Ao Som Do Amor

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Hoje seria nosso primeiro dia de aula em Montreal. E, apesar da excitação, uma onda de nervosismo invadia meu estômago. Escola nova, país novo, idioma novo. Eu sentia uma mistura de empolgação e ansiedade – a sensação de começar de novo, mas também o medo do desconhecido. Estava pronta? E se as pessoas fossem diferentes? Será que eu conseguiria me encaixar?

Acordei antes do despertador, o que já era um sinal de quão agitada estava. A luz suave da manhã entrava pelas cortinas, e me forcei a sair da cama, querendo garantir que nada desse errado. Fiz minha higiene matinal rapidamente e, antes de descer, decidi passar no quarto de Sina para garantir que ela também estivesse de pé. Afinal, o que seria de nós duas se uma dormisse no ponto?

– Bom dia, sininho – brinquei, empurrando a porta levemente. Para minha surpresa, ela já estava quase pronta. – Achei que ainda estivesse dormindo.

– Bom dia – Sina respondeu, amarrando os longos cabelos loiros em um rabo de cavalo. – Também achei que você estivesse dormindo. Já ia te acordar. Vamos descer para tomar café?

Assenti, ainda tentando acalmar o nervosismo crescente. O café da manhã talvez fosse uma boa distração.

– Meu pai está em casa? – perguntei, enquanto seguíamos juntas pelo corredor.

– Não – ela balançou a cabeça. – Ele saiu cedo. Quando desci para tomar água, ele estava indo resolver alguma coisa e saiu com o motorista.

– Entendi... – murmurei, mas não pensei muito nisso. Meu pai sempre tinha algo a fazer, e essa rotina já não era novidade para mim.

Descemos as escadas até a cozinha, mas assim que chegamos, um pedaço de papel pregado na geladeira chamou nossa atenção. Um bilhete de meu pai. Peguei o papel, lendo rapidamente as palavras, e meu coração quase parou.

Ele havia comprado um carro. Para nós duas.

Sina olhou para mim com os olhos arregalados, e sem pensar duas vezes, corremos até a garagem. Lá estava ele – um Jeep Renegade novinho em folha, com as chaves cuidadosamente colocadas no banco da frente. Não conseguia acreditar no que estava vendo.

– Eu dirijo! – Sina anunciou, arrancando as chaves da minha mão antes mesmo que eu pudesse processar a situação.

– O quê? Por quê? – perguntei, piscando rapidamente, ainda tentando compreender o fato de que havia um carro na garagem.

– Caso você tenha esquecido, Any, você ainda não tem carteira de motorista – ela respondeu com aquele tom característico de quem está simplesmente apontando o óbvio.

Droga. Ela estava certa. Sina, que já tinha feito dezoito anos na Alemanha, tirou sua carteira de motorista assim que pôde. E aqui estava eu, prestes a fazer dezessete, ainda sem o privilégio de dirigir. Isso era um lembrete irritante, mas talvez no Canadá eu pudesse tirar minha carteira mais cedo. Já estava imaginando a liberdade que isso traria... mas por enquanto, Sina seria a motorista oficial.

– Tá, tá – sussurrei para mim mesma, cruzando os braços com um sorriso. Sina sempre tinha a vantagem.

Admiramos o carro por mais alguns minutos, maravilhadas com o presente inesperado. O Jeep era lindo, com sua pintura preta brilhante e detalhes metálicos. Eu podia sentir a excitação crescendo. Agora, dirigiríamos para a escola como duas garotas em uma aventura, algo que parecia tão surreal quanto emocionante.

Assim que a euforia inicial diminuiu, lembrei-me de que precisávamos pegar Hina e Joalin. Mandei uma mensagem para Hina, perguntando se ela estava pronta, e sua resposta foi quase imediata: "Sim, estou. Muito nervosa!"

– Vamos buscar a Hina primeiro – disse, enquanto Sina dava partida no carro.

O trajeto até a casa de Hina foi curto, já que ela morava ao lado. Quando paramos em frente à casa, ela saiu, carregando sua mochila com um sorriso tímido. Abrimos a porta do Jeep, e ela entrou, acomodando-se no banco de trás.

– Uau! O carro de vocês é realmente muito bonito – Hina elogiou, seus olhos brilhando ao olhar ao redor do interior impecável.

– Obrigada! – respondi, ainda me acostumando com a ideia de que o carro era realmente nosso.

Próxima parada: a casa dos Loukamaa. Sina dirigiu com precisão até lá, enquanto eu tentava disfarçar a crescente ansiedade. Encontrar Joalin de novo era sempre uma explosão de alegria, mas apresentar Hina a ela me deixava um pouco nervosa. Será que elas se dariam bem? Será que nossas dinâmicas mudariam com uma nova amiga no grupo?

Quando chegamos à casa de Joalin, ela já estava esperando do lado de fora, sorrindo de orelha a orelha.

– Joalin, essa é a Hina. Hina, essa é a Joalin – apresentei, tentando disfarçar qualquer hesitação.

Para minha surpresa – e alívio – elas se deram bem imediatamente. Joalin, com seu jeito expansivo e falante, começou a fazer mil perguntas para Hina, que respondia com um sorriso tímido, mas claramente encantada pela nova amizade. Eu sorri internamente. Tudo estava indo melhor do que o esperado.

– Prontas para o primeiro dia de aula? – Joalin perguntou, enquanto Sina ajustava o GPS para nos levar à escola.

– Mais ou menos – brinquei. – Não sei se estou mais animada ou apavorada.

– Vai ser incrível! – Joalin exclamou, sempre otimista. – Tenho certeza que vocês vão adorar. E além do mais, estamos todas juntas. Não tem como dar errado.

Enquanto o carro percorria as ruas em direção à escola, observei o horizonte de Montreal através da janela. A cidade, com seus prédios imponentes e ruas movimentadas, parecia cheia de possibilidades. Era um novo começo. Um começo que, eu esperava, traria aventuras inesperadas e, quem sabe, um senso de pertencimento que eu ainda estava buscando.

Respirei fundo, tentando acalmar os nervos. Estávamos prestes a começar uma nova fase, e, de alguma forma, sabia que aquele Jeep Renegade, com suas rodas brilhantes e o ronco suave do motor, seria o veículo que nos levaria a um futuro cheio de surpresas – boas, ruins, e tudo que viesse no meio.

Eu só esperava estar pronta para a viagem.