Conto 8

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Você sente fome por leitura? Eu sinto que meus sonhos me devoram devagar e seguindo o percurso do tempo, além daqueles que não merecem nomes e fazem uma guerra silenciosa e desprezível se utilizando de poder abusivo.

Meu sonhos são pequenos detalhes não prejudiciais. Contarei o último que tive: Estive um uma cidade visitando uma amiga. Até este momento tudo bem, andávamos pelas ruas até o anoitecer. Seu filho era paralítico, por causa de um acidente com um veículo, e soube apenas ali naquele momento onde estávamos. A sensação foi ter me dado um golpe no fígado. Não sabia e o choque de saber que não, foi momentâneo.

O sol começou a se pôr, e uma movimentação de carros agitou as ruas: A amiga olhava com um olhar traiçoeiro, disse que precisava ir para casa. 

Nos despedimos rapidamente e só depois fui entender o porquê da despedida tão rápida: a cidade inteira ficaria submersa em questão de minutos.

Seria facilmente classificável essa despedida como uma traição, mas sim classificada como uma sacanagem. Nunca compreendi o motivo dela ter feito o que fez, assim como tantas e outros. Voltando ao dilema aquático, apenas dava tempo de largar o carro onde estava, e ir nadando até a cidade. As comportas daquela cidade tinham sido abertos e não voltariam a fechar. Os moradores tinham passe livre, e os que não eram moradores... não tinham o passe.

A paisagem ao fundo, no horizonte, era uma cidade altiva com prédios, intocável pelas águas, o objetivo daquela travessia. As águas já terminavam de inundar tudo antes da minha saída e eu estava em um ponto alto, e tive que nadar até aquele lugar, mas não me foi permitido acompanhar minha travessia, apenas saber que participei.

Não sei o significado disto, mas não é passível de diversas interpretações.  Ainda bem que era etéreo e sem alcance, longe de acontecer uma inundação dessa proporção. A sensação de segurança ainda se mantinha apesar dos revezes para alcançar aquele lugar, a falta de ajuda de outrem, tudo ligado aquele episódio, tudo.

Eu poderia até mesmo mencionar a minha incapacidade de desapegar de algumas coisas para adquirir algo maior, mas a própria história renegou meu final vitorioso, então não tem como lutar contra algo que desde o princípio era regido pela negação. É como se nadasse contra a correnteza, sem saber se ela era favorável para chegar à cidade.

Enquanto isso, sigo meus dias espreitando por outro momento etéreo, dias difíceis para quem quer estar além das nuvens, sem tempestades e tormentos fabricados.

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