Capítulo 9

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Passaram-se alguns dias desde a visita de George, Patrícia e as crianças por aqui e tudo estava indo de vento em popa.

Fred e eu, de vez em quando, fugíamos de madrugada um para o quarto do outro para nos entregarmos aos beijos e amassos, nunca passamos disto. Ele não havia feito um pedido de namoro oficial e eu realmente não sabia o que nós éramos, mas não queria terminar isto nem tão cedo.

Um dia, estávamos no 'maior amasso' na sala de TV, quando dona Esperança entrou sorrateiramente e nos pegou no flagra. Fiquei morrendo de vergonha, enquanto Fred tinha um sorriso bobo no rosto e Esperança saiu pedindo mil desculpas. Fred neste dia abraçou-me e apertou minhas bochechas dizendo que eu não precisava ter vergonha e não precisávamos mais nos esconder.

Fui dormir com um sorriso bobo no rosto.

Mesmo indo apenas aos finais de semana para casa, não deixava de ligar para papai ou Noah durante a semana. Noah finalmente prestou seu primeiro vestibular para Engenharia Química e estava esperançoso quanto seu resultado. Estamos aguardando a nota ainda.

Ontem, quinta-feira, o senhor Felício veio jantar aqui e fez uma grande festa depois que aceitei me juntar a ele e Fred à mesa. Relutei no começo, pois achei que era um momento pai e filho e não caberia a eu atrapalhar. Enganei-me totalmente, comemos um delicioso salmão com aspargos, embalados pelas histórias da infância de Fred e George.

Hoje, Fred já tinha pedido cinco vezes para que eu não fosse à casa do meu pai e sim o chamasse para vir aqui. Eu estou completando dois meses desde a minha chegada e não acho ético chamar a família para vir ao trabalho. Depois de muita insistência, combinamos que no próximo final de semana os traria para conhecer.

Fechei a porta do quarto e ia saindo da casa, quando escutei Fred me chamando.

- Não tenho como fazer você mudar de idéia? – disse puxando-me para sentar em seu colo.

- Não, Fred. Estou morrendo de saudades de papai e Noah, fiquei a semana toda sem vê-los.

- Eu só preciso de um sim e Martin vai buscá-los.  – disse enquanto depositava dois beijos abaixo da minha orelha. – Por favor, Lanna. Não me faça esperar até semana que vem.

- Eu preciso desse final de semana sozinha, preciso pensar e não conseguirei fazer isso com todos aqui. – digo tentando sair do seu colo.

- Pensar no que?

- Em nós, eu preciso saber o que nós estamos nos tornando Fred. Está tudo muito bom, eu confesso, mas até onde isso vai chegar?

- Não tem o que pensar Lanna, estamos juntos, somos bons juntos. Deixa rolar! – exclama.

- Por favor, me dê apenas este final de semana. – suplico enquanto deposito beijos em seu rosto. – Eu só preciso colocar as idéias em ordem.

- Tudo bem, mas não mude o que temos, por favor.

Despedimos-nos e sigo meu caminho para casa. Acostumei-me fácil a morar na mansão, mas nada como o nosso lar doce lar.

Adentro a casa e pego meu pai cochilando na poltrona da sala, diminuo os barulhos que faço e sigo em direção ao quarto de Noah. Entro de fininho e o pego sentado a cadeira do computador com seu Siberia V8 e cantando baixinho. Uma voz doce e melodiosa.

"Nem sempre o céu sorri pra mim
Nem sempre eu sou tão livre assim
Quem não pensa em parar
Quem não pensa em fugir

Sem destino
Dá vontade de sair
Sem destino
Sem saber aonde ir

Para onde vai o tempo
Para onde vão os sonhos
Pra onde foi o que eu sentia
De repente
Tudo muda sem aviso
De repente

A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre (...)"

O abraço sentindo cada pedaço da música. Sinto como se ela fosse feita para nós. Uma família incompleta, mas cheia de esperança e sonhos.

- Ué! Aderiu ao rock nacional, pequeno gafanhoto? – faço um cafuné para irritá-lo.

- Velho, porém ótimo. Você deveria experimentar um dia desses, esse seu pop internacional não está com nada. – diz virando-se, levantando da cadeira indo em direção a cama e se jogando. – Pensei que você não ia vir para casa esse final de semana. O que aconteceu com o 'não-posso-ficar-um-minuto-sem-o-todo-poderoso'?

Sento em seu lugar na cadeira e o encaro. – Eu precisava de um tempo para mim. Precisava deixar a mente em branco, mas não sei se consigo.

- Como eu estava cantando, maninha, a vida é um vai e vem...

- Eu vou resolver tudo e no final, tudo vai acabar bem. Ele os convidou para passar o próximo final de semana conosco. Acha que papai vai gostar? – apoio os cotovelos nos joelhos e abaixo a cabeça – Não é nada formal, claro. Apenas quero que vocês passem alguns dias diferentes, sem preocupações. Ainda mais agora que você chegou na fase da faculdade. Quando terá tempo para mim? – pergunto. É ruim quando se é a mais velha e vê seu pequeno irmão começar a vida adulta.

- Quanto a isso, Alanna, preciso que respire fundo. – olhei para ele com receio, olhos semi serrados e já ia começar a perguntar o porquê, quando por fim ele disse, - Eu passei! Eu vi o resultado hoje pela manhã, não acreditei até agora.

Levanto e pulo o abraçando. Sua vitória é minha vitória e sua alegria, a minha. O parabenizo e saio do quarto para acordar meu 'coroa', mas ele me poupou disto, pois quando estou chegando a sala, sinto o cheiro do bom e velho café e corro para a cozinha.

- Papai, que bom vê-lo. – dou um beijo em sua bochecha e ele retribui, apertando meus braços. – Filha, quanta saudade. Você não pode ficar tanto tempo assim sem nos ver.

- Quanto a isso, papai, que tal compensarmos meus dias fora com o senhor e Noah passando o próximo final de semana lá na mansão, comigo?

- Oh, filha! Não queremos ser um estorvo.

- Claro que não, pai. Vocês serão muito bem acolhidos. Vamos, vai! – faço a melhor cara de cachorrinho sem dono e sou agraciada com o lindo sorriso e sua afirmação. Mal começou a noite e já estou ansiosa para os próximos dias chegarem logo.Tentei vir para casa para poder esvaziar a mente e relaxar. Mas os benditos olhos castanhos intensos não saíam da minha mente e é assim que ao ir dormir, fecho os olhos e caio em um sono profundo.

SimplificandoOnde histórias criam vida. Descubra agora