18.Forsaken

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[Eu vou chorar na chuva e procurar a salvação do outro lado do céu
Não importa o quão poderosamente eu grite
Eu vou chorar na chuva, e mesmo que pare de chover aqui no chão
Certamente as coisas vão continuar as mesmas, nada vai mudar]

― DEATHGAZE - Forsaken

~Shiroyama's POV~

Um grito ecoou pela caverna escura e úmida juntamente com o baque de um corpo contra as pedras. O grito e o corpo? Ah, eles eram meus. Há exatamente dois dias eu estava ali depois de ter fugido de um combate com o Kuro.

Costelas quebradas, o pescoço em farrapos, uma perna também quebrada com fratura exposta e doses altíssimas de tetrodotoxina[1] em minha corrente sanguínea, que só não me mataram porque eu possuo a mesma toxina e tenho uma certa "imunidade" à ela.

Aquele verme deplorável provavelmente estava morto, ninguém sobrevivia aos meus cortes, não depois de ser praticamente retalhado como um açougueiro faz com uma peça de carne. Mesmo que ele ainda estivesse vivo como eu estava, aquele era o era o meu maior sonho e eu o tornaria realidade.

Entretanto, nada me envergonhava mais quanto o fato de ter quase matado Kouyou. Eu deixei que meus instintos falassem por mim e o ataquei sem perceber que não era aquele baixinho amigo dele.

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso acabaria acontecendo. Ele descobriria que esteve esse tempo todo com um monstro ou eu destroçaria a sua garganta em algum momento enquanto mostrava o meu lado podre.

Nenhum humano podia sobreviver ao meu lado e o garoto não era uma exceção. Seus olhos apavorados e ao mesmo tempo confusos ainda estavam gravados em minha mente, o choro sofrido... Maldição, Kouyou... Eu sou tão ruim pra você.

"Yuu!"

Outro grito mesclando dor e ódio ecoou pela caverna ao que eu usava ambas as mãos para colocar aquele maldito osso e a perna no lugar, arfando, deixando lágrimas doloridas escaparem assim que consegui realizar o meu feito. Eu precisava me recuperar em partes antes de procurar o tratamento correto ou poderia pegar uma infecção.

O fato de ter DNA animal e mais outras porcarias dentro de mim não me privava de pegar certos tipos de doenças e muito menos morrer.

Morrer.

Talvez fosse o melhor a acontecer ao invés de machucar tanto Kouyou. Ele estava acabado, não só fisicamente, eu sabia disso.

Eu desejei morrer quando ouvi a voz daquele baixinho e vi que quem de fato estava em meus braços, com os olhos opacos e banhado em sangue era o meu Kouyou. Foi naquele momento que eu fui tomado pelo desespero, pelo medo, o ódio. Queria destruir tudo e todos, pisar no humano e no Kuro como forma de descontar a minha frustração... Eu fui patético.

O desespero de perder quem se ama...

Os sentimentos humanos são tão intensos, principalmente o amor. Você acha que não vai ser pego e quando menos percebe está preso naquela teia, desejando de longe, querendo reciprocidade, ficando obcecado dia após dia em cada detalhe, mania, o som da respiração... De repente nada mais faz sentido e aquela pessoa passa a ser o sol do seu Sistema Solar.

E era isso que Kouyou era. O meu sol. Aquele que me dava vida, que me fazia me sentir um pouco mais humano e esconder a minha natureza imunda, mesmo que por alguns minutos. Agora tudo estava destruído.

Acabado. Reduzido à cinzas.

Eu desejava com todas as forças que o meu sol não tivesse se apagado. Mesmo que eu tenha chegado um pouco tarde para salvá-lo e não o fiz da forma certa porque também estava caindo aos pedaços. Mesmo que eu não tivesse coragem de olhar em sua cara depois de tudo, desejava que aquele baixinho tivesse sido esperto o suficiente para encaminhá-lo ao hospital.

Kuro DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora