"Então não me trate como um marginal, se o papo for por aí já começamos mal"

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Dona Geralda está concentrada em seus afazeres, quando ouve uma voz fraca, baixa e muito peculiar chegando a seus ouvidos.

- Tem lugar pra mais um?
 
Seus olhos mal podiam acreditar no que viam.

- Marcelo!
  
Deixa o pano de prato sobre a mesa e se precipita até o filho o abraçando em prantos. D2 está tão emocionado quanto a mãe, chora incessantemente  molhando de leve seu vestido. Ainda nos braços de Dona Geralda, D2 analisa o lugar, dando-se conta de que nada mudara desde que se fora. 

O sofá "malhado" coberto por um lençol xadrez. O quadro dele com Janis, ainda recém-nascida no colo, posto sobre a parede, para disfarçar o buraco que fizera, com o intuito de espionar as colegas de Naja. A cesta de pão sobre a mesa, o jogo de mantimentos dados por ele e Naja, um pouco antes da chegada de Janis.
 
Afasta-se da mãe, olhos fixos em uma fotografia de Cris e Janis, tirada no parque. Senta-se no sofá, pega o porta retratos e passa uma das mãos sobre a fotografia da irmã.

- Como ela cresceu... Deve dar um trabalho...
     
Dona Geralda aproxima-se do filho, senta-se junto a ele no sofá, passando a mão sobre seu rosto.

- Se você se refere a namorado, não. Janis é muito conservadora.

- Mas já deve ter ficado com alguém. - Comenta sério.

- Pretendentes é que não faltam...

- E quem é essa? - Referindo-se a Cris.

- É a vizinha. Filha da Zelda lembra-se dela?

- Um pouco.... Ah! Essa é a Cris... A Naja sempre me falava dela quando ia me visitar... Nossa! Bonitinha.
   
D2 recoloca o porta retratos em seu lugar e volta-se para a mãe, melancólico, contendo-se para não chorar.

- Mãe... Tem uma coisa que eu preciso te contar...

- Eu já sei de tudo...
 
A resposta de Dona Geralda faz com que perca totalmente o raciocínio, perguntando-se como ela soubera do ocorrido, e se o condenaria por isso. Sente medo, calafrios, sente-se encurralado.

- Sabe o que aconteceu? - Pergunta-lhe a mãe, tão nervosa quanto ele.

- Não. - Foi a única resposta que lhe viera à cabeça.

- Eles podem ter se enganado, não é? Eu não acredito que Naja tenha feito algo de errado, não é? Eles se enganaram, não é meu filho? Quem sabe não era uma outra pessoa, o que você acha D2? ...

- Eu não sei. - Responde, exaltado com a pilha de perguntas que a mãe lhe fizera. - Eu não sei mãe, não pergunta nada...
  
Abraça o filho, o máximo que sua força lhe permite.

- O que vamos dizer pra Janis?

- Eu não sei...

- Essa ela não vai suportar...

******


No bar do seu Zé não se falava em outra coisa senão a volta de D2 à Vila. Tuta vira quando chegou. Não só Tuta como Dona Carlota e Dona Joaquina, que logo espalham a novidade pela Vila inteira. Forma-se uma roda em frente à casa de Dona Joaquina, que não faz questão de esconder seu descontentamento com a volta de D2.

- Ainda bem que a Maria não fica perambulando pela rua, assim não tem que se deparar com aquele marginal e com aquela delinquente juvenil que é a irmã dele... - comenta, indignada, Dona Joaquina.

- É por que ela tem uma mãe que a defende. - Acrescenta Dona Carlota.

- Não sei como deixam pessoas como essas saírem da prisão. Está mais do que provado que depois que erram uma vez, erra pela vida inteira. - Alfineta uma mulher, no meio da roda.

Cris & Janis em Rock na VeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora