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[...] "Acabei
fechando os olhos
para nós
no que me pareceu
ser a alternativa
menos dolorosa" [...]

T Ó Q U I O

Todos estão em algum lugar deste prédio luxuoso, os sete, acomodados confortavelmente em quartos similares, entretanto, nenhum se encontra na mesma situação que eu.

Em meus joelhos, o peso das responsabilidades arde sobre meus ombros, os machucados parecem não cicatrizar, e, cada dia longe de você é como remexer em feridas abertas. Afinal, já leu aquela maldita carta? Foi estupidez minha escrevê-la. Idiota.

Tropeço nos calçados jogados no pé da cama, caminhando trôpego até o mini bar em busca de mais álcool. O hotel cinco estrelas oferece bons serviços, boa vista, e anonimato em plena capital japonesa. Conveniente quando tudo que desejo é sumir, seja por um instante.

Camuflado por concreto e vidro, é reconfortante estar isolado, mesmo que isso não amenize em nada os pensamentos perturbadores que drenam minha energia. Nós jamais poderemos ficar juntos, e o que temos não é mais suficiente para mim, Jungkook. Eu não aguento mais.

Mais cedo, naquele avião, parecíamos ambos perdidos na pálida imensidão azul. Observando-a tornar-se gradativamente alaranjada em um exímio pôr do sol invernal, senti o calor deitar em minhas bochechas com a quentura de um carinho. À noite, você esteve nas lágrimas que derramei, nas melodias que ouvi, no ritmo de minha dança... sempre , nunca aqui.

Estou frágil, cansado.

Lidar com esses sentimentos, quando todos dizem que é errado, é exaustivo. É errado desejar tanto assim o seu amor?

Sei como é deprimente morar em expectativas inertes, em possibilidades incertas... repousar sobre uma felicidade que tarda a chegar. Eu quero ser feliz, Jungkook... com você. Minha mente embriagada fantasia sua figura entrando por essa maldita porta, arrancando o uísque de minhas mãos, prosseguindo, ao fazer tudo aquilo que não nos é permitido.

Amar você é um fardo.

Ouço alguém bater na porta, meu cérebro estando demasiadamente narcotizado para raciocinar. Quando as batidas ficam mais imperativas, grito em um ímpeto: "Me deixa em paz, porra!"

Imediatamente, considero a chance de ser um funcionário, tal probabilidade deixando-me ainda pior. Desculpo-me em voz baixa, choramingando incoerências a mim mesmo.

As batidas cessam após minutos que não me permito contar. Elas pareceram distantes aos tímpanos, abafadas, enquanto encarava o teto insosso, remoendo decisões erradas, impulsivas, perguntando-me aquilo que jamais conseguirei responder. Você está tão perto, então, por que o sinto inalcançável?

Minhas pálpebras pesam e sem me importar em retirar as roupas de mais cedo, adormeço. Talvez eu o encontre em meus sonhos essa noite, antes de nos encararmos no café da manhã; talvez eu decida dormir até mais tarde, mesmo consciente de que não posso postergar tal momento para sempre.

A ideia da carta fode minha cabeça diariamente, mesmo que eu tente bloqueá-la. Tic tac, o tempo corre.

Jungkook-ah, peço que me perdoe, não quero que me veja neste estado. Você detém o melhor de mim, então, por favor, não me deixe ser engolido completamente por isso. Só preciso de um tempo sozinho.

Você atenderia minha ligação se eu dissesse que estou desabando?


29/09/19

TACENDA | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora