Nunca tivemos um dia completo, não observamos as estrelas, nem podemos apreciar o anoitecer, o Sol pisca no horizonte, estamos todos contra nossa vontade no chão.
As criaturas nos chamam de "eles", mas na nossa terra natal tínhamos outros nomes, cada um vivia em paz no seu canto, não existia guerra, nem dor, só os quentes dias que duravam 23 horas.
Eu estava prestes a escolher a minha família, tinha um lugar para ficar, um canteiro para cultivar insetos e aves, tudo estava bem, até que o comandante apareceu com duas criaturas, eles vestiam roupas engraçadas e gritavam muito.
O comandante cortou a garganta dos dois, e ofereceu o líquido para a vila, foram segundos até que todos estivessem contaminados. A fome, diziam as ancestrais, uma doença que se espalhava pelo planeta inteiro, precisávamos de mais humanos, mais carne, mais bebida vermelha, antes que começássemos a matar os vizinhos.
Viagens foram organizadas, um comércio inteiro focado na distribuição de pedaços de criaturas, não demorou muito para precisarmos sair do planeta, a cada parada tínhamos uma nova leva de criaturas, nos mais diversos tamanhos, eles tinham cores e cheiros diferentes, também gritavam com intensidade diferente.
Não demorou muito para sentirmos falta das raízes, de uma vida pacata com ciclo normal, envelhecer duplicar e deixar de existir, era nosso belo final arquitetado pelo solo. As viagens faziam todos quererem existir mais, elas me faziam querer de deixar existir a cada dia.
Os rituais de matança deixaram muitos doentes, em cada planeta um louco era deixado para trás, alguém que tinha cortado os próprios filhos, comido as garras devido à abstinência, ou feito algumas criaturas de bichinhos de estimação.
Um a menos significava muito para um exército, perdemos mais da metade dos habilitados para invasões, e quase todos que estavam ali por pura obrigação social.
*
A colônia de Euryante foi a salvação para muitos de nós, e foi a minha danação pessoal. Tantos humanos, era impossível respirar sem se desesperar, toda aquela carne andando e falando como aquele asteroide seco era um ótimo lugar.
O comandante queria que esperássemos o máximo, que eles confiassem sua família a nossos cuidados, foi um desastre total, as invasões começaram antes que qualquer um pudesse considerar aquele lugar seguro, cortamos gargantas e eles fugiram.
Agora estamos quase extintos.
Nenhum deles se aproxima, nem com nossas luzes artificiais podemos segui-los por muito tempo, o metabolismo nos derruba assim que a luz desaparece, estamos cada vez mais fracos, e eles estão crescendo no escuro, tomando as armas antigas e planejando um ataque.
O comandante diz que estamos seguros e nenhum humano seria capaz de levantar um dedo, mas nós estamos com medo, quando o Sol desaparece o medo grita nos nossos ouvidos.
Tantos anos caçando, ser caçado torna tudo mais difícil, não podemos nos esconder nos lugares pequenos que eles construíram, não podemos nos defender apagados no chão.
Acordar é um pesadelo desesperador, seus amigos morrendo ao seu lado, sua cor desaparecendo e a poça negra saindo do focinho, aquela visão mórbida de uma família em volta da luz, nenhum deles se mexe, estão molengas, os olhos abertos, não conseguimos nos defender nem na luz.
O que faremos no escuro, quando cair no meio do caminho das criaturas, que tem nome humano, o que podemos fazer quando eles apagarem nossa mente no meio de um sono profundo?
Precisamos ir, mesmo que o comandante descorde, é a melhor saída, deixar eles em paz, e voltar a comer insetos em um planeta mais quente, onde cresçam flores escuras, e não as sem vida que brotam aqui.
Só queria a minha casa de volta.
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Invasores
Science FictionNo outro mundo quem são eles, quem são aquelas coisas que vieram para a nossa morada, destruíram o nosso lar e pensam que tudo é seu por direito? A minha vida foi destruída, eu não tinha ideia do que poderia acontecer comigo ou qualquer um que ficas...