Eles chegaram bem antes de eu ser um pensamento de um jovem casal, um único ser pousou em um dia chuvoso bem no centro da primeira colônia, e virou uma atração imediata.
Embora duas gerações tenham sido geradas nas naves que trouxeram os humanos para este novo planeta, ninguém, jamais, tinha visto um Ser de outra raça que não existisse na antiga Terra.
Aquela criatura esguia seria tratada como um rei, apesar dos protestos, assumiria um lugar de destaque no governo atual, aprenderia rapidamente a maioria das línguas que trouxemos.
Do dia para noite, milhares andavam pelas ruas, dividindo os espaços do planeta com os humanos. Mas tudo mudou quando uma criança saiu para brincar e nunca mais foi encontrada, depois dela, todos os dias crianças eram tomadas dos braços de seus pais, por garras selvagens.
Eles precisavam se alimentar e nós estávamos no caminho.
*
Desde que me lembro sei quando um deles está próximo, sei me encolher nos cantos e parar de respirar, sei as dosagens de drogas que me fazem parecer morto, e principalmente sei onde devo atirar quando um deles vier em minha direção.
Hoje eu tenho idade o bastante para não ser mais interessante, meu corpo é grande demais para que consigam me engolir por inteiro, meu pescoço é rígido demais para quebrarem em uma única tentativa, mas a Sofia é perfeita.
Tão perfeita, que meus pais semanas inteiras vigiando as entradas porque se um deles a vir, vão arrancar cada pedaço das paredes em busca dela, e ficarão surpresos em descobrir uma variedade absurda de opções, nas vizinhanças.
Quando tudo veio à tona, nós cavamos, o mais fundo que pudemos, porque Eles não gostam do escuro, do frio, e nem tocariam o solo arenoso. Somos minhocas, que nunca viram o Sol, vivendo em castelos de areia tão sensíveis que podem não existir na manhã seguinte.
Á noite organizamos escoltas e grupos de saqueadores, a comida vem se tornando muito valiosa, famílias inteiras já enlouqueceram o bastante para encher seus estômagos com areia. Depois de alguns casos como esses, decidimos que o melhor a se fazer era organizar buscas constantes de suprimentos.
Por isso precisamos de pessoas rápidas e estupidas o bastante para se arriscarem lá fora, e o melhor que tínhamos eram adolescentes, criados para odiar e matar qualquer ser diferente dos humanos.
Tivemos que levar Sofia, os adultos diminuíam a cada semana, e a quantidade de crianças aumentava. Então lá estava eu tapando a boca de uma garotinha, para que ela não acordasse nenhum Deles no caminho.
O alvo da noite era um barracão no extremo leste, esvaziamos os galpões mais próximos por semanas, sempre mantendo o mantendo o total silêncio, e evitando deixar rastros.
Eles dormiam profundamente assim que a luz desaparecia, caiam em qualquer lugar, como se sua energia acabasse, um barulho exagerado acordaria grupos próximos, e haviam corpos por todo lado, um verdadeiro campo cheio de alarmes, meus pais chamariam de "campo minado", nunca entendi o conceito, mas parecia perigoso.
*
Teríamos cinco horas para a coleta, os atrasados seriam considerados mortos. Uma bolsa e uma faca para cada um, deveríamos carregar o máximo de objetos possíveis, quando se está vários palmos da superfície, até um garfo velho pode ser útil.
Como era a primeira expedição da Sofia fiz ela me acompanhar de perto, perderíamos algum tempo, mas precisava pensar na segurança dela. Saímos dos túneis e caminhamos vários metros até encontrar um deles, dormindo profundamente. Logo os números se multiplicaram e a travessia ficou mais lenta.
O galpão era velho, tão velho que as travas tinham sido corroídas pelo tempo, foi facilmente arrombado. Nos espalhamos pelo lugar, a maioria estendendo os braços freneticamente para as prateleiras. Preferi olhar mais à frente, poderíamos achar algo interessante.
Não contávamos com luz nenhuma, mas estávamos acostumados com alguns anos de escuridão, andávamos com os braços estendidos, e tentando reconhecer objetos na penumbra. Foi a Sofia que o sentiu primeiro:
- Irmão, tem algo aqui – ela puxou meu braço – É de metal.
Tentei alcançar o ponto que ela encontrou, tentamos arrastar aquela barra de metal, mas era tudo muito pesado, então continuamos em frente até que eu senti outra parte de metal, era um objeto enorme, poderia ser qualquer coisa, mas não conseguiríamos carregar.
- Vamos procurar outras coisas – puxei-a pelo ombro e fomos para um doscantos
*
Em uma hora nossas mochilas estavam cheias. Caminhamos até as pedras em frente ao galpão, que marcava o ponto de encontro, mas não encontramos ninguém, tentei distinguir algum movimento humano, enquanto caminhava um holofote foi aceso.
O clarão me deixou desnorteado por alguns segundos, às minhas costas Sofia começou a gritar, quando me virei vi os corpos dos que nos acompanhavam estavam jogados nas pedras mais altas, as cabeças dilaceradas. Eles estavam acordados.
Vimos sombras se aproximarem, e corremos.
Corremos na direção dos túneis, tropeçando nos adormecidos, e ouvindo barulhos grotescos atrás de nós. Com o passar dos anos eles não se importavam mais com a aparência civilizada, eram animais ferozes atrás da caça, foram se esquecendo das várias línguas que aprenderam, tomados pela selvageria.
Essa selvageria tinha destruído quase toda a população humana, e logo procuraria o próximo planeta, e suas próximas vítimas.
Conseguimos descer pela entrada, ouvindo os passos acima, e os gritos dos que se queimavam na areia. Sofia tinha ficado em silêncio por todo caminho, mesmo depois de estarmos em segurança ela ainda olhava para entrada.
De manhã, depois de esvaziamos as mochilas, por sorte trazendo um estoque generoso de comida, ela finalmente falou:
- Eu vi... – sua voz falhou, cheguei a pensar que ela começaria a chorar – Aquele metal todo, era uma das naves... Era uma das naves Deles.
Finalmente tínhamos uma chance de sair daqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Invasores
Science FictionNo outro mundo quem são eles, quem são aquelas coisas que vieram para a nossa morada, destruíram o nosso lar e pensam que tudo é seu por direito? A minha vida foi destruída, eu não tinha ideia do que poderia acontecer comigo ou qualquer um que ficas...