Quando a chuva cai, as noites mais solitárias

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Cecília contempla a forte chuva que cai da janela de seu quarto. Através dela pode ver também o quartinho construído nos fundos por seu José de blocos rústicos para guardar ferramentas. Percebe que parte do que guardara outrora no pequeno quarto não maior que um cômodo tal qual uma suíte ou um pouco maior que isso, está do lado de fora cobertos por um saco transparente.

Seus olhos brilham, um brilho sinistro, ao notar que há alguém no local. Mas quem? Seu José havia saído, sua mãe ainda se encontra no trabalho e Sandyman, nem sinal da garota. Deveria estar perdida por aí com Maizena.

Agarra um velho cabo de vassoura e dirige-se até o pequeno quartinho. A essas alturas já está encharcada pela chuva. Os pingos que escorriam de seu rosto a impediam de ver as coisas claramente.

Chega bem rente a porta fina de madeira e ao abri-la depara-se com uma figura alta, magra, mas de uma aparência encantadora. James ainda assustado, retira lentamente o cabo de suas mãos, levando-a até o interior do quarto.

- O que você estava fazendo? - Indaga James enquanto separa algumas roupas secas que se encontra em uma caixa de papelão sobre uma prateleira de ferro fixada na parede.

- Quem é você? - Sua voz é trêmula por conta do frio que sente.

- Eu sou o Espingarda, colega da Janis. Sabe? Do clube do mal. E você?

- Eu sou filha do seu José me chamo Cecília.

- Ah! Janis me falou de você. Tome. Coloque essas roupas, você tá parecendo um guarda-chuva.

- Não. Eu me troco em casa.

- Deixa de besteira. Eu não olho e também você me faz companhia. Eu ia tomar um cafezinho mesmo. Nossa! Tô parecendo um velho né?

- Não - Responde com um sorriso simpático. - Eu aceito o convite, mas não me olhe enquanto eu me troco.

Só a blusa de James quase dera o seu tamanho e seu shorts uma calça. Cecília ficara realmente engraçada, tanto que James não pode conter o riso.

- Desculpa, mas é que eu nunca vi uma menina usando as minhas roupas - Comenta ainda se rindo.

- Tudo bem -  responde com um sorriso curto.

Avista algumas pinturas feitas por James sobre um sofá velho de seu pai. Percebe que ao lado há um fino lençol que possivelmente serviria  para cobrir o rapaz. Pela metragem do sofá haveria de se contorcer feito arame para se moldar a ele.

- São lindas essas pinturas. Quem as fez?

- Fui eu - Diz, um pouco sem jeito. - E foi por causa delas que meu pai e eu brigamos.

James lhe conta toda a história, enquanto tomam um café esquentado em um microondas descascado - que seu José prometera se livrar em um  ferro velho qualquer, mas nunca encontrara tempo - com bolachas de chocolate, sobre uma mesa improvisada feita por uma pequena cômoda  aleatória a aquele local ainda um pouco empoeirado e parcialmente desarrumado. As cadeiras  um pouco bambas foram postas de frente uma para a outra.

Os olhos miúdos de Cecília se escondiam atrás dos óculos de aros finos que por momentos diversos escorriam de seu rosto sendo delicadamente recolocados pelos dedos finos da garota atenta a cada palavra do jovem melancólico.

Cecília deixa o local assim que a chuva deixa de cair por completo e por um pouco mais de dez minutos retorna com um cobertor e um travesseiro macio e entrega ao jovem inquilino.

Já é quase noite. James a segue com os olhos até entrar em sua casa perguntando-se quem realmente seria aquela menina, recatada, tímida, mas tão bonita.

A garota pareceu-lhe misteriosa como se houvesse algo dentro dela prestes a explodir. Seus olhos sorriam muito mais que seus lábios.

*******


"É pela paz que eu não quero seguir admitindo

Uma criança suja, esfarrapada, saracoteia em volta de TE aos gritos, animada feito noiva em dia de casamento. TE a observa com um leve sorriso sinistro.

- Vejo que sua mãe fez bom uso do dinheiro seu serelepe.

- Fez seu TE, com o dinheiro deu pra gente come por três dias.

- Que bom que tenham feito bom uso do dinheiro garoto, pois quero adverti-lo que não fora enviado por mim.

- Não? - Indaga assustadinho. - Então quem deu?

- Foi Marcelo Campanalli. Em poucas palavras: D2.

- É mesmo? - Indaga animado.

- Pois é claro. D2 está de volta as ruas e eu cuidarei humildemente de seus negócios. E como quero começar bem, vou lhe dar vinte contos de réis...

- Vinte o quê?

- Modo de dizer garoto - Responde, com um sorriso nervoso. - Para você espalhar a novidade por toda a boca do lixo o que me diz?

- Claro! O pessoal vai gostá de sabê que o D2 volto. Craro que a gente tamém gostava de você, mas o D2 era como se fosse nosso protetor, cê entende né? Pelo menos é o que minha mãe fala.

- Então diga a va... digo a sua respeitosa mãe que D2, o Santo protetor da boca do lixo, está de volta.

- Vou correndo seu TE, tchau.

- Até mais garoto... Infeliz - Encara Tico que até o momento estava camuflado em um pequeno esconderijo feito por uma parede falsa - Agora entende o que eu estava querendo lhe dizer Tico?

- Acha que a volta de D2 pode aumentar as vendas?

TE encara Tico de forma ressentida.

- D2 conquistou uma fama que eu por conta do meu bom senso não fiz questão de apagar. É como deixar de ir a uma lanchonete sem renome para lanchar na de renome. Muitos quererão usufruir da mercadoria de D2 porque D2 é uma pessoa boa que não apresenta riscos, como um amigo inocente que acaba te colocando em uma roubada sem querer.

- E só isso basta?

- Sinceramente não. - Levanta-se de sua poltrona vindo a mover-se de um lado para o outro. - Junto a esta novidade virá outra muito mais empolgante aos jovens estudantes e universitários...

- E o que é?

- Não me interrompa imbecil. É o mais novo produto em linha - Olha sinistramente para Tico. - "Questão X", e antes que me pergunte novamente o que é, lhe direi do que essa droga é capaz. - Toma uma postura de professor - Ela age diretamente no hemisfério cerebral responsável pela memória aumentando consideravelmente o poder das pessoas de se concentrar em textos os memorizando de forma ágil. Você será capaz de recordar-se de fatos que para muitos é quase impossível. É prima da cocaína, pois deixa o usuário "ligadão". Além de aumentar a frequência cardíaca, dá fortes dores de cabeça e muito raramente enjoos e tremedeiras. Mas já estão dando um jeito desses efeitos diminuírem.

- E ela mata?

TE ri entre dentes da pergunta de Tico.

- E o que você acha que as drogas fazem? Retardam o envelhecimento? É por isso que eu não uso essas porcarias.

- Mas e quando começarem a sentir os efeitos. Não pode ser prejudicial aos negócios?

- Ela vicia muito mais rápido que as outras. Dependência psicológica não existe com ela. Você se torna dependente físico em dias. Rápida não? Mas quem se importa? Ela é magnifica! E demora um certo tempo para começar a agir de um modo pejorativo no organismo. É Tico! O que eu posso fazer com esses tempos modernos, não posso nem pestanejar e olha o que acontece: surge um novo tipo de droga. É a vida.

- Era tudo que você precisava.

- Dois coelhos numa só tacada.

***C&J***


E então amigos leitores. O que estão achando da história até o momento? Deixe seus comentários sem medo e com sinceridade para o crescimento da autora a quem vos fala. Obrigada até aqui.

A autora.

Cris & Janis em Rock na VeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora