Esqueci minhas memórias no bolso do teu casaco de lã. Aquele casaco verde com listras marrons. Ainda consigo sentir no meu corpo os fiapos me pinicando enquanto teu cheiro impregnado no tecido grudava nas minhas narinas. Não me recordo do dia, a hora ou o lugar. Quando fecho os olhos só consigo enxergar tua peça de roupa velha e o meu corpo. Como se fizessem casa um no outro e dançassem por alguns segundos. Era marcante o verde musgo. Essa cor sempre te caiu bem.
Fechei meus olhos e concentrei-me no cheiro da lembrança; como se tentasse agarrar aquela sensação pra ela morar dentro de mim.
Eu vivia essa sinestesia madrugadamente. Pois esse era o único momento do dia em que você aparecia: por entre as brechas da noite e algum indício da manhã. Talvez porque preferi guardar você em algum baú invisível à luz. Dessa forma eu mesma me impossibilitava de te visitar mais vezes durante o dia. E eu gostava assim. Não há mal nenhum em te fazer uma visita de vez em quando; nem que seja pra tocar alguma música esquecida ou simplesmente observar qualquer recordação que me viesse a mente. As madrugadas costumavam ser nossas, mas criei o hábito de me despedir de você antes das 3.-Meus tempos verbais não te pertencem mais-
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Devaneios de um sentir
PoetryDevaneios de um sentir é um compilado de textos que descrevem sentimentos, emoções e vivências corriqueiras; através da escrita cria-se uma esfera nostálgica e palpável que possibilita a vivência imaginária dessas lembranças.