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Assim que chegamos na escola, meu estômago deu um nó. A estrutura era enorme, imponente, e claramente desenhada para me fazer perder em algum corredor já na primeira aula. A probabilidade de eu me perder era de quase cem por cento. Olhei para Sina e Hina, procurando algum apoio visual, mas elas pareciam igualmente impressionadas – e levemente desorientadas.

– Olha ali! – Joalin exclamou animadamente, quase pulando ao avistar um grupo no pátio. – São meus amigos! Venham, quero que vocês conheçam eles!

Ela parecia ter muitos amigos aqui, o que me dava uma ponta de inveja e, ao mesmo tempo, esperança. Talvez eles fossem legais. Talvez eles nos aceitassem.

– Galera, quero que conheçam minhas amigas: essas são Any, Hina e Sina – Joalin disse, gesticulando animadamente em nossa direção.

Um por um, os amigos dela nos cumprimentaram, todos com sorrisos calorosos e olhares curiosos. Alguns pareciam mais extrovertidos, outros observavam com calma. Entre o grupo, um garoto em particular chamou minha atenção. Ele tinha olhos azuis, não qualquer tom de azul, mas um azul profundo que lembrava o oceano em um dia de tempestade. Era impossível não notar.

– Meninas, essas são Sofya, Shivani, Diarra, Sabina e Heyoon – Joalin continuava as apresentações. – E esses são os garotos: Krystian, Lamar, Noah, Josh e Bailey.

"Azul-Oceano" – o nome provisório que eu dei ao garoto de olhos penetrantes – se destacou instantaneamente. Eu mal o conhecia, e já estava... fascinada? Isso não podia ser bom. Eu mal tinha começado o dia, e já estava "babando" por um dos amigos de Joalin? Ótimo, Any. Muito maduro.

Enquanto o sinal não tocava, o grupo nos deu um tour improvisado pela escola, o que foi bem útil... até que nos atrasamos. Sete minutos depois do toque do sinal, chegamos ofegantes à sala de biologia, com Sofya, Hina e Shivani ao nosso lado. Hina, sempre tímida, parecia já ter se enturmado com Shivani, o que era adorável de ver.

Três aulas depois – o que mais parecia uma eternidade – finalmente fomos liberadas para o intervalo. Saí da sala com Hina e Sofya, caminhando até o refeitório, onde o resto do grupo já estava reunido à mesa. Eles nos esperavam com sorrisos divertidos.

– Nossa, vocês demoraram – Sina brincou, já acomodada ao lado de Heyoon.

– Tenho certeza de que foi a Any que as atrasou – Joalin zombou, rindo, enquanto todos acompanhavam a piada.

– Muito engraçado, Joalin – respondi, revirando os olhos. – Eu não atrasei ninguém. A gente só estava... andando devagar e conversando.

Todos riram, mas era aquele tipo de risada leve, sem malícia, que me fez relaxar. Eu me sentia bem ali, entre eles. Como se tivesse encontrado um lugar que poderia realmente chamar de meu.

– Então, vocês se conhecem há muito tempo? – perguntou Noah, o garoto de cabelos longos e unhas pintadas, inclinando-se para frente, curioso.

– Bom... – comecei, trocando um olhar com Joalin. – Joalin e eu nos conhecemos desde que nascemos. Nossas famílias sempre foram amigas. Sina e eu nos conhecemos quando me mudei para a Alemanha há seis anos. E Hina... – pausei, rindo suavemente. – Conhecemos ela dois dias atrás, mas parece que já somos amigas há séculos.

– Dois dias? Uau, que conexão rápida – Diarra, que até então estava quieta, comentou com um sorriso.

– Falando nisso, conta mais sobre você, Any – Sofya pediu, os olhos curiosos. – Queremos saber mais da "Moana brasileira" – ela disse, provocando risos ao redor da mesa.

Respirei fundo, sabendo o que viria a seguir. As apresentações básicas sempre levavam a essa pergunta. E, claro, não tardou.

– Bom, nasci no Brasil, mas me mudei para a Alemanha quando tinha doze anos. Foi lá que conheci Sina. Depois de um tempo, voltei para o Brasil por um tempo... E foi lá que eu consegui o papel de dubladora da Moana – expliquei, já esperando a reação habitual.

– O quê? – Josh praticamente saltou da cadeira. – Você dublou a Moana?

– É um dos meus filmes favoritos da Disney! – Diarra exclamou, com os olhos brilhando.

– Sim – confirmei, rindo. – Se quiser, pode pesquisar meu nome no Google.

– Chique – Sabina interveio, com um sorriso travesso. – Mas vamos ver se você está dizendo a verdade. Qual seu nome completo?

– Any Gabrielly Rolin Fuller.

De repente, o ambiente mudou sutilmente. Josh e Lamar trocaram olhares surpresos, e Josh foi o primeiro a falar.

– Fuller? Tipo... aquele Fuller? – ele perguntou, os olhos arregalados.

– Sim – respondi, sem entender completamente a reação. – Algum problema?

– Sério que você não sabe? – Lamar parecia igualmente incrédulo.

– Às vezes ela é meio lerda – Joalin zombou, provocando mais risadas.

– Isso não tem graça, Joalin – retruquei, tentando manter a compostura.

– Fuller... como em Simon Fuller, o famoso empresário da música? – Josh finalmente esclareceu.

Suspirei. Lá estava. O peso do nome "Fuller".

– Ex-empresário, na verdade – corrigi. – Mas sim, ele é meu pai.

– Uau... – Josh balançou a cabeça, ainda processando a informação. – Isso explica muita coisa.

– Ok, mas voltando ao que interessa – Sabina interrompeu, claramente tentando aliviar a tensão. – Vamos ver se você realmente é a Moana brasileira.

Ela puxou o celular e fez uma rápida pesquisa. Logo, todos estavam inclinados sobre a tela, confirmando o que eu já tinha dito.

– Não é que ela é mesmo a Moana? – Sabina brincou, sorrindo.

– Você até se parece com ela – Heyoon comentou, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. – Continua contando sua história, Any.

Respirei fundo, sentindo o desconforto crescer. Eu sabia para onde essa história ia, e não era um lugar que eu gostava de revisitar.

– Depois de dublar Moana, voltei para a Alemanha... E mais ou menos um mês depois, minha mãe foi para uma turnê no México. Meu pai e eu íamos encontrá-la no próximo voo, mas... – minha voz falhou, e senti a familiar dor no peito ao lembrar do acidente.

O silêncio que seguiu foi pesado, mas cheio de compreensão. Josh, percebendo minha dificuldade, foi o primeiro a falar.

– Está tudo bem, Any. Você não precisa continuar. Nós já sabemos o que aconteceu.

Agradeci com um sorriso tímido, aliviada por não ter que contar mais. O resto do intervalo foi mais leve, cheio de risadas e conversas sobre as culturas de cada um, como nos conhecemos e como a escola funcionava. Eles eram pessoas incríveis, e por mais que o primeiro dia tenha sido repleto de desafios e revelações, senti algo que não sentia há muito tempo: pertencimento.

Ao Som Do Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora