Era 6h da manhã e Ésquilo ainda não demonstrava sinais de que terminaria sua corrida. Já tinha percorrido o quarteirão umas duas vezes, até que um bipe de alarme fez vibrar sua pulseira eletrônica.
A pulseira indicava todos os sinais vitais do usuário, como batimentos cardíacos, nível de suor e salinidade, reposição de água, pressão, entre outros. Ésquilo foi caminhando até sua residência, pois a manhã ainda estava apenas começando.
Andou por 800 metros e entrou na sua casa, dizendo bom dia tanto para sua esposa, que estava acordada, como para sua secretária do lar.
Sentiu um zumbido na sua cabeça; foi quando abriu uma tela virtual na sua frente, alertando a necessidade de beber água. Enquanto se encaminhava para a cozinha, as informações mudavam com um pouco de pressa, era o que parecia.
Primeiro avisou a hora, depois o clima e a agenda do dia, com uma resposta pronta: sim, será um dia trabalhoso, e que portanto deveria se arrumar em breve.
Com um pouco de irritação foi se arrumar em seu quarto, ouvindo um zumbido sonoro e depois o alerta de que suas emoções não estavam estáveis. Respirou fundo e continuou a se arrumar, ajeitando a gravata estampada com cuidado. Pensou propositalmente em se libertar daquela condição, e ouviu de volta uma chamada severa. Ele não queria ser provocado a brigar naquele dia, não mesmo. Estava exausto e não tinha ninguém naquele closet, exceto o sistema hmm que a todo momento frisava regras, corrigia erros automaticamente, e importunava quase sempre. Pensava em quem tinha inventado todo o sistema de controle, e respondeu em voz alta:
- Já sei, não precisa responder.
Depois do desconforto que passou, Ésquilo desceu as escadas em direção à garagem. Abriu o carro e, quando ligou o veículo, o vidro dianteiro se tornou em um painel interno quase que automático, demonstrando sua agenda de horários, participantes, tema, relatório geral da sua saúde. Sentiu-se tão esgotado que apenas disse "dirija" e o sistema adquiriu o controle do veículo, enquanto ele se enterrava no banco e abstrair pensamentos.Ésquilo subiu de elevador junto com alguns colegas de trabalho. Seria uma manhã normal, se não fosse uma reunião. Ésquilo não queria estar presente, mas foi obrigado a comparecer.
Quando a mesa foi preenchida de lugares ocupados, o chefe daquela equipe começou com um discurso introdutório sobre os perfis dos que estavam presentes na reunião . Explicou o objetivo e particionou com os membros as funções, e Ésquilo se sentiu indignado por não ter ficado com a melhor parte.
Não preciso dizer que seu sistema entrou em modo alarme por isso, não é? E que seu chefe olhou-o por incontáveis segundos.
"O dia não está começando, já está acontecendo muito, e demais". Ésquilo parecia transbordar de estresse.
Foi para seu "cantinho nêutronizado", como pensava e falava. Trabalhou durante várias horas até a hora do almoço, quando preferiu comer no escritório. Seu sistema pessoal deu novo alerta sobre o tipo de comida que estava comendo, e num impulso Ésquilo jogou longe as embalagens vazias do seu almoço.
Depois do almoço teve que presenciar outra reunião que agiam de menos e por pouco não fechou os olhos para dormir. Levou uma advertência do seu chefe, que foi computado no seu sistema hmm, o que lhe garantiu apenas um sentimento de revolta, que também foi computado pelo sistema.
Ésquilo saiu da sala de reuniões, pensativo e olhando para a janela. Ele quase conseguia burlar o sistema com relação aos seus sentimentos, pois achava que merecia isso. Mas nesse dia estava bastante difícil para encarar.
Avisou que ia descer para tomar café na cafeteria ao lado, e decidido pegou o elevador que não estava cheio, somente o saguão. Quando alcançou a grande porta do prédio, um homem com casaco encapuzado o abordou nas escadas, e não tinha nenhum segurança próximo e de prontidão.
O rapaz pediu tudo de valor que Ésquilo tinha. Ele parou por alguns segundos e decidiu reagir.
- " Você vai levar um pé na bunda!"
Foi o suficiente para levar um tiro na cabeça, caindo no meio da calçada, deixando os pedestres assustados e histéricos.
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Contos Desimportantes Mas Que Tem Importância
Short StoryVários contos com intuito em exercitar-se