Capítulo 2

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Depois de entrar e sair de reuniões, descer e subir providenciando papéis e documentos e me empanturrar com croissant e rosquinha, encerramos tudo o que tinha pra resolver pela manhã.
Quando mamãe e o Alê foram almoçar estava sem fome então fui no café comprar um suco e fiquei na empresa revendo alguns contratos e parcerias que tínhamos acertado nas reuniões que tivemos.
Dei uma olhada nos contratos que precisavam ser renovados e percebi que o contrato do Editor Chefe de Design perderia a validade de renovação em dois dias. Se perdesse a validade ele poderia perder a vaga que ocupava. Uma das exigências da empresa é que o contratado mantenha o contrato e os documentos pessoais atualizados.
Como era horário de almoço a empresa estava com poucos funcionários mas mesmo assim fui ver se o encontrava.
A ala de Design se espalha por uma parte do 10º andar e vai até o 15º, não é bem uma "ala" mas a chamamos mesmo assim. A sala do Editor Chefe fica no 15º então apenas desci um andar.
Não sabia direito quem era o cara, nunca me bati com ele pela empresa e isso é um pouco estranho já que conheço a maioria funcionários, os principais por se assim dizer. De reunião em reunião acabamos conhecendo todos que têm cargos e responsabilidades aqui.
Saí do elevador e fui andando em direção a maior sala do andar. Todas as salas do 1º ao 15º andar tinham portas e paredes de vidro o que facilitava a visão de dentro da sala. A ideia que meu pai quis passar era a de transparência entre e com todos, e eu amo isso.

Ao chegar no meio do corredor meu coração apertou ao ver de longe o que se passava na sala do Babaca Chefe. Sim, babaca.

-EIIII! - gritei atraindo o olhar dele - O que pensa que está fazendo? - pergunto entrando na sala a passos largos.

Ele estava com uma garota, quando tive visão da sala vi ele derrubando uma pilha de papéis que estavam nas mãos da mesma e segurando forte seu braço. Pela expressão dele, ele estava com raiva, bem provável de estar xingando e falando mal da garota que tinha um olhar assustado e triste. Quando gritei ele soltou a garota e me olhou com mais raiva ainda. Babaca!

- Eu que te pergunto o que você está fazendo! Sabe quem eu sou pra está falando comigo assim?! - exclama com tanta raiva que achei que as veias do seu pescoço iriam explodir. Nesse meio tempo puxei a garota pra trás de mim como se fosse proteger ela de um tiro.

- Sei que é um babaca, isso eu sei! - falei erguendo o queixo.

- Não passa de uma mulherzinha, a única diferença entre você e a coitadinha atrás de você é que você é bonita e ela é gorda, tão gorda que não sei como o elevador aguenta - então era isso. Ele estava ofendendo ela quando cheguei aqui. Ouvi a garota atrás de mim soluçar baixo. Eu sabia o que ela sentia.

- E você? Sabe quem eu sou? - dando um passo a frente.

- Uma mulherzinha de programa? - fala colocando a mão na cintura, me olhando de cima a baixo soltando uma risadinha escrota. Imbecil!

- Resposta errada. Eu sou Louise Stewart, filha de Eloana Stewart e Antony Stewart, não sei se você reparou, mas a fachada da empresa tem meu sobrenome - digo sorrindo dando mais um passo em sua direção vendo-o ficar mais branco que um papel.

- Não... Mas... - tenta falar um pouco desnorteado.

- E sabe mais de uma coisa? - pergunto dando uma pausa encarando seus olhos arregalados - Você não trabalha mais aqui, está demitido, tem 1h pra retirar todos os seus pertences dessa sala e se apresentar a Sra. Eloana Stewart.

- Você não pode fazer isso... - fala convicto.

- Tanto posso como fiz! - dou meia volta, pego na mão da garota e saio de sua... Quero dizer, ex sala, indo pro elevador.

Subimos e entramos na sala da mamãe. Levei ela até o sofá fazendo-a sentar e fui em direção ao frigobar pegar um copo de água só então percebendo que minhas mãos estavam tremendo. Levei o copo com água até a garota e sentei do seu lado.

- Obrigada - a garota agradece baixo.

- Qual o seu nome?

- Lorrana Alexia.

- Você está bem? - pergunto e vejo seus olhos encherem-se de água.

- Estou... - responde e bebe um pouco de sua água.

- Olha... - me levanto - Não quero que chore por causa daquele babaca infeliz, ele não merece suas lágrimas. Eu sei que se sentiu ofendida pelo o que ele falou mas quero que esqueça tudo. O que ele falou é mentira. Você é linda. E ninguém tem o poder de falar alguma coisa que seja o oposto disso. Eu sei o que está sentindo. Quando eu era pequena não gostava de ir pra escola porque os garotos ficavam me chamando de bolinha. E eu ficava muito mal com isso mas não falava com meus pais nem com meu irmão. Até que meu pai percebeu e garantiu que eu era linda do jeito que era. E que os meninos que ficavam falando mim tinham inveja por não ter uma garota tão linda e gentil pra eles.

- Você era como eu? - me perguntou surpresa.

- Sim. Eu não gostava do meu corpo. Mas aprendi a gostar. Ninguém ia faze-lo por mim não é mesmo?!

Lorrana era mais baixa que eu e era fofinha. Tinha bochechas grandes e rosadas o que fazia ela ficar mais fofa. Tinha olhos verdes, cabelo ruivo e pequenas sardas espalhadas pela bochecha.

- Obrigada por ter feito aquilo por mim - sorriu e percebi que seu sorriso era lindo. Uma garota dessa devia sorrir por aí conquistando o mundo e não sendo pisada por um babaca qualquer.

- Só fiz o que era certo. Não suporto esse tipo de tratamento, principalmente vindo de homens.

Ficamos conversando um pouco e descobri que ela estava fazendo um teste de emprego pra ser secretária já que não tinha terminado a faculdade de administração ainda e tinha 23 anos.
Pouco tempo depois mamãe e Alê entram na sala sendo seguidos pelo babaca que eu tinha demitido. Ele estava segurando duas caixas uma em cima da outra e me olhava com ódio.

- Lou, o que aconteceu? - Alê me puxa para o canto da sala e pergunta.

- Prefiro que assista as gravações da câmera da sala do imbecil - respondo e volto sentando ao lado de Lorrana cruzando as pernas.

Depois de olhar as gravações da câmera, Alê olha para o babaca com raiva querendo avançar nele mas sendo impedido por mamãe.

- Está demitido! - mamãe declara seca.

- Mas eu já pedi desculpa! - o babaca diz desespero.

- Pediu desculpa pra quem? - pergunto sem conter a língua na boca fazendo-o olhar pra mim e depois pra Lorrana.

- Saia da minha empresa antes que eu chame os seguranças - mamãe se levanta apoiando as mãos na mesa - E não volte nunca mais aqui ou serei obrigada a tomar providências drásticas. 

Mano, eu amo minha mãe!

No final das contas tudo foi resolvido e voltado pra seu devido lugar. Só que com a demissão do babaca, tínhamos criado um buraco, estávamos sem Editor Chefe, ou seja, a ala de Desing estava uma confusão.
Encerramos uma das reuniões que faltavam e nesse meio tempo entre uma e outra, ficamos procurando uma pessoa pra substituir o babaca urgentemente.

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(Foto de Lorrana Alexia na mídia)

Quando o amor bate à sua portaOnde histórias criam vida. Descubra agora