Memórias

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Adrien tocava pela quarta vez naquela manhã a melodia que tanto tinha treinado nos últimos meses e sentia-se aliviado por finalmente tê-la aprendido. Agora poderia deixar aquela música de lado para estudar outras, mas quais? Seu pai ainda não tinha sugerido nenhuma e muito menos havia comentado sobre finalmente escutar a melodia que o loiro treinou durante meses sem nenhum erro.

Quando o modelo terminou de tocar, procurou entre as partituras algo que já conhecia e gostava. Um sorriso formou-se em seus lábios quando encontrou a música "miraculous", feita por uma cantora em homenagem aos heróis de Paris. Aquela melodia sempre lhe trazia boas lembranças, desde suas batalhas com Ladybug até a gravação do videoclipe da música, o qual tinha participado junto com seus amigos e com… Marinette. Sem hesitar, começou a tocar aquelas notas que quase sabia de cor. Mas, ao contrário do que sempre acontecia, a melodia não lhe trouxe as melhores recordações.

O olhar do loiro voltou-se para uma rosa dentro de um vaso que veio com seu jantar, já que tinha decidido fazer a refeição em seu quarto, e, logo em seguida, olhou para o guarda-roupa, local em que estava uma caixa que guardava todas as cartas e presentes que recebia de fãs. Mas não era apenas isso. Era naquela caixa que estavam os poemas que tinha recebido de uma certa garota. Os poemas responsáveis por muitas mudanças na vida de ambos.

Ele parou de tocar quando errou uma nota por conta da distração e encarou a manhã nublada através da janela, sentindo uma leve sensação de que já tinha vivido aquilo antes. Balançou a cabeça e voltou a tocar a melodia no piano, mas a música o fez lembrar de onde vinha aquela sensação. Foi em um dia muito parecido com aquele, no qual as nuvens acinzentadas decoravam o céu parisiense, que muita coisa mudou em sua vida. Ao olhar para trás, recordava que, naquela data, nunca imaginaria as transformações que aquele dia seria capaz de fazer.

O modelo levantou e se afastou do piano, aproximando-se da enorme janela do quarto. Encarando as nuvens cinzas que cobriam a cidade naquela manhã, se permitiu, mais uma vez, relembrar os acontecimentos vividos há alguns meses. Aquelas memórias costumavam invadir sua mente e muitas vezes sem permissão, mas, cada vez que pensava nelas, sentia as emoções daquele dia novamente. Voltar a pensar naquilo sempre era muito doloroso e o loiro já conseguia sentir algumas lágrimas se formando. Respirou fundo e, fechando os olhos, vivia, quase com a mesma intensidade, os acontecimentos que trouxeram consigo diversas mudanças.

***

Há dois meses:

Após colocar seu poema e a rosa sobre a mesa em que ficava o computador de Marinette, começou a imaginar o momento em que a amiga leria aquilo, sentindo um aperto no peito. Considerando os sentimentos da azulada por ele, ela sofreria bastante ao ler a carta, especialmente a última estrofe, na qual ele revelava que o amor dela não era recíproco. Será que estava tomando a decisão certa? A azulada realmente o amava e ter passado os últimos dias mais próximo dela tinha sido incrível. Lembrou de quando suas mãos se tocaram sem querer algumas vezes — o que fez seu coração acelerar — da felicidade que sentia ao encontrá-la, de suas conversas e do momento em que a beijou na cafeteria. Ao lembrar do último, um sorriso involuntário formou-se em seus lábios e, quando percebeu, tentou afastar a recordação. "Por que estou pensando nisso? Eu gosto da Ladybug! Por isso escrevi essa carta para a Marinette!", pensou. Mas, antes de sair, se permitiu olhar mais uma vez para a menina adormecida, desejando mais do que tudo que eles continuassem sendo amigos depois daquilo. Não queria que ela ficasse com raiva, que fosse akumatizada ou que deixassem de se falar. Não queria perdê-la.

Chat Noir saiu pela mesma janela que tinha entrado e a fechou. Ainda com a imagem da amiga dormindo em sua mente, saltou pelos telhados até chegar à mansão Agreste. No caminho, pensou ter visto Ladybug em um prédio e, imediatamente, parou. Mas, ao olhar para o local novamente, não a viu. Pensou que era apenas uma ilusão de sua mente e voltou a usar o bastão para pular sobre os telhados da cidade. Porém, uma pequena possibilidade atormentou sua mente. "E se outra pessoa encontrar o poema? Como o pai dela, por exemplo?", lembrou imediatamente do dia em que, trajado de super-herói, revelou que era apaixonado por Ladybug e Tom ficou furioso com ele por ter decepcionado sua filha, o que resultou na akumatização do padeiro mais tarde. Com esses pensamentos o atormentando, pensou em voltar para a casa da menina, pegar o poema e entregá-lo pessoalmente uma outra hora. Porém, ao encarar a mansão à sua frente, decidiu abandonar aquela ideia e ir para casa.

Depois Daquele AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora