Capítulo 4

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Apesar do começo triunfal do nosso 'primeiro encontro' e do meu choque ao saber por Esperança que aquele Deus Grego era na verdade o senhor Frederico, fui chamada para almoçar com ele que manteve-se distante e de poucas palavras. Ao contrário do homem, pensava eu, ranzinza que encontrei esta manhã, ele mostrou-se gentil com Esperança e a diálogos com respostas diferentes de sim ou não. Pode-se notar que ele é um pouco fechado, mas seu problema era tão óbvio, como ninguém percebeu antes?

Frederico não aparentava ter mais de vinte e seis anos. Era jovem e apesar de sua limitação, era apenas um homem solitário e com poucos - ou nenhum - amigos.

Eu posso mudar isso! - pensei - Posso tentar criar uma amizade.

Após o almoço, ele pediu licença e disse que eu estaria livre o resto do dia para me adaptar a minha nova vida e aos meus afazeres. Subi ao meu quarto, desfiz minha mala e sai a procura de Esperança.

Entrei na cozinha e a encontrei abrindo uma massa de torta.

- Hmm! Já senti o cheiro de delícias de longe. O que você está aprontando?

- Estou fazendo a torta predileta do meu menino, a torta de limão especial da Tia Esperança! - Sorri ao mesmo tempo que limpa um risco de farinha de trigo que descansava confortavelmente em sua bochecha. - Depois de tudo que aconteceu, sempre procuro fazer algo para agradar meu menino. Coitado, tão solitário... mas agora que você chegou, acho que sua companhia o fará bem.

- Espero que minha companhia seja produtiva. Você poderia me passar uma lista com a rotina dele? Gostaria de me inteirar mais dos assuntos, quero começar devagar. Sabe, sou meio estabanada, não quero assustar ele.

- Oh, minha querida, é tudo muito simples. Venha! Sente-se aqui no balcão, vamos anotar tudo. - Dona Esperança vira-se em direção as banquetas que adornam o balcão e senta-se puxando um bloco de notas e uma caneta. Vou a sua direção e me sento ao seu lado.

- Vamos começar do começo! - Não dá pra começar do fim.- Meu menino não sai muito de casa. Todas as quartas ele tem fisioterapia e durante o resto da semana pratica os mesmos exercícios por si só na sala de ginástica que temos do outro lado do jardim. Ele almoça pontualmente ao meio-dia e tira a tarde livre. O resto você terá que conversar com ele.

Pego sua folha com algumas anotações, agradeço pela paciência e vou em direção aos quartos à procura do cara-de-olhos-castanhos-penetrantes. Não lembro ao certo qual dos cinco quartos neste corredor é o seu.

Depois de bater em três portas e encontrar apenas um escritório e dois quartos vazios, acerto na quarta porta. Duas batidas e a porta foi aberta mostrando-o em sua cadeira de rodas com uma calça de moletom cinza. Seus olhos enigmáticos procuram os meus a procura de respostas e percebi que deveria estar com a pior cara possível. Que abdome era aquele!

- Hmm, sim... Ah...Ok...Beleza... - fico gaguejando, tentando lembrar o que precisava. Sim, ele não estava me afetando. Não, eu queria me bater. Meu Deus! Perdi o juízo. - É isso aí. - Disse e mais uma vez, as palavras quase não saem.

- Perdão, se você acha que vai ficar doente, vá para o seu quarto. Não quero ninguém passando mal na minha porta. - Diz de uma forma dura, fazendo-me recuar.

Tomo um ar, antes de seguir com a minha vergonha. - Desculpe-me, senhor. - Limpo a garganta. - Vim aqui pois gostaria que o senhor me desse mais detalhes sobre o que tenho que fazer.

- Por mim, você não deveria nem estar aqui... - Resmunga, virando a cadeira em direção a janela - Entra.

Fico mentalmente repetindo um mantra para ter mais paciência. Ele deve ser bipolar, resmunga agora, mas no almoço estava como uma pessoa normal com a Esperança.

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