Capítulo 6

154 21 0
                                    

Na quarta-feira conheci Alex, o fisioterapeuta de Frederico, um verdadeiro Deus Grego de tão lindo e muito gentil. Ele me ensinou alguns exercícios básicos e explicou o quadro clínico de Frederico. Disse que seu tipo de paraplegia era reversível, pois a cirurgia que fez logo após o acidente ajudou a intervir a compressão medular total, só que não havia garantia de que ele voltaria a andar normalmente.
Eles já haviam feito fisioterapia intensiva todos os dias, por 6 meses. Alex disse que Frederico precisava ser incentivado diariamente, pois seu estado psicológico era a etapa final e fundamental para esta longa recuperação.
O resto da semana transcorreu sem nenhum momento mais significativo. Todos os dias fazíamos exercícios pela manhã e no final da tarde, levava Frederico para mais uma volta pelas ruas do condomínio. Passei o fim de semana em casa, mas logo voltei para a mansão no final do domingo.
Frederico aos poucos foi interagindo mais comigo e no final da segunda semana eu até o chamava de Fred, um pouco a contra-gosto...dele.
Sexta-feira à noite, estava arrumando minha mochila para ir para casa quando ele entrou no meu quarto perguntando se eu queria carona e eu recusei. Pode parecer bobagem minha, mas não estava pronta pra mostrar à ele onde moro e nem enfrentar perguntas.
Cheguei em casa e vi meu pai de costa para a porta, entrei sem fazer barulho, fui até ele e coloquei minhas mãos em seus olhos, tampando-os.
- Adivinha quem é?
- Ah, deixe-me pensar... - começa a rir. - Acho que é a minha princesinha gordinha e baixinha!
- Poxa vida, pai! Eu emagreci uns quilinhos! - faço cara de emburrada e o abraço.
- Como você está, querida?
- Bem pai e tudo por aqui? Dr. Felício adiantou um pouco do meu pagamento desse mês, então vou deixar algum dinheiro para o senhor pagar as contas e fazer um mercado básico, está bem?
- Obrigada. Tenho muito orgulho de você, menina! - afagou meus cabelos
- E onde está o Pequeno Gafanhoto?
- Não chame seu irmão assim, você sabe que ele odeia. - me repreende - Ele está estudando pro vestibular no quarto, pode ir lá.
Vou até o quarto do Noah e encontro ele dormindo de boca aberta em cima dos livros. Não perco a chance e tiro algumas fotos com meu celular para uma chantagem futura. - Sorrio com o pensamento. - Pego uma caneta piloto que estava jogada no chão e desenho, bem devagar, um bigodinho estilo Mario Bros em seu rosto. Perco a amizade, mas não perco a piada.
- Noah, acorda. - cutuco seu ombro.
- Só mais cinco minutinhos. - resmunga e eu continuo o cutucando até que ele levanta coçando o olho esquerdo. - Pronto, está feliz?
- Ah, meu pimpolho! Venha cá me dar um abraço! - o aperto e começo a fazer cócegas. Nessa hora, papai entra no quarto e paramos para conseguir algum fôlego.
- O que está acontecendo aqui? - pergunta e fazemos aquela cara de coitado que todo filho faz quando é pego - Meu Deus, o que aconteceu com seu rosto, Noah? - Noah corre para o banheiro e solta um grito: ALANNA! E nessa hora sei que o bicho pegou. Levanto sorrindo e saio correndo para achar um esconderijo.
-=-
Cheguei na mansão era quase onze horas de domingo, estava tudo muito silencioso, então entrei sorrateiramente no meu quarto. Depois de guardar minha mochila, deitei na cama e fiquei refletindo sobre tudo. Minha vida tomou um rumo diferente nas últimas semanas, só espero que eu esteja fazendo tudo certo e logo essa maré ruim irá acabar.
-=-
Na manhã de segunda-feira, encontrei Fred tomando café da manhã e conversando com a dona Esperança na sala de jantar. Estava um dia ensolarado e logo tive uma ótima ideia para praticar exercícios ao ar livre.
- Bom dia, queridos! - disse me aproximando e dando um beijo na bochecha de dona Esperança. - Fred, você já terminou de comer?
- Bom dia. Já terminei sim, por quê?
- Isso é ótimo! - bato palmas - Vá para o seu quarto e coloque uma sunga, vamos nadar hoje.
- Eu não consigo nadar desse jeito, Alanna. Tire essa ideia da cabeça.
- Não reclame, lembra do nosso combinado?
- Se você não tentar, nunca vai saber... - resmunga. - Está bem, te encontro em quinze minutos.
Corri para me trocar e escolhi um biquini de cintura alta azul marinho e branco, calcei minhas havaianas vermelhas, peguei minha saída de praia e desci. Cinco minutos após Fred chegar, comecei a explicar o que iríamos fazer.
- Quero começar devagar com você, vamos apenas sentar na borda da piscina. Você consegue se equilibrar bem?
- Claro!
- Então, vou entrar na piscina e você vem comigo. Tudo com calma, tudo bem?
- Ok, vamos logo. - diz impaciente tirando sua blusa. Desvio os olhos por um momento e sinto minhas bochechas esquentando. Não posso negar, Fred tinha um corpo fora do comum. Envolvo meus braços em sua barriga e o ajudo a sentar na beirada da piscina, tiro minha saída de praia e sento ao seu lado.
De repente ele solta uma risada e é um som contagiante. - Eu estou sentindo! - o encaro não entendendo. - E-eu, não, não é como se eu fosse mexer agora, ma-mas eu sinto a água batendo em minhas pernas. - diz gaguejando e seus olhos brilham em minha direção.
- Isso é maravilhoso! - exclamo e lhe dou um forte abraço. - Está vendo, Fred, você vai conseguir. O processo é lento, mas o resultado é gratificante. Vem, - entro na piscina e estico os braços para o pegar - vamos dar um mergulho, vou ficar te segurando.
- Você vai me aguentar? - pergunta cruzando os braços e me dá um olhar duvidoso.
- Claro, está me chamando de fracote? - jogo água nele - Você não sabe que a água deixa a gente mais leve? Pare de blá blá blá. - Ele segura meus braços e vai descendo com calma. Retiro o que disse, até embaixo d'água ele é um pouco pesado, mas ele não precisa saber disso.
- Está tudo bem?
- Sim. Ainda consigo sentir a água nas pernas e é uma sensação maravilhosa, parece que tem algumas bolhas atrás do meu joelho. Isso é demais! - sorri
- Fico tão contente com isso. Logo você estará correndo mais do que eu por aí, você verá.
- Eu estava com muito medo, Alanna. Ainda tenho, mas não tanto quanto antes. - confessa - Quando eu acordei naquela cama de hospital eu me senti frágil e inválido. Nenhum homem gosta de se sentir assim, na verdade, ninguém gosta.
- Te darei todo o direito caso não queira me responder, mas como você ficou assim? Sei que foi em um acidente, mas nada mais que isso. - perguntei enquanto o balançava de um lado para o outro.
- Sem problema. Tudo aconteceu quando fui ao aniversário do meu melhor amigo, Felipe. Naquele dia tudo estava dando errado. Quando cheguei na festa, a irmã dele ficou bêbada e pegou no meu pé a noite toda. Sai da casa dele cedo, por que no outro dia eu teria que fazer uma viagem com meu pai, por causa da empresa. Eu tinha acabado de assumir a presidência e meu pai tinha se aposentado, aquela seria nossa última viagem de negócios juntos. Duas ruas depois da casa do Felipe, fui atender meu celular e quando olhei novamente para a frente, vi uma criança atravessando a rua. Eu não consegui desviar a tempo. Juro por Deus que tentei, mas não consegui. - ele desvia o olhar e vejo seus olhos juntando lágrimas - Meu carro só parou quando bateu em outro carro parado. Depois disso, só lembro acordando no quarto do hospital e vendo minha mãe com a cabeça deitada na cama segurando minha mão. - ele sorri - Você ainda não conheceu a minha mãe, ela é uma pessoa maravilhosa.
- E o que aconteceu com a criança?
Seu semblante muda totalmente e ele tenta esconder, virando o rosto, a lágrima que caiu. - Ela não sobreviveu. Foi praticamente arremessada pelo carro. Pela droga do meu carro, tudo por minha culpa! - ele se altera um pouco.
- Está tudo bem, - digo tentando confortá-lo - foi uma fatalidade, não tem por que ficar se culpando pra sempre. - puxo-o para um abraço. No começo sinto ele endurecer, mas logo ele relaxa e retribui. - Obrigada por confiar em mim e me contar.
- Faz pouco tempo que você chegou aqui e eu não fui muito legal com você no começo. Achei uma ideia absurda do meu pai te colocar como minha babá, mas estou me acostumando com essa ligação que criamos. Você é uma boa pessoa, um anjo. - diz a última em um sussurro enquanto se afasta um pouco para olhar diretamente nos meus olhos. - Você está me ensinando um novo significado da palavra viver.
Fiquei feito as mocinhas de romances quando o olhava, ruborizada e fascinada. Ele, muitas vezes, era um leão na pele de um cordeiro e agora estava se mostrando tão gentil que eu apenas queria puxá-lo e beijá-lo.

Eu tinha que sair da piscina.

Agora.

Olá, poderosas e poderosos!
Como estão?
Tive uns probleminhas com meu notebook e só consegui fazer a postagem hoje, peço desculpas. Esta semana vou adiantar o capítulo 7 ❤️

SimplificandoOnde histórias criam vida. Descubra agora