Porque eu te amo

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Outubro, 2018

Os dias que se seguiram ao fim das gravações da novela passaram em um piscar de olhos. Logo após a viagem para a Chapada, Agatha tinha embarcado para Fernando de Noronha com a família de Rodrigo.

Depois que ele a presenteou com o colar, insistiu que ela fizesse a viagem com ele, sua mãe, Yanna e Madá. A proximidade com a família dele, principalmente ao vê-lo com  Madalena, faziam a imagem da garotinha de cabelos escuros e olhos verdes tomar cada vez mais forma em sua mente e em seu coração.

Tinha medo. O amor que sentia por ele ultrapassava qualquer outra coisa que já pensou sentir por alguém, e só a idéia de perdê-lo era o suficiente para que um buraco se abrisse em seu peito. Repetia então, como um mantra, para si mesma e para quem quisesse ouvir, a descabida sentença.

Sem rótulos.

Se não o tivesse por completo não poderia perdê-lo. Não suportaria uma vida em que não pudesse nem ter a amizade dele. Mentia todos os dias para si mesma que era o melhor a fazer.

Apesar de sua sempre presente insegurança, estava feliz. Tão feliz que nem se deu conta que a viagem de Rodrigo para Portugal, seguida de outra para rodar um filme com o irmão no Rio Grande do Sul, estava batendo na porta.

Estavam sentados no chão da sala, na noite anterior a partida dele, comendo sushi e jogando conversa fora.

Rodrigo contava animado e orgulhoso sobre o curta que Bruno iria dirigir. Agatha tentava parecer tão animada quanto, mas seu coração estava angustiado. Pensar em ficar longe dele por tantos dias estava trazendo a tona todas as inseguranças que em vão tentava varrer para debaixo do tapete.

"Agatha!" Ele chamou, sua voz a trazendo de volta do mundo de seus pensamentos.

"Que?"

"Você estava longe." Ele respondeu, com uma expressão curiosa, tentando ler a mulher a sua frente.

"Desculpa." Sorriu fraco. "Estou um pouco cansada."

"Estava falando sobre os amigos que vou encontrar em Portugal."

O pensamento a fez fechar os olhos e engolir em seco. Não pensou antes de proferir as palavras que sairam de sua boca em seguida.

"Acho que vai se divertir muito." Sentiu um gosto amargo na boca. "As portuguesas que se cuidem com vocês lá." Finalizou, sem olhar pra ele.

Rodrigo sentiu as palavras lhe atingirem como agulhas. Sentiu, pela primeira vez na vida, raiva dela. Como ela poderia insinuar isso diante de tudo que estavam vivendo?

"Porque você faz isso?" Ele questionou, com os olhos fixados nela e a voz seca, devolvendo o sushi que ia comer ao prato. Era como se uma corrente elétrica estivesse passando pelo seu corpo. Não conseguiu segurar as palavras.

"Porque você insiste em insinuar que o que a gente tem não significa nada? Que você não significa nada pra mim?"

Agatha se assustou. Arregalou os olhos enquanto ele levantava do chão, visivelmente nervoso.

"Credo, Rodrigo." Demorou pra achar as palavras. Quando a voz saiu ele já estava quase saindo da sala. "Foi só um comentário, porque essa reação?"

"Porque eu te amo, porra."

A voz alterada dele lhe atravessou o peito. Os olhos verdes arregalados encontraram os castanhos quando ele parou de andar e se virou.

"Porque eu te amo."

Ele repetiu, dessa vez mais baixo e mais comedido, os olhos queimando nos dela, como se tivesse voltado ao seu corpo depois de um momento de loucura.

Momentos de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora