Estou ficando cego de tanto enxergar, estou ficando surdo de tanto escutar...

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- Hoje é um novo dia, um novo tempo que começoooou - Cantarola Lilico, todo pimpão.

- A única dúvida que eu tenho quanto a jogar com você Lilico é se eu te ferro com duas pedras na mão, com três ou de quatro.

- Pô Locão! Deixa o Lilico cara.

- Obrigado Tuta.

- Se ele é perdedor que é que a gente pode fazer.
     
Os dois caem na risada. Lilico os encara com uma certa hostilidade.

- Só que hoje eu não penso em perder. Hoje eu vou ganhar, pois há algo de novo.

- Resolveu trocar a cueca? - Indaga Locão indiferente.

- Ra! Ra! Ra! que graça. Como ele é engraçado! Mas apesar de realmente ter trocado a cueca não foi isso que mudou.

- O que mudou Lilico? - Questiona Seu Zé enquanto enxuga alguns copos, mais curioso que todos juntos.

- Isso - Mostrando uma caixa de dominó, muito peculiar a Locão e Tuta. - Vocês armaram um esquema muito do ferrado de marcar essas peças de uma maneira quase imperceptível, que acaba sendo a chave da vitória de vocês sobre mim. Quando eu estou ganhando vocês trocam as pedras, para que vocês, só vocês, ganhem. Legal! Não sei de onde vocês tiraram a ideia de que eu era perdedor.

- É que a gente fez isso uma vez achamos engraçado e aí começamos a fazer sempre - Explica Locão com a cara mais cínica do mundo.

- O pior é que agora só pra ferrar a gente, o Lilico vai começar a ganhar todas - Lamenta-se Tuta.

- Ah se vou! - Diz animado.

- Essa eu quero ver! Cerveja pra todo mundo se o Lilico ganhar - Anuncia seu Zé.

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Cris chama Dona Geralda para fritar os pasteizinhos intencionando deixar Janis mais à vontade com a suposta tia. Janis retira da gaveta uma única foto que tem do também suposto pai.

Mercedes arregala seus expressivos olhos verdes ao ver que Dona Geralda fora longe demais apresentando a garota um pai com suas características.

- É por isso que eu sou assim: Eu puxei a família de vocês - Explica Janis. - A minha vó ainda tá viva?

- An.. Não. Ela e seu avô já morreram - Diz se remoendo por dentro por tantas mentiras.

- Só sobrou você tia Mercedes?

- É. Parece que sim.
     
Janis senta-se ao lado de Mercedes com o olhar distante firme.

- Como era o meu pai?
     
A pobre senhora estava mesmo perdida.

- Bem. An. Ele... - Olha para a foto - Tinha os seus olhos.

- Mas eu tô falando no modo de ser.
   
Mercedes volta a olhar para foto confusa.

- Bem. Ele... -  Tenta responder analisando a fotografia mais uma vez - É assim como você.

- Como eu? - Indaga  a encarando com uma expressão interrogativa. - Você quer dizer teimoso, mal-encarado e essas coisas todas?

- Isso! Ele era muito mal-humorado. Não gostava que ninguém mexesse nas suas coisas e odiava ser perturbado à toa. E fora que tinha um senso de justiça extraordinário.

- Caramba! Eu também sou assim. Por que você nunca veio me ver?
    
A essa altura, Mercedes já se sentia sufocada.

- Bem, é que... Depois que meu irmão morreu eu fiquei muito triste e acabei me afastando de tudo - Um suor iniciou a contornar sua tez.

Cris & Janis em Rock na VeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora