O resto da semana passou voando e quando dei por mim, já era manhã de segunda-feira. Para o look do dia, escolhi uma calça jeans de lavagem escura, blusa de manga comprida preta e meus tênis rosa.
Estava indo à casa do senhor Frederico. Martin, um senhor alto e bem-disposto estava conduzindo o carro e puxava conversa sobre amenidades, até que entramos em um condomínio e paramos em um portão alto e negro de ferro. Martin digitou um código de quatro dígitos no letreiro que apareceu em um canto do muro e adentramos à propriedade.
— Nossa! — exclamei ao ver o esplendoroso jardim a minha frente. Fiquei embasbacada.
À frente da casa, pode-se visualizar um enorme jardim de petúnias roxas e rosas vermelhas. O contraste com a enorme casa branca com janelas em madeira era divino. Fui recepcionada por uma senhora baixinha que se apresentou por Esperança e foi me mostrando a casa.
O hall era muito sofisticado, quadros de pintores conhecidos ordenavam as paredes e um aparador de mogno se encontrada a minha esquerda com um espelho em formato de folha. A sala de estar possuía uma enorme lareira, onde haviam duas poltronas egg em tom vinho em suas extremidades e um sofá de couro um pouco mais distante em L na cor preto. A cozinha era o meu próprio sonho de consumo. Ela ostentava uma ilha toda em aço e mármore preto, só isso me conquistou. A sala de jantar era composta apenas por quadros na parede, um lustre que fez com que a primeira coisa que eu pensasse quando o vi fosse "coitado de quem limpa" estava no centro de uma belíssima mesa de 6 lugares. No segundo andar, haviam cinco quartos e uma sala de tv.
Fui encaminhada para o último quarto no fim do corredor, todo em tons de marrom e azul. Era divino.
O quarto possuía uma cama queen size com lençóis de cetim azul, quadros estrategicamente pendurados na parede e um tapete felpudo marrom. O banheiro tinha uma bancada de mármore marrom e um enorme chuveiro com uma banheira que caberia confortavelmente de duas ou três pessoas. Era um verdadeiro luxo para mim, uma pessoa que estava acostumada a um chuveiro que de vez em quando queimava a resistência ou faltava água.
Depois de finalmente ser deixada sozinha no meu quarto e Esperança ter me avisado que o almoço seria servido em breve e que me chamaria para me juntar aos demais funcionários na cozinha, adivinha qual foi a primeira coisa que fiz? Arranquei os malditos saltos e comecei a pular na cama feito uma criança. Sim, eu tive infância, mas mamãe sempre brigava quando eu ou Noah fazíamos isso. Tudo tinha que estar impecável.
Me canso de pular e aí vem o gran finale, faço um último salto e caio rindo de costas na cama abraçando minha barriga. Eu estava naquele momento delicioso quando percebi um vulto no lado da porta do quarto, olho rapidamente e meus olhos encontram outro par de olhos castanhos sérios e pensativos. Um belíssimo homem estava parado na minha porta olhando-me fixamente e isto não era tudo, ele estava sentado em uma cadeira de rodas.
Tive meus cinco segundos sem reação e logo levanto e vou a sua direção.
— Bom dia, como vai? — falei sem jeito. — Sinto muito por ter presenciado isso. Meu nome é Alanna — sorrio e estico a mão direita para um cumprimento.
Ele me olha dos pés à cabeça, até que vira sua cadeira de rodas, saindo do quarto e resmungando.
— Eu sei quem você é.
Que legal, já comecei com o pé esquerdo.
Frederico
Quando meu pai chegou com essa história de que contrataria alguém para me ajudar, não disse que seria uma garota destrambelhada como o que presenciei a poucos minutos, imaginei mais alguém como meu treinador Alex. Se eu houvesse tido a oportunidade de opinar na decisão, teria dito para me arranjar um cachorro, seria bem mais produtivo seu dinheiro empenhado e me seria uma companhia agradável, pelo menos eu não teria que conversar.
Agora chega esta garota que nunca vi na vida para morar comigo. O que ele tem na cabeça? Será que não pensou que uma completa estranha poderia facilmente roubar algo ou fazer alguma coisa errada?
Eu estou sobre essas malditas duas rodas, não preciso de ninguém para tentar me animar. Eu sou inferior às outras pessoas, estou derrotado.
Ele me pediu para dar uma chance a ela, disse que seria uma ótima oportunidade para interagir com alguém que não fossem os empregados e as formigas do jardim.
— Hunf! — bufei. — Formigas do jardim...
Desde o acidente, não que eu tenha totalmente me fechado ao mundo, apenas acho que estou em um período não digno de sair por aí. Eu tenho que me redimir com a família daquela menininha. Sei que nada pode suprir a falta dela, mas preciso tirar esse peso do coração.
Isso está me matando por dentro.
Por inconsequência minha, no dia do acidente acabei atropelando uma criança de cinco anos que saiu de perto dos seus pais sem que eles percebessem e correu para o meio da rua. Eu, bêbedo, não enxerguei e ela acabou morrendo na hora devido a batida.
Nos primeiros dias que sai do hospital, toda manhã eu fazia meus exercícios e corria com Martin para o cemitério para visitar o túmulo da criança e deixar alguma coisa. Alguns dias eram pequenos ursinhos, outros dias eram flores.
Como costume do meu país, aqui nos Estados Unidos é muito comum você ver no local do acidente placas informando sobre o ocorrido e decorações com diversos objetos. Pedi que fizessem uma placa para colocar no local e que ela fosse adornada com ursos de pelúcia e laços cor-de-rosa. Isso não é bonito, mas atentaria os demais motoristas de que tomassem cuidado na região pois ali havia morrido uma criança.
Nada vai aliviar a dor dos pais, mas pode aliviar minha consciência com o passar do tempo.
Eu realmente espero que alivie toda a dor que há no meu peito e alma, porque sei que o castigo de estar em uma cadeira de rodas pode ser irreversível.
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Simplificando
Literatura Feminina🚨 Alerta de comédia romântica na AMAZON - https://www.amazon.com.br/dp/B07XQFMRL1/ref=rdr_kindle_ext_tmb 🚨 esta versão há prólogo, cenas extras, capítulo bônus e epílogo. Classificação +18 anos, não sendo apropriado para todos os públicos. Após...