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O som abafado de risadas me despertou de um sono profundo. Minha cabeça latejava levemente, como se ainda estivesse presa em algum sonho distante. De repente, a cama afundou de um lado, e eu senti alguém me balançando.

– Any, acorda! – Sina sussurrava, sua voz um tanto divertida. – Hoje é o grande dia! A gente tem que ir à casa da Joalin e fazer a surpresa.

– Hm... ok – murmurei, ainda meio perdida entre o sono e a realidade.

– Vamos! Anda logo! – Sina me deu um empurrão mais forte, praticamente me jogando para fora da cama.

Eu me sentei, piscando com força, tentando afastar a névoa do sono. Minha cabeça ainda parecia estar flutuando.

– Minha cabeça, Sina… – gemi, levando as mãos às têmporas, ainda sonolenta.

– Foi mal – ela disse, mas o tom de voz traía uma risada abafada enquanto saía do quarto, provavelmente satisfeita com a pequena vitória de me tirar da cama.

Enquanto eu me arrastava para o banheiro, o pensamento de surpreender Joalin me deu o impulso que eu precisava. Ela não fazia ideia de que estávamos em Montreal; tínhamos planejado tudo com a mãe dela, Johanna, para garantir que a surpresa fosse perfeita. Eu mal podia esperar para ver a expressão no rosto de Joalin quando nos visse. Fazia tanto tempo desde que estivemos todas juntas… e a saudade era como uma pontada constante no peito, uma lembrança persistente de tudo o que tínhamos vivido e deixado para trás.

Depois de me vestir e fazer um rápido café, Sina e eu pegamos um táxi para a casa de Joalin. As ruas de Montreal passavam rapidamente pelas janelas, os prédios e lojas eram um borrão enquanto minha mente se fixava no reencontro iminente. Será que Joalin ainda seria a mesma? Será que nosso laço seria o mesmo depois de tanto tempo?

Quando chegamos à casa de Joalin, uma sensação de nostalgia me atingiu. A casa era exatamente como eu me lembrava – grande, acolhedora, com aquele ar de casa de família que me fazia sentir segura. Tocamos a campainha e esperamos. O tempo pareceu se estender, como se estivéssemos congeladas ali, presas entre a expectativa e o nervosismo.

A porta se abriu, revelando Johanna com um sorriso caloroso que iluminou seu rosto.

– Meninas! Vocês chegaram! – exclamou, nos puxando para um abraço apertado. – Quanto tempo! Vocês estão tão grandes... entrem, por favor! Vou chamar a Joalin. Ela vai surtar de felicidade ao ver vocês aqui.

Nos acomodamos na sala, nervosas e animadas ao mesmo tempo. A casa ainda tinha o mesmo cheiro familiar – uma mistura de café fresco e algum perfume floral que eu não conseguia identificar. Enquanto esperávamos, podíamos ouvir o som de passos apressados vindo das escadas, e então, em um instante, Joalin apareceu.

– Eu não acredito! – ela gritou, com os olhos arregalados e brilhando de emoção. – Vocês são reais?! – E, sem esperar por uma resposta, ela correu até nós, nos envolvendo em um abraço tão forte que quase nos derrubou no sofá.

Eu ri, sentindo a alegria genuína de tê-la nos braços novamente.

– A gente também sentiu sua falta – disse Sina, tentando recuperar o fôlego enquanto ainda estava presa no abraço de urso de Joalin.

– Não acredito que vocês estão aqui – Joalin repetia, como se quisesse se certificar de que não estava sonhando.

Passamos as horas seguintes como se nenhum tempo tivesse passado. As conversas fluíam com a facilidade de velhas amigas, relembrando histórias antigas e compartilhando novidades. Contamos a ela sobre nossa chegada recente a Montreal, e ela nos contou sobre o que tinha acontecido em sua vida desde que nos vimos pela última vez. Foi como se, de repente, o mundo tivesse desacelerado, e estivéssemos apenas nós três, no meio de risadas e histórias que não precisavam de explicações.

– Então, vocês já compraram os materiais para a escola? – Joalin perguntou, sua expressão de curiosidade misturada com uma pontinha de empolgação.

– Ainda não – Sina respondeu, sempre prática. – Chegamos ontem, então não tivemos tempo de fazer quase nada.

– Então vamos agora! – Joalin sugeriu, levantando as sobrancelhas com entusiasmo. – Vamos ao shopping comprar tudo que vocês precisam. Vai ser divertido!

Troquei um olhar com Sina, e ela deu de ombros. Era típico dela pensar em toda a logística – horários, compromissos, o tempo que levaríamos para voltar para casa. Mas, felizmente, ela sempre sabia quando ceder.

– Ok, só não podemos voltar muito tarde – Sina disse, sempre responsável. – Temos que estar em casa cedo.

– Prometo que não vou sequestrar vocês por muito tempo – Joalin respondeu com um sorriso travesso.

O tempo no shopping foi incrível. Andar pelos corredores com Joalin e Sina, escolhendo cadernos, mochilas e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo… era como reviver os velhos tempos. Joalin nos contou mais sobre a escola, os amigos que havia feito, e sugeriu que nos apresentaria a todos eles quando o ano letivo começasse. Tudo parecia estar se encaixando, e por um breve momento, a ansiedade sobre começar em uma escola nova desapareceu. Tínhamos Joalin, e de algum modo, isso fazia tudo parecer menos assustador.

– Vocês não vão se perder. Eu vou estar lá com vocês, como guia oficial – Joalin brincou, piscando enquanto testava uma mochila nova no espelho da loja.

– Acho que estamos em boas mãos – respondi, rindo.

De repente, me lembrei de Hina. Não seria justo deixá-la de fora, já que tínhamos nos conectado tão rápido. Ela parecia tão nova e perdida em Montreal quanto nós. Peguei meu celular e mandei uma mensagem rápida para ela, perguntando se queria se juntar a nós na escola no primeiro dia.

– Quem você está convidando? – Joalin perguntou, curiosa.

– Uma amiga nova – respondi, sorrindo. – Ela se chama Hina. É do Japão e acabou de se mudar para cá. Achei que seria legal ter mais uma pessoa com a gente.

Joalin assentiu com entusiasmo.

– Claro! Quanto mais, melhor. Mal posso esperar para conhecê-la.

Enquanto voltávamos para casa, carregadas de sacolas e repletas de risadas, percebi o quanto aquele dia tinha sido necessário. Estar com Sina e Joalin novamente, e a possibilidade de ter Hina conosco, me fez sentir que talvez, só talvez, esse novo começo em Montreal não fosse tão solitário quanto eu temia.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti sentir esperança.

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