Haumea

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Estava escuro quando me puxaram do lençol, eu tentava abri os meus olhos enquanto vozes gritavam sem parar, algo sobre uma nave, sobre os suprimentos que vem a cada 10 anos.

- Alguém precisa ir lá fora, e contar o que está acontecendo – uma voz feminina gritou – Da ultima vez eles conseguiram cancelar a entrega vinda de Haumea, porque trazer agora?

- Porque eles estão com fome – bocejei – já que eles não conseguem nos pegar, vão pegar o grupo dos suprimentos.

Todos olharam para mim, um garoto sonambulo e com a cara toda amassada, não passava nenhum semblante de respeito, mas se ia salvar um bando de desconhecidos precisava palpitar em algo.

- Não faz sentido, eles parariam de trazer suprimentos e...

- Nós saíriamos cada vez mais dos buracos – disse – seria uma questão de tempo até começarmos a enlouquecer.

O ar ficou pesado, agora que conseguia me concentrar vi os liderem das regiões no entorno, eles estavam desesperados, se eu falhasse ia morrer e levar todos junto.

- Você precisa ser melhor que o seu pai, dependemos de você – o chefe do norte colocou a mão no meu ombro – você tem 8 horas até o amanhecer.

Parece loucura, mas eles realmente acreditaram no ultimo corredor que tentou interceptar a nave de suprimentos, o jovem era bem mais alto e tinha ganhado uma medalha na Terra, ele era meu pai.

Eu tinha 10 anos quando o mandaram para uma missão suicida, o objetivo era chegar na nave antes deles falarem com alguém, a nave nunca veio, eles encontraram meu pai e deixaram a cabeça dele na entrada de um dos tuneis, era um aviso para pararmos de tentar.

Cresci correndo nos montes de areia, "treinamento para o futuro" eles disseram, era um treinamento para morte, eu era um mensageiro suicida que precisava avisar os otários da Terra que tinha algo de errado por aqui. Sinceramente se eles se importassem tanto já teriam vindo bem antes...

*

Vesti as roupas o mais rápido que pude, levaria uma carta, e água quase toda a água da região sudeste, não era seguro beber nada lá fora, as fontes e rios perto da cidade estavam envenenadas.

Ninguém veio para acompanhar minha partida, estavam todos juntos e tremendo quando passei pelos túneis centrais, era como observar vermes se agarrando para sobreviver. Fui em frente, e subi pelo túnel mais próximo da cidade, o ar estava seco e gelado, comecei a dar pequenos pulos para aquecer o corpo, poderia correr até duas horas sem parar, precisava de cada segundo de vantagem, então fui.

Cruzei os muros baixos que os primeiros de nós construímos e corri, observando se haveriam corpos no entorno. Alcancei a cidade com o tempo escuro, lá não conseguiria correr, eram muitos corpos pelo caminho. Esses caras deveriam ter um galpão para dormir, ao invés de se jogar no chão.

A plataforma das naves ficava do outro lado da cidade, perto do parque, uma hora correndo em linha reta, desviando de corpos talvez demorasse o dia todo.

Ouvi um resmungo, e fui para um beco pulando os corpos, o barulho ficou mais alto, e foi se aproximando. A nave estava chegando, provavelmente rompendo o escudo de proteção que mantinha o oxigênio no planeta.

Corri pelo beco tentando acompanhar o som, poderia estar a quilômetros de distância. Consultei o céu, uma penumbra começava a se erguer, acelerei o passo pulando e tentando evitar acordar um deles.

*

A nave pousou alguns metros a frente, ficou lá parada enquanto o sol se erguia e eles se erguiam junto. Os repteis andavam confusos até o gigante de metal, eu estava dentro de um balde de lixo, torcendo para que não sentissem o meu cheiro, não por enquanto.

A comandante da nave saiu, era uma senhora de uns 60 anos, ela saudou a multidão:

- Bom dia senhores, um suporte de suprimentos foi solicitado pelo planeta, gostaria de conversar com seus representantes.

Grunhidos vieram em resposta, eles pareciam não entender mais os idiomas humanos. Eu estremeci quando vi o Comandante cruzar a multidão e falou com a mulher, que parecia ficar mais desconfortável a cada segundo.

Era o meu momento.

- Bom dia senhora! – gritei com o meu melhor sotaque francês – Viagem longa?

Todos os grunhidos se viraram para mim. Aquele teatro não podia durar por muito tempo.

- Como eu lhe disse Comandante Raubaunt, os que sobreviveram a epidemia são poucos, e este é um dos representantes humanos.

- Olá jovem, gostaria que me mostrasse onde posso deixar as caixas – ela ignorou o Comandante e me convidou para embarcar na nave.

- Eu posso mostrar, guiarei de forma mais rápida que...

- Vamos jovem – ela seguiu na minha direção estendendo o braço

Antes que pudesse me tocar ela caiu morta, o sangue abrindo um poça no chão.

Os grunhidos descontrolados aumentaram com o cheiro de sangue, o Comandante me agarrou pelo pé antes que eu pudesse correr, e fez a multidão parar.

- Olhem o pequeno filhote, pensou que conseguiriam salvar os amigos – ele sibilou em discórdia – hoje teremos um banquete!

Eles invadiram a nave e mataram os outros tripulantes que estavam escondidos tremendo. Me fizeram ascender cada uma das caixas com suprimentos.

Eu sobrevivi para mandar um recado maior.

Eles declararam uma guerra.

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