fará perceber de vez! — ouviu novamente o trovejar da voz do marido, mais poderosa e assustadora do que os trovões lá fora.
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A Rosa E A Tempestade
Historical FictionLady Georgiana Howard era uma mulher destruída. Durante os dois anos em que estava casada foi constantemente agredida, abusada e humilhada pelo marido, o cruel conde de Wolverhampton, Henry Howard. No fim de cada dia as frustrações do marido...