Dançando na chuva

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Janeiro, 2020
Ilha de Itacuruça, Rio de Janeiro

Observava o sol começar a se por, dando um tom alaranjado para aquele fim de tarde. Não havia uma nuvem sequer no céu. Era a paisagem perfeita para um momento especial. Talvez o mais especial de sua vida até agora.

Se alguns anos atrás alguém lhe falasse que ela estaria vivendo tudo isso, não teria dado ouvidos. Nunca pensou que se sentiria tão realizada vivendo um momento tão clichê. Em seu coração nada fazia mais sentido, e pegou-se pensando que talvez, lá no fundo, ela sempre tinha sonhado com isso. Com ele. Sempre foi ele.

Sorriu ao observar o mar de longe, da janela do quarto onde fizeram amor pela primeira vez há mais de um ano e meio atrás. Um calafrio sempre lhe percorre quando lembra daquela noite. Sentia na pele todas as sensações que ele lhe provocou, como se tivesse sido ontem.

Quanta coisa tinham vivido depois daquela noite. Quantos obstáculos tinham superado, alguns que ela mesmo tinha imposto, guiada por inseguranças bobas. Quantas coisas novas e maravilhosas ele lhe tinha apresentado, e quanto ela o tinha feito amadurecer.

O orgulho que sentia da história que estavam construindo juntos, e do caminho que tinham trilhado até aqui, lhe enchia o peito. Ela era tão dele, e ele tão dela. Não poderia ter mais certeza do sim que dissera naquela noite quente e de garoa fina na Bahia, há exatamente um ano. Se fechasse os olhos conseguia escutar as palavras que ele lhe sussurou, em um impulso, e ainda assim tão certo do que estava lhe pedindo.

Janeiro, 2019
Caraíva, Bahia

Suas gargalhadas contagiavam todos ao redor enquanto Rodrigo a embalava no ritmo do forró. A garoa fina que caia era um alento para seus corpos depois de um dia escaldante. O único pensamento que lhe passava era de que queria congelar aquele momento no tempo. Ela e Rodrigo, ali, dançando agarradinhos, em uma bolha de amor e felicidade.

Não se recordava de ter vivido tempos mais felizes que aqueles. O que escrevera para ele no aniversário que tinha passado a pouco não podia ser mais verdadeiro. Rodrigo realmente sabia transformar qualquer cantinho do mundo em um paraíso. O estava fazendo naquele exato instante.

A girou no ar quando a música acabou, os levando para um cantinho mais afastado. Agatha manteve as mãos enterradas nos cabelos curtos e enxarcados dele. Sorria tanto que as bochechas já começavam a doer.

Tinha alguma coisa diferente aquela noite, não conseguia dizer exatamente o que, mas sentia uma ansiedade boa e constante por algo que não sabia o que era. Aquele lugar, a música, a chuva que caia sobre eles. Era quase mágico.

A lua iluminava os olhos de Rodrigo, eles pareciam mais apaixonados hoje, e ela tinha certeza que os dela também estavam assim. Sua figura molhada da chuva, a camisa colada ao corpo, estava hipnotizada.

"Eu sou maluca por você, sabia?"

Rodrigo sorriu. Aquele sorriso solto que lhe derretia toda. A puxou firme pela cintura, colando seus corpos e deixando a boca centímetros da dela.

"Eu sabia." Respondeu lhe apertando contra si um pouco mais. Ela não sabia dizer se estava embriagada devido a bebida que tinha ingerido ou se era o cheiro dele misturado ao cheiro da chuva que estava lhe tirando o juízo. "Mas você pode me mostrar o quanto é maluca por mim sempre que quiser."

Lhe deu uma mordida leve no lábio inferior antes de puxá-la para um beijo molhado. Se perderam na boca um do outro, as línguas se refestelaram. Estavam alheios a tudo que acontecia em volta.

Atordoada pela intensidade do beijo e do desejo que sentia, Agatha gemeu.

"Deus do céu, eu te quero demais." Rodrigo sussurrou, a respiração descompassada, sem conseguir esconder que estava tão atordoado quanto a mulher em seus braços. Ela já sentia o quanto ele a queria. "Acho que a gente precisa sair daqui, agora."

Momentos de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora